quarta-feira, 13 de julho de 2011

Comunhão de Santos e Pecadores



• “A vida Fraterna tem dois ângulos: o primeiro Teológico e Psicológico do viver em comum, em nome do Senhor; o segundo é entender a maneira de colocar em prática, concretamente, o verdadeiro ser do ideal comunitário sem rigidez. Segundo Delbrel afirma: “a conversão ou a renovação de uma só pessoa tem só a sua assinatura, ao passo que a conversão e a renovação de uma comunidade têm a assinatura de Cristo”.

• Estar em comunhão com o Deus Santo e misericordioso é estar diante dele não como apenas no plano individual de Santidade, mas de Santidade comunitária. Ser espontâneo amar e se deixar amar.

A Experiência Espiritual espera da diferença e da integração:

• A Diferença é aprender a viver na fé, nós não podemos nunca circunscrever em nossos conceitos, na nossa afetividade, na nossa experiência comum ou individual aquele que, por definição está além de todas as nossas limitações, fraquezas, além de tudo que somos, fazemos e temos. Sermos humildes e simples, sábios e inteligentes, buscar peregrinamente o Divino, mesmo no acontecimento que parece ser simples e transparente, ter um significado que supera, tem sentido e da surpresa e maravilha.

• A Integração Transcendência, esse é o espaço fecundo do mistério que abre novos horizontes, do dom gratuito de Deus que vem ao encontro de sua criatura através de caminhos novos e imprevistos. É ausência, silêncio de Deus que submete a dura prova e purifica, mas acaba aumentando ainda mais o desejo de procurar o seu rosto e de se deixar encontrar por ele e nele se descobrir. Isso é acolher a integração plena com o Deus vivo e descobrir o seu valor, deixando-se moldar, pela integração com Deus.

• O mistério que está contido em cada acontecimento torna-se lugar de formação contínua, em que a pessoa que tem fé aprende a reconhecer Deus, ora no deserto, ora no lago durante a tempestade, no tabor ou no calvário, entre a multidão ou no segredo da consciência.

• A Comunhão Fraterna será mais intensa, quanto mais for à busca para o Deus Vivo. Quanto mais nos aproximarmos de Deus, mais seremos fraternos uns com os outros, reconhecendo, claro nossas fraquezas e limitações, permitindo que o Senhor nos conduza pelo Espírito Santo que vai nos santificando.

• A Santidade de Deus e a intimidade com ele, a experiência dessa santidade põe em processo de Santificação da Fraternidade. A Experiência Espiritual é onde se experimenta a superioridade misteriosa de Deus. O coração da Vida Religiosa, comunitária, é a Comunidade, por isso se faz necessário aceitar e respeitar o diferente, não se isolar procurar escutar o irmão, estarem juntos, se busca Deus juntos, e partilha essa busca, já é comunhão dos Santos. Uma fraternidade floresce quando, aos poucos, consegue integrar as diferenças, descobrir a semelhança.

• Uma espiritualidade que não pode ser revelada é falsa. Nada é nosso e tudo deve ser comunicado para que tudo circule, e leve a unidade, o riquíssimo patrimônio que existe numa comunidade religiosa”.

Citações Extraídas do Livro: Vida Fraterna: comunhão de Santos e Pecadores. “como o orvalho do Hermon” – Amedeo Cencini

Como percebemos nas citações acima do autor, aborda a experiência espiritual com o Deus Vivo e as relações interpessoais, ou seja, a intimidade com Deus, o nosso relacionamento com ele, e o nosso relacionamento com os irmãos.

