Jesus pede de cada um de nós uma decisão firme. Se alguém ou alguma coisa “for para ti ocasião de queda,
arranca-o” (Mc 9,47). Talvez hoje em dia se fale pouco das ocasiões de pecado
e, contudo, elas não faltam nos nossos tempos. Às vezes até temos a impressão
de que elas aumentaram. As circunstâncias externas, com efeito, às vezes
incitam as pessoas ao pecado quer por causa das fraquezas morais quer porque
elas despertam a concupiscência. As ocasiões, sem serem pecados, constituem
momentos imediatos de tentações.
Ao olhar para o nosso mundo, será fácil ver que as
possibilidades de ser imoderado na comida e na bebida se encontram por todas as
partes, a internet facilitou uma série de coisas que antes eram praticamente
inacessíveis à maior parte das pessoas honestas, as roupas encurtaram-se ou
apertaram-se visivelmente… Ocasiões de pecado? Sim. No entanto, dependendo da
nossa educação e da nossa sensibilidade, elas poderiam ser ou ocasiões próximas
de pecado ou ocasiões remotas.
O Catecismo Romano, precedente do atual Catecismo da Igreja
Católica, falava o seguinte sobre tais ocasiões: é preciso ter “a precaução de
evitar, para o futuro, tudo o que motivou qualquer pecado, ou que possa dar
ocasião de ofender a Deus Nosso Pai” (IV, XIV,22,2). Atenção: fala-se da
precaução, isto é, de cautela, de cuidado, de prudência para não
aproximarmo-nos de situações que nos coloquem à beira de ofender ao nosso
Pai-Deus.
Colocar-nos temerariamente, isto é, sem nenhuma causa justa,
em ocasião de pecar é um pecado. Caso se tratasse de uma ocasião próxima de
realizar uma ação gravemente pecaminosa, a ocasião mesma já seria gravemente
imoral. Quem assim fizesse estaria demonstrando pouco amor a Deus, precário
temor em ofendê-lo e certa vontade (talvez débil, porém real) de praticar
aquilo do qual se aproxima arriscadamente. Jesus pede de cada um de nós uma
decisão firme de estar com ele e de rejeitar tudo aquilo que dele nos separa.
Nesse sentido, o Senhor fala tão fortemente de cortar a mão, cortar o pé e
arrancar o olho (cf. Mc 9,43-47).
Logicamente, não podemos cair no erro de interpretar essas
expressões ao pé da letra. Coitado de Orígenes, famoso escritor da antiguidade,
que entendeu mal essas passagens e se castrou! Mas como a mutilação é pecado, o
pobre Orígenes até hoje, apesar das grandes virtudes que tinha, não pode ser
canonizado. Outro motivo que veta o seu processo de canonização é o fato de que
podem ser lidas muitas coisas estranhas à doutrina cristã nos textos de
Orígenes. Nada de fundamentalismo bíblico! O que o Senhor Jesus quer nos dizer
ao descrever essas coisas de maneira tão cruenta é que devemos evitar as
ocasiões de pecado. Isto é, e de maneira positiva, que mantenhamos uma decisão
firme de servir tão somente o Senhor nosso Deus.
Das situações remotas de pecado é praticamente impossível
afastar-nos. Isso se comprova rapidamente ao sairmos às ruas das nossas
cidades. Neste caso, o importante é que tenhamos a consciência de que devemos
viver neste mundo amando-o sem ser mundanos. Também é importante que essas
ocasiões sejam apenas remotas e nunca se transformem numa situação próxima de
pecado.
Mas poderia dar-se o caso no qual tenhamos que colocar-nos
numa situação próxima de pecado. É o caso de um crítico de cinema, o qual teria
que assistir aos filmes e emitir um juízo; o crítico poderia colocar em uma
situação próxima de ofender a Deus no campo da moral, por exemplo. Também uma
pessoa que se dedica a uma tarefa intelectual, às vezes terá que ler alguns
livros que vão claramente contra os seus princípios humano-cristãos; talvez um
determinado professor tenha que colocar-se em perigo contra a fé. O que fazer?
A primeira coisa que há que dizer é que não podemos
colocar-nos, sem causa grave, em ocasião de ofender a Deus. Se houver causa
grave, será preciso então colocar todos os meios para que a ocasião próxima se
transforme numa ocasião remota. No caso do pesquisador, por exemplo, ele terá
que ler, ao mesmo tempo em que lê um livro contra fé, outro de reta doutrina
que lhe sirva contra antídoto.
Pe. Françoá Costa
Diocese de Anápolis