Muitas vezes, somos levados a pensar que a santidade requer
grandes feitos. Santa Teresinha do Menino Jesus e da Sagrada Face. Desde criança ela
sempre quis viver a santidade, e no Mosteiro teve o coração dilatado para
abraçar o mundo e sentir a vocação de ser o Amor, que tudo resume na missão
evangelizadora da Igreja. Para isso, ela percorreu o caminho de saber viver bem
as pequenas coisas de cada dia.
Toda a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus nos leva a
trilhar os caminhos da simplicidade e do abandono espiritual nas mãos de nosso
querido e amado Pai.
Ela descobriu, desde cedo, que não há outro caminho para a
transformação do homem a não ser aquele trazido pela revelação de Jesus. Deixar
de lado os sonhos de onipotência, reconhecer a impotência da salvação pelos
meios humanos, ficar ciente de nossa miséria e fragilidade e entregar-se
confiada e de modo incondicional nas mãos poderosas e ternas de nosso querido e
amado Pai. Este é o caminho da simplicidade, a chamada pequena via de salvação.
Neste tempo em que grandes conglomerados querem dominar o
mundo, numa situação na qual aparentemente o poder está muito presente e dentro
da vida das pessoas, olhar para Santa Teresinha e contemplar a sua felicidade
na simplicidade é redescobrir a vida cristã, que supõe a nossa fidelidade a
cada dia aos mandamentos do Senhor.
Muitas vezes, somos levados a pensar que a santidade requer
grandes feitos, feitos heroicos (que também existem e são importantes), mas,
Jesus nos ensina nos Evangelhos que para entrarmos no Reino dos céus, e mesmo
para conseguirmos desempenhar os grandes feitos, devemos voltar a viver como
crianças, ou seja, reviver a criança que existe em cada ser humano.
Lemos no livro autobiográfico de Teresinha do Menino Jesus o
seguinte: “Compreendo, perfeitamente, que só o amor nos pode tornar agradáveis
ao Bom Deus, sendo este o único bem que ambiciono. Jesus se compraz em
apontar-me o único caminho que conduz a essa fornalha divina. O caminho é o
abandono da criancinha que adormece sem temor nos braços de seu pai... ‘Todo
aquele que é pequenino, venha a mim’, disse o Espírito Santo por boca de
Salomão, e o mesmo Espírito de Amor declarou ainda que ‘com os pequeninos se
usará de comiseração’. Em seu nome, revela-nos o profeta Isaías que, no último
dia, ‘o Senhor conduzirá seu rebanho às pastagens, reunirá os cordeirinhos e os
aconchegará contra o peito’. E como se todas estas promessas não bastassem, o
mesmo profeta, cujo olhar inspirado já se embebia nas profundezas da
eternidade, apregoa em nome do Senhor: ‘Como uma mãe acarinha seu filhinho,
assim vos consolarei, carregar-vos-ei ao peito, acariciar-vos-ei no regaço’”
(História de uma alma – Edições Paulinas – 9ª. Edição – pag. 194/195).
Com efeito, uma criança é um ser impotente e quando se sente
ameaçada por um perigo iminente corre e se abriga no regaço de sua mãe, de seu
pai, e aí encontra segurança, amparo, tranquilidade e paz.
O que é, pois, o caminho do abandono? Abandonar-se é o que
ensina Santa Teresinha do Menino Jesus: sentir-se pequeno como uma criança e se
entregar às mãos do Pai, nosso Abbá, mãos ternas e carinhosas e, assim, nos
sentirmos abrigados e pacificados nas agruras e tristezas dos embates da vida.
A santidade passa, pois, pela linha da simplicidade e do
abandono dos humildes e pequeninos, daqueles que estão conscientes de sua
fragilidade e estão afastados da sua prepotência e autosalvação, mas necessitam
de outro, Deus, para encontrar o caminho da libertação: “A santidade não é esta
ou aquela prática, mas consiste numa disposição do coração que no faz humildes
e pequenos nos braços de Deus, conscientes de nossa debilidade e confiados até
a audácia em sua bondade de Pai” (Obras completas. Últimas conversações, pág.
1397).
Por fim, reflitamos sobre a oração dessa grande santa
francesa. Sua oração é a oração da criança impotente, do ser frágil, que se
entrega nas mãos do seu Pai e Criador sem qualquer petulância, sem qualquer
arrogância e suplica Sua proteção, Seu abrigo.
Orar, para Teresinha do Menino Jesus, nada mais é do que se
abandonar, entregar-se nas mãos todo-poderosas, mas todo-carinhosas de nosso
Pai, que nos ama a todos como filhos e filhas muito prediletos.
Recordo este pequeno trecho de uma oração de Santa Teresinha
do Menino Jesus, no qual ela manifesta seu amor a Deus e sente-se pequena como
uma pequena avezinha, mas totalmente envolvida pelo amor incondicional de seu
Pai, a quem carinhosamente chama de seu sol:
“Águia não sou, mas dela tenho, simplesmente, olhos e
coração, pois que, não obstante minha extrema pequenez, ouso fitar o Sol
Divino, o Sol do Amor, e meu coração sente nele todas as aspirações de águia...
Quisera a avezinha voar em direção ao Sol fulgurante que lhe fascina os olhos.
Quisera imitar as águias, suas irmãs, quando as vê alternarem-se até o divino
foco da Santíssima Trindade... Tudo o que se poder fazer, ainda mal, é soerguer
as asinhas. Mas, sair voando é o que sua reduzida força não permite! Qual será
sua sorte? Morrer de desgosto, por se ver tão tolhida? ... Isso não! A avezinha
nem sequer se apoquentará. Num audaz abandono, que ficar mirando seu Divino
Sol.
Nada a poderia amedrontar, nem o vento, nem a chuva. E,
quando nuvens carregadas vêm encobrir o Astro do Amor, a avezinha não muda de
instância. Sabe que, além das nuvens, seu Sol está sempre a brilhar, e seu
esplendor não poderia empanar-se um instante sequer” (História de uma alma –
pág. 204/205).
Santa Teresinha do Menino Jesus, rogai por nós!
Dom Orani João Tempesta
Arcebispo Metropolitano Rio Janeiro