Tende coragem! Eu venci o mundo
Quando Jesus se despediu dos
Apóstolos, no final da Última Ceia, já caminhando para a Paixão,
fez entrar em seus corações uma lufada de confiança: "Como o Pai me ama, assim também eu vos amo.
Permanecei no meu amor [...]. Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja
em vós, e a vossa alegria seja completa" (Jo 15,9.11).
Ao mesmo tempo, mostrou-lhes que a alegria cristã não é o regozijo
ruidoso e oco do mundo, que se acende como um palito de fósforo e se apaga logo
depois. Um filho de Deus sabe manter-se sereno e feliz, mesmo em meio às mais duras
contradições.
Neste sentido, Jesus
anunciou, com toda a clareza, aos apóstolos e aos que iam lhes suceder o que
deveriam esperar em todos os tempos, até ao fim do mundo: "Se o mundo
vos odeia, sabei que primeiro me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo vos
amaria como ama o que é seu; mas, porque não sois do mundo, e porque eu vos
escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos odeia" (Jo 15,18-19).
E acrescentou, pouco
depois: "Eu vos disse
estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo tereis
aflições. Mas, tende coragem! Eu venci o mundo" (Jo 16,33). Os católicos fiéis,
que conservam uma consciência sensível, não precisam fazer nenhum esforço para
entender que hoje – nestes tempos de agressividade deliberada e escancarada
contra a Igreja e o Papa – essas palavras de Cristo são de uma plena
atualidade.
Pois bem. No
dia 29 de junho de 2009, o Papa Bento XVI pronunciou algumas palavras de
serena coragem e esperança, que são como um eco das palavras de Jesus na Santa
Ceia, que acabamos de citar. Foi na homilia de encerramento do Ano Paulino, na
Basílica de São Paulo Extramuros. Uma homilia rica de conteúdo, na qual, entre
outras coisas, lemos as seguintes considerações:
«No capítulo quarto
da Carta aos Efésios, o apóstolo Paulo nos diz que, unidos a Cristo, devemos
alcançar a idade adulta, uma humanidade madura [cf. Ef 4, 12-15]. Não podemos
continuar a ser “crianças, entregues ao sabor das ondas e levados por todo
vento de doutrina” (4,14). Paulo deseja que tenhamos uma fé“responsável”, uma
fé “adulta”.
«A
palavra “fé adulta”, nos últimos decênios, transformou-se num chavão muito
difundido. Com frequência é entendida como a atitude daquele que não escuta a
Igreja e os seus pastores, mas escolhe de forma autônoma o que quer crer e não
crer, isto é, uma fé “feita por cada um à sua medida”. Isso é interpretado como
“coragem”, a coragem de manifestar-se contra o Magistério da Igreja.
«Na realidade, para isso não é preciso coragem nenhuma, porque quem o
faz pode ter a certeza de que, por ser contestador, vai receber o aplauso
público. Pelo contrário, é necessária coragem para unirmo-nos à fé da Igreja,
especialmente quando essa fé contradiz o“esquema” do mundo contemporâneo. A essa falta de conformismo da nossa fé, Paulo a
chama “fé adulta”. Pelo contrário, qualifica como infantil o fato e correr
atrás dos ventos e das correntes do tempo presente.
«Assim, por exemplo, faz parte dessa fé adulta comprometer-se com a
inviolabilidade da vida humana desde o primeiro momento da sua concepção,
opondo-se com isso de forma radical ao princípio da violência, precisamente na
defesa das criaturas humanas mais vulneráveis. Faz parte da fé adulta
reconhecero matrimônio entre um homem e uma mulher para a vida toda como algo
ordenado pelo Criador e restabelecido novamente por Cristo. A fé adulta não se deixa
arrastar, de um lado para outro, por qualquer corrente. Opõe-se aos ventos da
moda. Sabe que esses ventos não são o sopro do Espírito Santo; sabe que o
Espírito de Deus se expressa e se manifesta na comunhão com Jesus Cristo […]».
Padre Francisco Faus