A carta de Tiago
mostra a sabedoria do discernimento cristão diante das situações. Dirige-se a
todas as comunidades cristãs, simbolizadas pelas doze tribos do novo povo de
Deus. Esta carta reduz toda a lei judaica ao mandamento do amor ao próximo.
Pode-se dizer que é a explicação das exigências desse mandamento em diversas
circunstâncias: igualdade cristã, preferência pelos pobres, amor ativo.
Ela se opõe a um tipo de religião que foge dos compromissos existenciais para se refugiar no ritualismo, justificando as injustiças ou fechando os olhos diante delas. O texto demonstra que todos os dons vêm de Deus. Entre esses dons está a vocação cristã. Ora, em Deus não há variação nem sombra de mudança. Por isso, pertencer a Ele enquanto criatura e, mais ainda, como cristão, comporta coerência e continuidade com o projeto divino, animado pelo Espírito.
O anúncio do Evangelho, que
provocou mudança na vida cristã a ponto de as pessoas terem abraçado o batismo,
faz com que os cristãos sejam os primeiros frutos da nova sociedade que nasce
da prática de Jesus e do compromisso dos que aderem a Ele. Com base nisso,
Tiago os convida a acolher a Palavra e a por em prática o que ela determina
para merecer o nome de "cristão". Isso está em estreita relação com
as exigências que Jesus fez a seus discípulos.
No tempo em que esta carta foi
escrita, as comunidades cristãs arriscavam fechar-se em si mesmas, sem
compromisso com a transformação da sociedade. Tiago insiste que “a religião
pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em
suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo”. Em síntese,
religião é solidariedade com os marginalizados. Mais uma vez, Deus nada pede
para si. O autêntico relacionamento com Ele passa pelo caminho necessário da
fraternidade e da justiça.
Isto nos leva a concluir que nem
sempre podemos nos acomodar e conservar ideias pré-estabelecidas. Às vezes, é
preciso mudar o nosso modo de ser, mudar o mundo para melhor.
Dom Eurico dos Santos Veloso