A humanidade alegrou-se com os primórdios da fé e foi reavivada pelo
martírio como selo da fé: agora espera ainda uma época de arrependimento que
será uma das eras espirituais mais florescentes e não menos alegre e produtiva
em comparação com as épocas precedentes, isso, com a condição de que o
arrependimento seja vivido autenticamente.
O arrependimento não é outra
coisa que uma segunda vitória da fé e um novo testemunho. O retorno à fé
acolhida anteriormente é uma alegria quase maior do que a primeira adesão.
Pensai na viúva depois que encontrou a dracma perdida (Lc 15,8-10); pensai no
pastor que se alegrava mais por ter reencontrado a sua ovelha perdida do que
pela certeza de possuir as outras 99 no redil (Lc 15,4-7). O Senhor nos ensina
que o retorno ao seio de Cristo por um homem que se arrepende, possui uma força
e uma honra iguais à alegria de ter um redil completo, isto é, uma igreja
inteira.
Deus quis dar ao arrependimento
uma dupla honra, de felicidade, de gáudio e de alegria, de modo que um pecador
não seja desencorajado ou temeroso de retornar aos braços de Cristo, para que a
glória da cruz possa prevalecer sobre a infâmia do pecado e que a mansidão de
Deus, sempre disposta a justificar o ímpio, fosse glorificada. Mesmo que um
pecador que se penitencia dificilmente possa ser notado pelo mundo, a Bíblia
afirma que o céu inteiro acolhe com alegria o arrependimento de um pecador e se
alegra quando um homem é justificado. O arrependimento é a maior das obras de
que a humanidade possa se glorificar, pois, quem se arrepende, está respondendo
ao poder de Deus de perdoar e de justificar e obtém, mediante a contrição, o
fruto da cruz e a santificação da parte de Deus. Pensai: um homem que se
arrepende pode, com a sua contrição, alegrar os céus e o coração de Deus!
Quando os santos perceberam a
honra reservada ao arrependimento e à contrição - honra originalmente reservada
aos pecadores, aos adúlteros e aos indolentes -, choraram por si mesmos e se
submeteram com seriedade e capricho à severa disciplina do arrependimento, como
se eles fossem os indolentes: assim o povo passou a pensar que o arrependimento
fosse obra dos santos e a contrição, dos justos!
Quanto a nós, miseráveis,
julgamos ser a nossa justiça a introduzir-nos junto de Deus e que a nossa
virtude, a erudição, o culto, o zelo nos garantem a comunhão com as coisas
celestes. Não percebemos que tudo está nu e descoberto aos seus olhos e a ele
devemos prestar contas (Hb 4,13), que não temos nada de bom para nos aproximarmos
de Deus: Ninguém é justo, nem um só (Rm 3,10), e que como pano imundo são todos
os nossos atos de justiça (Is 64,5).
Se apenas soubéssemos que Cristo
veio para justificar o ímpio (Rm 4,5) e para chamar de minha amada aquela que
não era amada (Rm 9,25); se apenas estivéssemos seguros disso, renunciaríamos,
imediatamente, a toda a nossa justiça, a toda a nossa falsa piedade, a toda
ostentação forçada e, no mesmo instante, as abandonaríamos como coisas ímpias e
não julgaríamos os nossos pecados como demasiadamente grandes para serem
lavados pelo sangue de Cristo e a nossa impureza como uma carga demais pesada
para o seu amor.
trad.: Pe. José Artulino Besen*