Nós chegamos à santidade travando uma árdua batalha com nós
mesmos, com a carne e com o demônio. Os homens e as mulheres que a Igreja Católica chama de
“santos” são milhares, mais de vinte e sete mil, como afirma René Fullop
Muller, em seu livro “Os Santos que abalaram o mundo”. São de todas as
condições de vida, raças, cores, culturas, países, etc. Porém, uma coisa é
comum a todos: eles foram heroicamente bons; basta analisar a vida deles.
A santidade é basicamente a estreita união do homem com
Deus; desse contato resulta a perfeição moral. Deus é santo por natureza; os
homens são santos na medida em que se aproximam d’Ele.
No céu todos os bem-aventurados estão intimamente unidos a
Deus pela visão imediata d’Ele. Isso é chamado de “visão beatífica”. Todos os
que estão no céu atingiram a santidade perfeita. Aqui na terra os homens são
unidos a Deus por meio da graça divina. Essa graça é um dom, livremente dado
por Ele, por meio do qual nos tornamos “participantes da natureza divina”, como
São Pedro afirma (cf. 2 Pd 1, 4). Quanto mais graça um homem tem, tanto mais
semelhante a Deus se torna.
Um santo canonizado foi alguém que na terra praticou a
bondade heróica em todas as suas ações. Um homem ou uma mulher não é canonizado
por ter uma só virtude. Não é suficiente que ele não tenha faltas salientes.
Mesmo uma pequena fraqueza é uma grande falta num santo. Um santo tem um
controle perfeito de todas as virtudes. O santo não faz da sua vida espetáculo.
Começa pelas virtudes sólidas, comuns da vida cristã, e depois as desenvolve
até um grau extraordinário. São Vicente de Paulo costumava dizer que “um cristão
não deveria fazer coisas extraordinárias, mas sim fazer extraordinariamente bem
as coisas ordinárias”.
Os seres humanos chegam à santidade travando uma árdua
batalha com eles mesmos, com a carne e com o demônio. Partem do triste estado
da nossa fraqueza comum, porém, antes de morrerem, atingem a santidade pela
graça de Deus. E isso é possível a todos os batizados. Muitos santos não foram
tão santos antes de se colocarem nesse caminho. Santo Agostinho assombrou o
mundo pela sua “Confissão”, obra que fala como ele fora na sua mocidade, um
moço desajuizado que viveu as suas farras na África e na Europa até se
converter. Era amasiado e tinha um filho (Adeodato) antes de se converter aos
33 anos.
Um santo vence a fraqueza. Por isso, a Igreja Católica não
hesita em examinar no processo de beatificação minuciosamente tudo o que um
santo fez. Santo Tomás de Aquino nasceu aristocrata e se tornou professor numa
universidade. A sua característica era a simplicidade e a humildade em
investigar a verdade como um dos mais profundos intelectuais de todos os
tempos. Era santo. Em cada santo encontramos uma singularidade.
Os santos não foram pessoas raras e especiais que viveram
numa só terra ou numa só época particular. Pertencem a todas as épocas e a
todas as nacionalidades. São Policarpo, natural da Ásia Menor, viveu no século
II; já São Pio X foi um italiano e um Papa do século XX. E os quatro homens que
são chamados os Padres do Ocidente, a saber: Santo Agostinho, São Jerônimo,
Santo Ambrósio e São Gregório Magno, eram respectivamente da África do Norte,
da antiga Iugoslávia e da Itália, e viveram entre os séculos quarto e sexto.
Santa Francisca Cabrini era uma freira italiana que fundou hospitais em Nova
York e em Chicago. Houve mártires em Nagassaki, no Japão, e padres na Rússia,
que foram declarados santos pela Igreja Católica.
O que talvez seja mais surpreendente é a enorme variedade de
personalidades entre esses santos. Eram reis e rainhas; sapateiros e
agricultores; sacerdotes, bispos, freiras; soldados; juristas; professores;
donas-de-casa e mulheres profissionais, que se elevaram às alturas da
santidade. Nenhuma classe tem o monopólio da santidade, embora talvez bispos e
religiosos, por força da sua profissão, tenham mais freqüentemente chegado à
santidade.
Felipe Aquino