quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Francisco de Assis O Seráfico, Discípulo Missionário.




A devoção a São Francisco de Assis tomou conta de toda a Igreja. Do pobre de Assis se aproximam crentes e ateus. Ele passou a ser ícone para todos. Sua pobreza, despojamento, doçura, coragem, amor à natureza, ao ser humano e paixão a Cristo seduziu muitas pessoas para fazer a experiência do seguimento a Jesus Cristo.
A Igreja, em sua liturgia, comemorando a festa de São Francisco de Assis, aplica esta frase do Evangelho: "Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos". (Mt 11,25.)
São Francisco era um pequenino perante o mundo, porém Deus lhe havia revelado os segredos da verdadeira grandeza. Fez-se pobre na terra, para ser rico no céu. Quis ser desprezado pelo mundo, para conquistar o amor de Deus. Desapegou-se de tudo... Para possuir o Tudo, Deus. A sua vida é um romance: faz rir, chorar, orar, amar
 Deus.
Não pensemos que é somente um santo admirável, é também imitável, e seus exemplos de Apóstolo e de Serafim são um luzeiro para todos os que desejam santificar-se e fazer o bem.
Tem-se idealizado muito São Francisco... Ele é um ideal, é certo: mas é também um modelo. É este modelo que vamos contemplar aqui, percorrendo a sua vida e destacando dois pontos luminosos.
O apóstolo ardente - Francisco nasceu em 1182; era filho de abastado negociante de Assis. Era rico, mas não se sentia feliz. Sentia grandes atrativos para o prazer e um vivo desejo de ser mais rico.
Entretanto, conservara um coração caridoso, e prometeu nunca recusar a esmola a quem pedisse. A caridade é um fogo: e este fogo tende sempre a estender-se mais: Francisco tornou-se o grande amigo dos pobres.
Quando jovem, encontrou um pobre quase nu; imediatamente despe-se de seus vestidos novos e elegantes, e os dá ao pobre. Tendo encontrado um leproso, recuou de horror, mas voltando a si desta primeira impressão, aproxima-se do infeliz, abraça-o com afeição e lhe dá a esmola.
Numa peregrinação que fez a Roma encontrou certo número de pobres à porta da Igreja de São Pedro; inflamado de caridade, despe-se de seus vestidos e troca-os pelos farrapos dos mais míseros dentre eles, passando ali o dia no meio dos mendigos.
Era a vitória definitiva de Francisco sobre a sua vaidade nata e a sua inclinação à elegância: apagou de uma vez estas duas paixões. Daí em diante o sonho de Francisco é ser pobre e humilhado.
O pai, contrariado pela desonra de ter um filho mendigo, levou-o diante do Bispo de Assis, queixando-se da liberalidade exagerada do filho, e exigindo a renunciar a sua parte de bens na herança da família.
Francisco cede tudo... e chega a entregar ao pai as vestes que trajava, dizendo que agora podia dizer com toda verdade: "Pai Nosso , que estais no céu", que não tinha mais outro Pai. O pai expulsou-o de casa como filho pródigo e vergonha da família.
E lá se foi o jovem mendigo pelo mundo afora, sem dinheiro, sem recursos, sem alimentação, sem amigos, trajando veste grosseira, e confiando-se para tudo, à Providência Divina.
Começou a vida de pobre mendigo: pediu esmolas para reconstruir a Igreja de São Damião, em Assis, que ameaçava ruir, e pôr em obras a de São Pedro. Retirou-se depois para perto de uma antiga igreja dos Beneditinos, chamada Porciúncula, dedicada a Nossa Senhora dos Anjos, reconstruiu-a e fixou ali sua morada.
Um dia, assistindo à Santa Missa, ficou fortemente impressionado pelas palavras do Evangelho: "Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro à cintura; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, pois o trabalhador tem direito a seu sustento". (Mt.10,9.)
Francisco tomou o texto ao pé da letra e fez dele o fundamento da regra que sonhava escrever. Tirou logo os sapatos, a cinta de couro, não conservando senão uma grosseira túnica cingida por uma corda.
Nestes trajes novos do Evangelho, começou a pregar a penitência nas ruas e nas praças públicas. A novidade excitava a curiosidade, e a curiosidade fez com que todos escutassem a sua pregação.
A audição dessa palavra estranha, que parecia o eco daquela de João Batista, impressionou e converteu os pecadores. Alguns de seus auditores, excitados pela sua palavra e seu exemplo, quiseram segui-lo e imitá-lo,
O número destes discípulos chegou a sete e, depois, doze. Francisco resolveu escrever para eles uma pequena regra, curta e prática, e levá-la a Roma, pedindo a aprovação do Papa Inocêncio III.
