Mais do que mirabolantes façanhas
místicas ou heroísmos de faquir, a santidade consiste numa correspondência de
amor. Trata-se de descobrir a presença de Deus em tudo, dando-lhe glória por
meio das mais corriqueiras realidades do dia a dia.
O que é que os santos fazem para
chegar à santidade? Duas coisas. Por um lado, ficam longe de tudo o que os
impede de entrar pelos caminhos da graça e, por outro, dirigem-se diretamente a
Deus. Mas fazem tudo isso pela glória do Senhor, não por algum proveito que possam
obter. Eles são os que “buscam, antes, o Reino de Deus” – mais pelo Rei do que
por eles próprios – e estão dispostos a esperar o tempo que Ele quiser até o
dia em que “todo o resto lhes será dado por acréscimo” (cf. Mt 6,33).
Os santos, portanto, não tratam de
fazer coisas especialmente santas (como ferozes penitências, passar noites
inteiras ajoelhados, milagres, profecias, êxtases na oração); tratam de fazer
tudo de um modo especialmente santo, exatamente do modo como Deus quer que o
façam. Para eles, a única coisa do mundo que importa é a vontade do Pai. Sabem
que a cumprindo estarão imitando Nosso Senhor, manifestando a caridade e sendo
fiéis ao que há de melhor em si mesmos.
Tudo isso pode ser um grande
estímulo para nós, pois mostra que o nosso serviço a Deus não depende de como
nos sentimos, mas de como o Senhor olha para o que fazemos. Não depende de que
os nossos atos pareçam heroicos, mas da nossa disposição em deixar que Ele tire
heroísmo de nós; não depende de que conquistemos, à nossa maneira, uma meta que
nos faça merecedores do título de “santo”, mas de que sigamos, com total
confiança, o rumo marcado pela vontade do Senhor.
A santidade – como tudo na vida –
deve ser encarada do ponto de vista de Deus; não do ponto de vista do homem.
Viemos do Senhor, existimos por Ele. A nossa santidade também deve vir d'Ele e
existir para Ele. Cremos que a finalidade do homem, da vida, da criação é a
glória do Senhor. Mas o que isso significa para nós? O que é “glória” afinal?
Santo Agostinho diz que a glória é
um “claro conhecimento unido ao louvor”. Mais do que, simplesmente, explicar o
que ela é, essa expressão nos diz o que temos de fazer em relação a ela, ou
seja, a maneira que devemos glorificar a Deus. Louvar o Senhor na oração é
glorificá-Lo; servir ao próximo na caridade, também o é. Querer seguir a Cristo
e cumprir Sua vontade é dar-Lhe glória.
Cristo Nosso Senhor, que é a
Santidade em Pessoa, mostrou-nos como deu glória ao Pai durante a Sua vida
terrena: "Eu glorifiquei-Te na Terra, consumando a obra que me deste a
fazer (Jo 17,4). Que obra era essa? Muito simples: a vontade do Pai. É claro
que isso implicou fazer muitas coisas específicas – como pregar, fazer
milagres, fundar a Igreja, sofrer a Paixão –, mas todas se resumem no
cumprimento fiel da vontade do Pai.
Quando, próximo do fim, Jesus disse
na cruz: "Tudo está consumado" (Jo 19,30), não estava querendo dizer
que Sua vida chegava ao fim, mas que a obra encomendada pelo Pai, a tarefa de
cumprir em tudo a divina vontade, estava, agora, perfeitamente concluída e já
não restava mais nada a fazer.
Hubert von Zeller