quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O que obscurece o nosso olhar


Precisamos abrir os "olhos" do coração

A fé é um dom de Deus; precisamos pedi-la. Mas também mencionávamos que existe a “nossa parte”, algo que nós devemos fazer. E essa parte tem dois aspectos:
O negativo é remover os obstáculos que nos impedem de ter fé; o positivo, já mencionado, é sair da ignorância, conhecer e estudar a doutrina, os “conteúdos” da fé, e nos esforçar para viver dessa fé. Vou deter-me apenas no primeiro aspecto, naquilo que bloqueia a fé no nosso coração.

Quando, após ouvirem a parábola do semeador, os discípulos se aproximaram de Jesus para pedir-Lhe uma explicação, Cristo falou-lhes de dois olhares espirituais, os quais podem nos levar à tristeza ou à alegria.

O primeiro olhar é o dos que têm o coração culpavelmente endurecido, “engordurado” de coisas materiais. "O coração deste povo tornou-se 'engordurado', duro, e duros também os seus ouvidos: fecharam os olhos para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare"(Mt 13,15; e Is 6,9-10).

O segundo olhar é o dos homens e mulheres de boa vontade, como eram aqueles que ouviam sinceramente a Cristo. A eles diz Jesus: Quanto a vós, felizes os vossos olhos, porque veem; e os vossos ouvidos, porque ouvem. Em verdade vos digo: muitos profetas e justos desejaram ver o que estais vendo, e não o viram; e ouvir o que estais ouvindo, e não o ouviram (Mt 13,16-17).

O que é que fecha os “olhos do coração” (Ef 1,18)? Jesus o esclarece: Se teu olho estiver são, todo o teu corpo – tudo em ti – estará iluminado; mas, se estiver em mau estado, o teu corpo estará em trevas. Vê, pois, se a luz que está em ti [o que tu julgas ver claro, tuas ideias, tua “fé” prefabricada] não será escuridão (Lc 11,34-35).

Fica na “escuridão” o coração que refuga a verdade, que ama mais o prazer, a satisfação  egoísta (e a simples “opinião pessoal”) do que a verdade. Cumpre-se nele o que diz o Senhor: "Todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas (Jo 3, 20).

E o que abre os olhos do coração? A pureza interior. Felizes os puros de coração, porque eles verão a Deus (Mt 5,8). É puro o coração sincero, o que é reto, o que quer saber, o que não trapaceia com a consciência, o que ama a verdade, o que não desvia o olhar antes de ver. Aquele que pratica a verdade aproxima-se da luz (Jo 3,21).

A má vontade, como acabamos de mencionar. Uma má vontade que se desdobra em várias “impurezas” do coração, em que vale a pena insistir. Tomara que isso possa nos ajudar a abrir as portas do coração a Cristo, que bate nelas com força neste Ano da Fé (cf. Ap 3,20).

A “impureza” mais comum – já o víamos – é o endurecimento no erro, no pecado, que leva a não querer mudar e, antes disso, a não querer nem saber do que é certo ou errado. São Paulo fala com clareza dessa doença do coração, referindo-se aos que, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como a Deus que é, nem lhe renderam graças, antes se perderam nos seus pensamentos, obscurecendo-se deste modo o seu coração insensato. Julgando-se sábios, tornaram-se estúpidos [...]. Por isso Deus os entregou à impureza, de acordo com os desejos de seus corações… (Rm 1, 21-22.24).

Santo Tomás de Aquino comenta que há dois pecados que costumam opor uma barreira à fé: a luxúria, ou seja, a sexualidade desregrada, e a “acídia”, que é a preguiça espiritual, a repugnância gratuita pela religião e a aversão aos bens da alma, próprias do “homem carnal”, expressão bíblica que significa principalmente “homem orgulhoso e egoísta”.

A mais comum – já o víamos – é o endurecimento no erro, no pecado, que leva a não querer mudar e, antes disso, a não querer nem saber o que é certo ou errado. São Paulo fala claramente dessa impureza do coração, quando menciona os que tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como a Deus que é, nem lhe renderam graças, antes se perderam nos seus pensamentos, obscurecendo-se deste modo o seu coração insensato. Julgando-se sábios, tornaram-se estúpidos [...]. Por isso Deus os entregou à impureza, de acordo com os desejos de seus corações… (Rm 1, 21-22.24).

Santo Tomás de Aquino comenta que há dois pecados que costumam opor uma barreira à graça da fé: a luxúria, ou seja, a sexualidade desregrada; e a “acídia”, que é a preguiça espiritual, a repugnância gratuita pela religião, a indiferença e até mesmo a aversão aos bens da alma, próprias do “homem carnal”, expressão bíblica que significa principalmente “homem egoísta”.

Foi isso o que retraiu da fé o governador romano da Palestina, Félix. Estando São Paulo preso na cidade de Cesaréia marítima, sede do governo do representante de Roma, mandava chamá-lo com frequência para conversar com ele, e ouvia-o falar da fé em Jesus Cristo. Mas, como Paulo lhe falasse sobre a justiça, a castidade e o juízo futuro, Félix, todo atemorizado, disse: “Por ora, podes retirar-te. Chamar-te-ei na próxima oportunidade” (cf. At 24,24-26). Nem quis escutar.

Outra impureza do coração é a boa vontade insincera, que tem medo de complicar a vida: medo da luta, dos sacrifícios que podem ser necessários para se aproximar de Deus e cumprir a Sua vontade. Santo Agostinho experimentou-a, e escrevia, já consciente de que Deus o chamava à conversão: «Interiormente, dizia de mim para mim: “Vamos agora, agora!” Estava já a ponto de passar da palavra às obras, no limiar da ação, mas não agia.

Podia mais em mim o mal que já se fizera hábito do que o bem a que eu não me habituara. Ia-me apavorando cada vez mais, à medida que se aproximava o momento decisivo… Eram bagatelas as coisas que me retinham, vaidades de vaidades, minhas antigas amigas; puxavam-me pela minha roupa de carne e diziam-me em voz baixa: “Queres deixar-nos? Tão mal nos portamos contigo?”» (Confissões, Livro 8, cap. 11).

Há ainda uma outra impureza do coração, tão sutil como perniciosa: a tibieza, a fé morna unida ao amor morno. Cristo, quando apareceu a São João na ilha de Patmos – onde João, desterrado, escreveu o Apocalipse –, fez-lhe o retrato espiritual desses cristãos “satisfeitos”, que às vezes precisam tanto ou mais de conversão do que os pagãos e os descrentes: Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, estou para te vomitar da minha boca …Porque dizes: de nada necessito… e não sabes que és infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que compres de mim…um colírio para ungir teus olhos, de modo que possas ver claro. Eu repreendo e castigo aqueles que amo (Ap, 3,14-19).

Padre Francisco Faus