O evangelho, Jo 11, 45-56, traz a
parte final do longo relato da ressurreição de Lázaro em Betânia, na casa de
Marta e Maria (João 11,1-56). A ressurreição de Lázaro é o sétimo milagre de
Jesus no evangelho de João e é também o ponto alto e decisivo da revelação que
ele vinha fazendo de Deus e de si mesmo.
A pequena comunidade de Betânia,
onde Jesus gostava de hospedar-se, reflete a situação e o estilo de vida das
pequenas comunidades do Discípulo Amado no fim do primeiro século lá na Ásia
Menor. Betânia quer dizer “Casa dos pobres”. Eram comunidades pobres de gente
pobre. Marta quer dizer “Senhora” (coordenadora): uma mulher coordenava a
comunidade. Lázaro significa “Deus ajuda”: a comunidade pobre esperava tudo de
Deus. Maria significa “amada de Javé”: era a discípula amada, imagem da
comunidade. O episódio da ressurreição de Lázaro comunicava esta certeza: Jesus
traz vida para a comunidade dos pobres. Jesus é fonte de vida para todos que
nele acreditam.
Depois da ressurreição de Lázaro
(Jo 11,1-44), vem a descrição da repercussão deste sinal no meio do povo. O
povo estava dividido. Muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram
o que Jesus fez, acreditaram nele. Mas outros foram ao encontro dos fariseus e
contaram o que Jesus tinha feito. Estes últimos fizeram a denúncia. Para poder
entender esta reação negativa de uma parte do povo é preciso levar em conta que
a metade da população de Jerusalém dependia em tudo do Templo para poder viver
e sobreviver. Por isso, dificilmente eles iriam apoiar um desconhecido profeta
da Galiléia que criticava o Templo e as autoridades. Isto também explica como
alguns se prestavam para ser informantes das autoridades.
A notícia da ressurreição de Lázaro
fez crescer a popularidade de Jesus. Por isso, os líderes religiosos convocam o
conselho, o sinédrio, a autoridade máxima, para discernir o que fazer. Assim, a
partir deste momento, os líderes, preocupados com o crescimento da liderança de
Jesus e motivados pelo medo dos romanos, decidem matar Jesus.
O resultado final é que Jesus tinha
que viver como clandestino. “Ele não andava mais em público entre os judeus.
Retirou-se para uma região perto do deserto. Foi para uma cidade chamada
Efraim, onde ficou com seus discípulos”. A páscoa estava próxima. Nessa época
do ano, a população de Jerusalém triplicava por causa do grande número de
peregrinos e romeiros. A conversa de todos era em torno de Jesus: Que é que
vocês acham? Será que ele não vem para a festa? Da mesma maneira, na época em
que foi escrito o evangelho, no fim do primeiro século, época da perseguição do
imperador Domiciano (81 a 96), as comunidades cristãs que traziam a vida para
os outros se viam obrigadas a viver na clandestinidade.
Lázaro estava doente. As irmãs
Marta e Maria mandaram chamar Jesus: Aquele a quem amas está doente! (Jo
11,3.5). Jesus atende ao pedido e explica aos discípulos: Essa doença não é
mortal, mas é para a glória de Deus, para que por nela seja glorificado o Filho
de Deus! (Jo 11,4) No evangelho de João, a glorificação de Jesus acontece
através da sua morte (Jo 12,23; 17,1). Uma das causas da sua condenação à morte
vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Muitos judeus estavam na
casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os judeus,
representantes da Antiga Aliança, só sabem consolar. Não trazem vida nova..
Jesus é que vai trazer vida nova! Assim, de um lado, a ameaça de morte contra
Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! É neste contexto de conflito
entre vida e morte, que se realiza o sétimo sinal da ressurreição de Lázaro.
Marta diz que crê na ressurreição.
Os fariseus e a maioria do povo também acreditavam na Ressurreição.
Acreditavam, mas não a revelavam. Era apenas fé na ressurreição no fim dos
tempos e não na ressurreição presente na história, aqui e agora. Esta fé antiga
não renovava a vida. Pois não basta crer na ressurreição que vai acontecer no
final dos tempos, mas tem que crer que a Ressurreição já está presente aqui e
agora na pessoa de Jesus e naqueles que acreditam em Jesus. Sobre estes a morte
já não tem mais nenhum poder, porque Jesus é a ressurreição e a vida. Mesmo sem
ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, Marta confessa a sua fé: Eu
creio que tu és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo (Jo 11,27).
Jesus manda tirar a pedra. Marta
reage: Senhor, já cheira mal! É o quarto dia! (Jo 11,39). Novamente, Jesus a
desafia apelando para a fé na ressurreição, aqui e agora, como um sinal da
glória de Deus: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus? (Jo
11,40). Retiraram a pedra. Diante do sepulcro aberto e diante da incredulidade
das pessoas, Jesus se dirige ao Pai. Na sua prece, primeiro, faz ação de
graças: “Pai, dou-te graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me
ouves! (Jo 11,41-42). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um
sinal por causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que ele,
Jesus, é o enviado do Pai. Em seguida, ele grita em alta voz, grito criador:
Lázaro, vem para fora! E Lázaro veio para fora (Jo 11,43-44). É o triunfo da
vida sobre a morte, da fé sobre a incredulidade! Meu irmão, a mim e ti cabe
retirar a pedra! E aí Deus ressuscita a tua vida, os meus e os teus e toda a
comunidade. Tem gente que não quer tirar a pedra, e por isso a comunidade deles
não tem vida!
O que significa para mim, bem
concretamente, crer na ressurreição? Parte do povo aceitava Jesus, parte não
aceitava. Hoje, parte do povo aceita a renovação da igreja, e parte não aceita.
E eu?
Pai, ajuda-me a compreender, sempre
mais profundamente, o caminho para encontrar-me contigo, que Jesus nos ensinou.
Livra-me, também, do apego aos esquemas já superados.
Pe. Bantu