Encontrou oposições, mas Deus quis a obra e manifestou sua vontade por meio de uma visão do próprio Papa que, depois, aprovou o gênero de vida dos novos apóstolos. Francisco, antes de deixar Roma, recebeu a tonsura das mãos do Cardeal de Colonna... e depois, provavelmente, o Diaconato, em 1209.
Eis Francisco com seus primeiros discípulos a percorrer as cidades e os campos, pregando a penitência e a pobreza, à sociedade da época que fervia de cobiças e de ódios. O zelo de Francisco era o fogo, como o seu coração: o seu lema era ganhar almas e, se possível, sofrer o martírio.
Resolveu pregar o Evangelho aos maometanos. Embarcou para o Egito, onde foi preso e levado perante o Sultão. Começou a sua evangelização, porém o terreno não era propício e, embora recebido com veneração pela sua coragem, nada pôde conseguir.
Daí, Francisco foi para a Terra Santa e voltou para a Itália, onde graves dificuldades exigiam a sua presença.
O número dos Irmãos aumentara consideravelmente e as suas ermidas se multiplicavam na Itália. Em menos de três anos contava já 60 casas.
O serafim de amor - Francisco sentiu que estava no termo da sua vida apostólica. O seu zelo havia percorrido a Itália e comovido a Europa.
Além dos milhares de almas fervorosas que abraçaram a Regra dos Frades Menores, e das Clarissas, fundada por ele, centenas de milhares haviam entrado para a Ordem de penitência, para os leigos. Hoje denominada Ordem Franciscana Secular.
Sem se desinteressar da Ordem, Francisco havia deixado o governo desde 1219, para aplicar-se à contemplação que o atraía irresistivelmente. Retirou-se primeiro ao Vale de Rieto e, no ano seguinte (1224), refugiou-se numa choupana do Monte Alverne, no meio de rochedos cercados de espessas florestas.
Certo dia, meditando com ardor sobre a Paixão do divino Mestre, viu descer do céu um Anjo luminoso com seis asas: duas elevadas acima da cabeça, duas estendidas para o voo e duas cobrindo o corpo.
A aparição tinha os braços estendidos, os pés juntos e parecia pregada na cruz. No rosto do Serafim, Francisco contemplava a beleza dos traços do Crucificado, e ouviu uma voz a lhe dizer que o fogo do amor o transformara na imagem de Jesus crucificado.
Ao mesmo tempo, uma viva dor trespassa-lhe os membros: cravos pretos atravessam-lhe as mãos e os pés, e de uma ferida aberta em seu lado, o sangue começa a jorrar. Acaba de receber os estigmas da Paixão.
Após a festa de São Miguel, disse adeus ao Monte Alverne e, sentindo que seus pés não mais suportavam o andar, voltou para a Porciúncula montado num jumentinho, semeando milagres por onde passava.
Dores atrozes o atormentaram. Extenuando pelos jejuns e privações, alquebrado por frequentes hemorragias e quase cego, consentiu em descansar numa choupana que Santa Clara lhe fez preparar no jardim de São Damião, onde residiam as religiosas.
É aí, nas trevas da cegueira' que este serafim de luz compôs o célebre "Cântico do Sol". Sentindo aproximar-se o fim, Francisco pediu que o levassem para Assis.
De Assis, a seu pedido, foi levado para a igreja de Nossa Senhora dos Anjos, onde desejava morrer. Na Porciúncula, deu as suas últimas instruções e morreu como havia vivido, em 4 de outubro de 1226.
Conclusão - Cada santo tem uma fisionomia própria; não há dois santos semelhantes. São Francisco de Assis é o modelo perfeito de desapego de tudo... e o pobre por amor de Jesus Cristo, porém é mais do que isso.
O traço distintivo do Santo é o zelo as pessoas, provindo diretamente de seu amor a Deus! A sua força, a sua grandeza, o segredo da ação admirável está em sua união íntima com Deus, na contemplação sobrenatural.
É o segredo desta atividade fecunda que o Santo exerceu sobre as multidões e sobre os seus filhos espirituais.
É um exemplo de apóstolo que se dedica à conversão das pessoas. Deus, em primeiro lugar! Deus, amado em si mesmo... e Deus amado no próximo: é a fórmula do apostolado.
Queiramos, pois, imitar o zelo de São Francisco, procuremos imitar-lhe o espírito de união com Deus. Ninguém pode tornar-se apóstolo ardente sem ser serafim de amor!

D. José Edson - Bispo Diocesano de Eunápolis/BA.