A história nos conta que: dentro da
conturbada invasão dos holandeses no Nordeste do Brasil, ocorreram dois
martírios coletivos: o de Cunhaú e o de Uruaçu. No engenho de Cunhaú, na época,
principal pólo econômico da capitania do Rio Grande (atual estado do RN),
existia uma pequena e fervorosa comunidade composta por 70 pessoas sob os
cuidados do Pe. André de Soveral. E em 16 de junho de 1645, o sacerdote e
outros 70 fiéis foram cruelmente mortos por mais de 200 soldados holandeses e
índios potiguares. Os fiéis participavam da Missa dominical, na capela de Nossa
Senhora das Candeias, no Engenho Cunhaú – no município de Canguaretama,
localizado a Zona Agreste do Rio Grande do Norte. Por seguirem a religião
Católica, tiveram que pagar com a própria vida o preço da fé, por causa da
intolerância calvinista dos invasores.
Quatro meses depois, em 03 de
outubro de 1645, aconteceu outro martírio, onde 80 pessoas foram mortas por
holandeses, entre elas, o Pe. Ambrósio
Francisco Ferro, que com os fiéis confiados a si, manteve a firmeza na fé, e o
camponês Mateus Moreira, que teve o coração arrancado pelas costas, enquanto
repetia a frase “louvado seja o Santíssimo Sacramento”. Este morticínio
aconteceu no Engenho de Uruaçu (hoje comunidade Uruaçu) na área do município de
São Gonçalo do Amarante – a 18 km de Natal.
Eles foram beatificados, no dia 5
de março de 2000, pelo Papa João Paulo II, na Praça de São Pedro em Roma,
juntamente com mais 44 mártires. Na cerimônia da Beatificação o Papa João Paulo
II, atribuiu aos novos Beatos da Igreja, o titulo de Protomártires do Brasil.
Segundo nosso saudoso Mons. Assis Pereira, os
mártires de Cunhaú e Uruaçu foram chamados de Protomártires do Brasil, pelo
Prefeito da Congregação das Causas dos
Santos. “Isto porque são os primeiros que derramaram o sangue pela fé em nossa
pátria, tendo o seu martírio reconhecido oficialmente pela igreja”, disse o
Monsenhor. Ele foi nomeado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB) como responsável pela organização do martirológio que aconteceram aqui
no estado do RN, hoje o responsável é o Padre José Mário.
Você sabe o que é um mártir?
Martírio significa testemunho. Mas
testemunhar Cristo a ponto de morrer é tornar-se um com aquele que tornou a
viver. O martírio cristão é uma experiência mística, a primeira atestada na
história da Igreja. Ela é registrada bem no início pelo exemplo de Estêvão
(ícone ao lado do texto), o protomártir nos Atos do Apóstolos a saber:
“(Estêvão) cheio do Espírito Santo,
olhou para os céus e viu a glória de Deus, e Jesus de pé à direita de Deus; e
ele disse: ‘vejo os céus abertos. E o Filho do Homem de pé à direita de Deus’.
Em seguida eles o jogaram fora da cidade e o apedrejaram; enquanto o
apedrejavam, ele rezava, ‘Senhor Jesus, receba meu espírito’. E se ajoelhou e
clamou em alta voz, ‘Senhor, perdoai-lhes’. E enquanto dizia isto, ele
adormeceu (Atos, 7, 55-60)”.
Visão da glória, rezar pelos
executores. Quando a história completa seu ciclo e outra testemunha é levada à
morte, esta mesma morte ‘abre os céus’ e permite que as energias do amor façam
sua entrada no mundo.
O martírio foi a primeira forma de
santidade a ser venerada na Igreja. E quando não houve mais mártires no sangue,
mártires na ascese, vieram os monges por sua vez. Foram os monges que cunharam
o dito que expressa o significado do mártírio: ‘dê seu sangue e receba o
Espírito’. O martírio retorna. Um mártir pode ser, à primeira vista, qualquer
homem ou mulher. Mas quando eles são esmagados pelo sofrimento eles são
identificados com o Cristo Crucificado, e o poder da ressurreição toma posse
deles. Para o cristão autêntico a morte não existe. Ele se lança no Cristo
Ressuscitado. Nele a morte é uma celebração da vida.
Extraído do Site Padres do Deserto
O martírio dos cristãos. O cristão morre por fidelidade ao
Evangelho e a Cristo!
Muitos cristãos, em todos os
tempos, deram a vida pelo Evangelho e pelo Reino de Deus, imitando o próprio
Cristo, que se entregou para a salvação do mundo. Jesus é o "Mártir dos
mártires"; pois a Sua "entrega" foi voluntária. O Cristianismo
venceu o Império Romano somente depois que milhares de mártires derramaram o seu
sangue como tributo da implantação do Evangelho na Roma pagã.
Na verdade, em todos os lugares em
que o Evangelho entrou e a Igreja floresceu, o sangue dos mártires foi
derramado, como semente lançada na terra nova. Isso em todos os vinte séculos
da vida da Igreja. Desde que o Sangue de Jesus caiu no solo deste mundo, muitos
seguiram o Seu exemplo. E, na verdade, aí está a força maior da Instituição
criada por Ele.
