Muitas vezes, somos levados a
pensar que a santidade requer grandes feitos
Iniciamos outubro, Mês das Missões,
com a Padroeira das Missões, Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face.
Desde criança ela sempre quis viver a santidade, e no Mosteiro teve o coração
dilatado para abraçar o mundo e sentir a vocação de ser o Amor, que tudo resume
na missão evangelizadora da Igreja. Para isso, ela percorreu o caminho de saber
viver bem as pequenas coisas de cada dia.
Toda a vida de Santa Teresinha do
Menino Jesus nos leva a trilhar os caminhos da simplicidade e do abandono
espiritual nas mãos de nosso querido e amado Pai.
Ela descobriu, desde cedo, que não
há outro caminho para a transformação do homem a não ser aquele trazido pela
revelação de Jesus. Deixar de lado os sonhos de onipotência, reconhecer a
impotência da salvação pelos meios humanos, ficar ciente de nossa miséria e
fragilidade e entregar-se confiada e de modo incondicional nas mãos poderosas e
ternas de nosso querido e amado Pai. Este é o caminho da simplicidade, a
chamada pequena via de salvação.
Neste tempo em que grandes
conglomerados querem dominar o mundo, numa situação na qual aparentemente o
poder está muito presente e dentro da vida das pessoas, olhar para Santa
Teresinha e contemplar a sua felicidade na simplicidade é redescobrir a vida
cristã, que supõe a nossa fidelidade a cada dia aos mandamentos do Senhor.
Muitas vezes, somos levados a
pensar que a santidade requer grandes feitos, feitos heroicos (que também
existem e são importantes), mas, Jesus nos ensina nos Evangelhos que para
entrarmos no Reino dos céus, e mesmo para conseguirmos desempenhar os grandes
feitos, devemos voltar a viver como crianças, ou seja, reviver a criança que
existe em cada ser humano.
Lemos no livro autobiográfico de
Teresinha do Menino Jesus o seguinte: “Compreendo, perfeitamente, que só o amor
nos pode tornar agradáveis ao Bom Deus, sendo este o único bem que ambiciono.
Jesus se compraz em apontar-me o único caminho que conduz a essa fornalha
divina. O caminho é o abandono da criancinha que adormece sem temor nos braços
de seu pai... ‘Todo aquele que é pequenino, venha a mim’, disse o Espírito
Santo por boca de Salomão, e o mesmo Espírito de Amor declarou ainda que ‘com
os pequeninos se usará de comiseração’. Em seu nome, revela-nos o profeta
Isaías que, no último dia, ‘o Senhor conduzirá seu rebanho às pastagens,
reunirá os cordeirinhos e os aconchegará contra o peito’. E como se todas estas
promessas não bastassem, o mesmo profeta, cujo olhar inspirado já se embebia
nas profundezas da eternidade, apregoa em nome do Senhor: ‘Como uma mãe
acarinha seu filhinho, assim vos consolarei, carregar-vos-ei ao peito,
acariciar-vos-ei no regaço’” (História de uma alma – Edições Paulinas – 9ª.
Edição – pag. 194/195).
Com efeito, uma criança é um ser
impotente e quando se sente ameaçada por um perigo iminente corre e se abriga
no regaço de sua mãe, de seu pai, e aí encontra segurança, amparo,
tranquilidade e paz.
O que é, pois, o caminho do
abandono? Abandonar-se é o que ensina Santa Teresinha do Menino Jesus:
sentir-se pequeno como uma criança e se entregar às mãos do Pai, nosso Abbá,
mãos ternas e carinhosas e, assim, nos sentirmos abrigados e pacificados nas
agruras e tristezas dos embates da vida.
A santidade passa, pois, pela linha
da simplicidade e do abandono dos humildes e pequeninos, daqueles que estão
conscientes de sua fragilidade e estão afastados da sua prepotência e
autosalvação, mas necessitam de outro, Deus, para encontrar o caminho da
libertação: “A santidade não é esta ou aquela prática, mas consiste numa
disposição do coração que no faz humildes e pequenos nos braços de Deus,
conscientes de nossa debilidade e confiados até a audácia em sua bondade de
Pai” (Obras completas. Últimas conversações, pág. 1397).
Por fim, reflitamos sobre a oração
dessa grande santa francesa. Sua oração é a oração da criança impotente, do ser
frágil, que se entrega nas mãos do seu Pai e Criador sem qualquer petulância,
sem qualquer arrogância e suplica Sua proteção, Seu abrigo.
Orar, para Teresinha do Menino
Jesus, nada mais é do que se abandonar, entregar-se nas mãos todo-poderosas,
mas todo-carinhosas de nosso Pai, que nos ama a todos como filhos e filhas
muito prediletos.
Recordo este pequeno trecho de uma
oração de Santa Teresinha do Menino Jesus, no qual ela manifesta seu amor a
Deus e sente-se pequena como uma pequena avezinha, mas totalmente envolvida
pelo amor incondicional de seu Pai, a quem carinhosamente chama de seu sol:
“Águia não sou, mas dela tenho,
simplesmente, olhos e coração, pois que, não obstante minha extrema pequenez,
ouso fitar o Sol Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente nele todas as
aspirações de águia... Quisera a avezinha voar em direção ao Sol fulgurante que
lhe fascina os olhos. Quisera imitar as águias, suas irmãs, quando as vê
alternarem-se até o divino foco da Santíssima Trindade... Tudo o que se poder
fazer, ainda mal, é soerguer as asinhas. Mas, sair voando é o que sua reduzida
força não permite! Qual será sua sorte? Morrer de desgosto, por se ver tão
tolhida? ... Isso não! A avezinha nem sequer se apoquentará. Num audaz
abandono, que ficar mirando seu Divino Sol.
Nada a poderia amedrontar, nem o
vento, nem a chuva. E, quando nuvens carregadas vêm encobrir o Astro do Amor, a
avezinha não muda de instância. Sabe que, além das nuvens, seu Sol está sempre
a brilhar, e seu esplendor não poderia empanar-se um instante sequer” (História
de uma alma – pág. 204/205).
Santa Teresinha do Menino Jesus,
rogai por nós!
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano Rio Janeiro