No relacionamento com Deus, muitas vezes queremos guardar só para nós, o que aprendemos com o Senhor, no entanto devemos partilhar, vivenciando a sua palavra no dia a dia. Essa intimidade com o Senhor se dá na Eucaristia, em comunhão com ele na Santa Missa, nos demais Santos Sacramentos, na oração pessoal, nas práticas oracionais, na busca e vivencia incessante de sua palavra que é Vida, testemunhando-a de fato. Quando estamos em comunhão com Deus, buscamos estar em comunhão com os irmãos, para isso temos que ter a intimidade com o Senhor, e já sabemos onde encontrá-lo. o discernimento é um ato de Amor que o Senhor também nos concede e ele nos ajuda a levar Deus, a termos comunhão com os irmãos, no entanto, é necessário uma grande virtude que é o silêncio, com ele podemos ouvir a voz do Senhor, meditarmos sobre sua palavra, dessa forma levar a palavra ao irmão, vivenciá-la. Devemos compreender, e aprender a importância de sabermos calar e falar na hora certa, de termos misericórdia, pois Deus nos ensina a sermos misericordiosos com a sua infinita misericórdia, e se formos obedientes à ação do Senhor será graça em nossas vidas e daqueles que levamos Deus para eles, ao contrário se não vivenciarmos, a palavra não dará fruto. Em Mt 13,19a Deus nos fala: se "não acolhermos a palavra do Senhor, não a entendemos, o maligno vem e arranca o que foi semeado no nosso coração”; Mt 13, 23 aquele que houve a palavra e a compreende, produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um” Eclo 46,9 “no tempo em que Moisés ainda vivia, praticou um ato de piedade Caleb, filho de Jefoné, permanecendo firme contra o inimigo, impedindo o povo de pecar, e abafando as murmurações excitada pela malícia”. Abafar as murmurações, é um ato de amor, de comunhão com Deus, elas nos afastam do nosso Criador, por isso devemos tomar a decisão de apaziguar o mal através da palavra do Senhor anunciando-a e vivenciando-a, é reconhecer que é bom obedecer o Senhor, é ser fraterno: Eclo 46, 12 “para que todos os israelitas reconhececem que é bom obedecer Deus Santo”

Contudo só se tivermos um encontro com o Deus Vivo, que tudo vê, estaremos em Comunhão, necessitando sempre dá sua graça, teremos sede de Deus e por isso procuraremos a intimidade com ele, deixando nossas máscaras caírem por terra e iremos ao encontro daquele que verdadeiramente nos ama e só que o melhor, foi assim que um dos primeiros discípulos de Jesus, Natanael, entrou em comunhão dos Santos como a própria palavra nos revela em Jo 1, 45.48. "Filipe encontra Natanael e diz-lhe: "achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei e que os profetas anunciaram: é Jesus de Nazaré, filho de José". Natanael pergunta-lhe: Donde me conheces? Respondeu Jesus: Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira. Falou-lhe Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel. O nosso encontro com Deus também nos faz reconhecer que ele é o nosso Senhor e Salvador, tudo vê e que cuida de nós incondicionalmente, por isso devemos ir ao seu encontro.

Nas relações interpessoais, o respeito é fundamental, principalmente de não querer ser melhor ou inferior ao irmão, de sabermos chegar ao irmão, a melhor forma de falar de seu pecado, no sentido de ajudá-lo, isso é comunhão de pecadores, mesmo porque quando falamos do pecado ao outro o nosso também já está ali talvez pior do que o do irmão. E o próprio Senhor vai nos corrigindo através do seu ensinamento.

A maior vocação da pessoa é entrar em comunhão com Deus e com os outros seres humanos, seus irmãos. Essa comunhão nos faz filhos de Deus, Deus Pai não quis ficar sozinho, quis estar em unidade com o Filho e o Espírito Santo, três pessoas em uma só, uma comunidade, onde o ápice é a comunhão, nós também somos chamados a estar unidos, em comunhão com Deus e com os irmãos.

A comunidade e a união é um dom que passa pelo sacrifício do Filho e é acolhido com gratidão e partilhado por quem pretende realizar um projeto de fraternidade, este projeto se realizará em comunhão com os irmãos comunitariamente.

A comunhão dos Santos é partilhar sobre tudo o que é bom e que Deus tem para conosco. A comunhão de pecadores é partilhar nossos pecados aceitando a correção e corrigindo-os em nome do Senhor, isso também é ser fraterno.

Andréa Lustosa (Missionária da Comunidade Magnificat)