A história se repete. O século XX
fez também com que os cristãos revivessem a era do martírio; não mais com anfiteatros
e feras, mas em campos de concentração, masmorras solitárias e fuzilamento. Uma
delegação da "Ajuda à Igreja que Sofre" visitou a China em setembro
de 2004. Os representantes da instituição constataram, uma vez mais, as
dificuldades que marcam o cotidiano das irmãs e irmãos católicos chineses. O
sofrimento dos fiéis da "Igreja do Silêncio" chinesa surge retratado
nos seus testemunhos, dados sob nomes fictícios por motivos de segurança.
O Papa João Paulo II disse:
"Estes dois mil anos depois do
nascimento de Cristo estão marcados pelo persistente testemunho dos mártires.
Também o século XX conheceu numerosíssimos mártires, sobretudo por causa do
nazismo, do comunismo e das lutas raciais ou tribais. Sofreram pela sua fé
pessoas das diversas condições sociais, pagando com o sangue a sua adesão a
Cristo e à Igreja ou enfrentando corajosamente infindáveis anos de prisão e de
privações de todo gênero, para não cederem a uma ideologia que se transformou
num regime de cruel ditadura. Do ponto de vista psicológico, o martírio é a
prova mais eloqüente da verdade da fé, que consegue dar um rosto humano
inclusive à morte mais violenta e manifestar a sua beleza mesmo nas
perseguições mais atrozes". ("Bula Incarnationis Mysterium", nº
13).
O martírio cristão é diferente dos
outros "martírios". O cristão morre por fidelidade ao Evangelho e a
Cristo, ao passo que o maometano, muçulmano, morre por nacionalismo, fundindo
entre si religião e etnia dentro de um contexto de "guerra santa".
Jamais isso pode ser caracterizado como martírio, pois além de ser um suicídio,
provoca a morte de pessoas inocentes.
O martírio é uma graça que Deus
concede a alguns; nem por isso o cristão deve procurar o martírio, nem provocar
os adversários da fé. A Igreja não aprova isso, pois poderia ser presunção e
seria provocar o pecado do próximo ou dos algozes.
Para que haja martírio cristão é
necessário que o fiel morra livremente por causa da sua fé. Não é qualquer
pessoa que morra defendendo uma causa que é mártir. Tem havido confusão sobre
isso ultimamente; às vezes são declarados, apressadamente, e sem o aval da
Igreja, como "mártires", alguns que na América Latina defenderam
alguma causa política, e não de fé.
No entanto, para que a Igreja declare
oficialmente que alguém é mártir da fé, são feitas pesquisas a respeito da
verdadeira causa da morte; a livre aceitação da morte; graças ou milagres
obtidos por intercessão do(a) servo(a) de Deus. O processo começa na diocese à
qual pertencia a vítima e termina em Roma, na Congregação para as Causas dos
Santos.
O século XX produziu muitos
mártires, mais do que em toda a História da Igreja. Muitos fiéis foram sujeitos
à tortura física, psíquica e moral mais requintada possível sem chegar a
morrer. Muitos morreram no anonimato sem que alguém testemunhasse o seu heroísmo
e sua glória. Não tiveram a graça de confessar frente ao mundo o nome de Jesus,
embora tenham morrido por causa d'Ele.
Os mártires do século XX foram,
muitas vezes, ignorados... na Alemanha,
na URSS, na China, no México, na Espanha, em Cuba...; não era (nem é hoje
ainda) possível saber o que acontece nos bastidores de um país totalitário.
Apenas um exemplo:
Em 1945, a Albânia tornou-se uma
República Popular sob a chefia de Enver Hoxha, que fez violenta opressão
religiosa contra cristãos e muçulmanos. A perseguição desencadeou-se
primeiramente contra os bispos, os religiosos e os missionários estrangeiros; e
os fiéis que os defendiam, foram presos, torturados e, muitas vezes, mortos por
recusarem denunciar publicamente os "crimes" do clero. Enver Hoxha, a
conselho de Stalin, resolveu eliminar radicalmente a Igreja Católica. Em 1948
só restava um bispo católico com vida nas montanhas do Norte do país. Contudo,
a Igreja naquele país continua mais viva do que nunca.
Da mesma forma, foram milhares de
mártires cristãos na Revolução Francesa (1789): cerca de 17 mil sacerdotes e 34
mil religiosos foram mortos; na Revolução Russa (1917) e depois, milhares de
mortos; na Revolução Mexicana (1926) foram centenas de bispos, padres, leigos;
na Revolução Espanhola (1936/9) foram milhares assassinados (bispos, padres,
leigos). E hoje a perseguição continua. O Vaticano nos informa que hoje há
cerca de 200 milhões de cristãos perseguidos no mundo, especialmente nos países
muçulmanos. "O sangue dos mártires – como disse Tertuliano no século III –
continua sendo semente de novos cristãos".
Prof. Felipe Aquino