Seja extirpada a mentira do coração
e da fala!
Da Igreja se diz que sempre pode
ser reformada e renovada. Verdadeiras transformações são realizadas em seu
seio, muito mais pela santidade de seus filhos do que por eventuais projetos de
transformação, ainda que estes sejam necessários, na justa medida e no realismo
de seus encaminhamentos. A santidade presente na Igreja é prova de que nela
habita seu esposo, que a amou e se entregou por ela, para torná-la santa e
perfeita.
À santidade que é dom descido do Céu, pela ação do Espírito
Santificador, derramado abundantemente em todas as épocas da história, deve
corresponder o esforço humano, que se expressa na prática da virtude em todos
os seus membros.
O povo de Deus recebeu, por
intermédio de Moisés, a perfeição da lei (cf. Ex 20, 1-17ss). Um santo orgulho
era cultivado por todos, por saberem ter, no decálogo, o que existe de melhor
para toda a humanidade. No entanto, muitas vezes aqueles que tinham sido
escolhidos com tamanha gratuidade e generosidade se tornaram um povo de cabeça
dura, infiéis aos preceitos do Senhor, profanando a santidade com a qual tinham
sido escolhidos. A este povo foram enviados continuamente os profetas, que
anunciavam a misericórdia e o perdão e, ao mesmo tempo, denunciavam as falhas
das sucessivas gerações. Nem sempre foram bem acolhidos, alguns morreram
testemunhas da verdade, mas todos eles, quando verdadeiros profetas, iluminaram
com sabedoria a prática religiosa.
Profeta é aquele que fala diante
dos outros com clareza, ou aquele que põe à disposição de Deus a sua fala, para
que o Senhor se dirija ao povo.
Jesus, que é profeta e mais do que profeta,
encontra pecadores e os perdoa, acolhe publicanos e prostitutas, cura as
doenças do corpo e da alma. Seus gestos proféticos, como a purificação do
templo (cf. Jo 2, 13-15), expressam o zelo amoroso e forte de Deus que O devora
por dentro. O verdadeiro Templo, edificado por Deus e reedificado após a morte
redentora em três dias, na ressurreição, é o próprio Cristo. Está agora
presente em toda parte. Seu amor salvador é destinado a todos os homens e
mulheres de todos os tempos. Dali para frente, Jesus atrai todas as gerações. O
ponto de chegada, Nova Jerusalém, abre-se como espaço acolhedor, casa de oração
para todos os povos, abraço amigo em que, começando dos mais distantes, todos
podem ser recebidos.
Templo a ser purificado são também
os corações e os corpos de todos os homens e mulheres que professam a fé.
Deixando o Senhor entrar em suas casas e em suas almas, proclamem um tempo de
conversão, deixem-se tocar pela palavra da penitência e se voltem de novo para
Deus. Ressoe o pregão quaresmal incansavelmente em nossas ruas e casas!
Nossa geração precisa também ser
purificada e acolher o convite a uma renovação de vida. O “chicote” da verdade,
que fere e cura a ferida, é-nos de novo oferecido como dom. Quem se submete à
Palavra de Deus entenderá a dureza da palavra da verdade, que ao mesmo tempo
cauteriza todos os machucados. Caia o orgulho de Babel, terra da confusão,
desmorone-se a grande Babilônia, cidade que quer se edificar sem Deus! Caiam e
renasçam renovadas e purificadas as estruturas humanas construídas sobre os
fundamentos do egoísmo. Sejam expulsos dos pátios dos templos e dos espaços
abertos nos corações os negócios ilícitos. Seja extirpada a mentira do coração
e da fala! A profanação do sagrado seja superada e a vida dos cristãos seja o
desagravo por todo o desrespeito reinante. O descaso pela vida seja curado, a
saúde se difunda sobre a terra!
Para chegar lá, a purificação dos
templos e dos corações ilumine os passos de todos os cristãos, para que eles
sejam fermento de novos valores nas estruturas do mundo. Superando o denuncismo
fácil, sejam construtores e companheiros de tantas pessoas de boa vontade, para
edificar juntos as desejadas estruturas diferentes na sociedade. Sejam eles
próprios homens e mulheres de tamanha capacidade de relacionamento, que
arrebanhem, mesmo no silêncio, multidões de pessoas.
“Ó Deus,
fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a
esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa
fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos
confortados pela vossa misericórdia”
Dom Alberto Taveira Corrêa