Neste
mês de maio voltamos nossos olhares para Maria a Mãe de Jesus, ela é para nós
modelo de discípula, pela sua fé aderiu ao plano de Deus, colaborando com a
obra da redenção desde seu início, antes mesmo dos apóstolos. Quais foram as
virtudes de Maria e qual delas foi a maior?
Falar
de Maria de Nazaré, a mãe de Jesus, relacionada às virtudes, nos faz primeiro
refletir no sentido desta palavra “virtude” para nós cristãos. É uma palavra latina:
virtus, que designa a energia interior, a energia da alma bem nascida e
formada. Existem as virtudes naturais que se adquirem e as virtudes
sobrenaturais, que são infundidas e doadas, como fruto da graça de Deus agindo
na pessoa. Falar de Maria em relação às virtudes nos remete a
uma questão teológica mais profunda, ou seja: falar de Maria e a ação do
Espírito Santo nela.
Desde
a origem da história do Povo de Deus na teofania do monte Sinai, até a
culminação eclesial em Pentecostes, o Espírito é o mesmo: força de Deus
presente como promessa e realidade de salvação, que se concretiza e se
expande para gerar vida e vida em abundância. Jesus sem dúvida é aquele
que recebeu a plenitude do Espírito Santo, na sinagoga de Nazaré ele lê o profeta
Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque ele me consagrou com a
unção...” e em seguida diz: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que
vocês acabam de ouvir” ( Lc. 4, 14-21). Porém o Espírito Santo está em Maria,
ela recebeu a força do Espírito Santo.
O
anjo diz a Maria: “O Espírito Santo virá sobre ti e a forca do Altíssimo te
envolverá com sua sombra” ( Lc. 1,35). No início do diálogo ele havia saudado
Maria; “Alegra-te cheia de graça, o Senhor está contigo” ( Lc 1,28). O Senhor
está com Maria e sobre ela ainda virá com sua forca (virtus) para envolvê-la
totalmente. Maria então é aquela que foi envolvida por Deus a partir de dentro
– ela concebe o filho de Deus – e a partir de fora: ela está envolta na
força de Deus.
Na
força do Espírito Santo Maria vai percorrer um longo itinerário espiritual, no
qual ela se mostra repleta de todas as virtudes que são dons e frutos do
Espírito Santo. Ela trilhar um itinerário difícil: passar de mãe para discípula
de seu filho. Vai mergulhando cada dia na solidão misteriosa, na qual o
mistério a capturou: Jesus deve dedicar-se totalmente às coisas do Pai ( Lc
2,49) e ela vai ficar só, na sua busca “guardando e meditando em seu coração”(
Lc 2,51). Maria vai a cada dia buscando e refazendo no diálogo íntimo com
Deus, a sua confiança sem limites e renovando o seu sim, o seu “faça-se”. Sendo
mãe teve de comportar-se como discípula. E aí então brilha a grande virtude de
Maria, a fé: “bem-aventurada você que acreditou” dirá Isabel ( Lc 1,45).
A fé e a adesão total de Maria ao plano de Deus, fez dela a primeira discípula de Jesus, pois ela foi a primeira a receber a notícia de sua vinda (anunciação) e acreditou, aderiu, confiou totalmente dispondo-se a servir e colaborar com o plano de Deus. Na sua humildade ela se abre ao dom que lhe é proposto. Eis aí o grande amor, a caridade exemplar de Maria: amor total a Deus, amor pleno para com a humanidade. Dispôs-se a assumir a tarefa de ser a mãe do salvador, o que lhe faria sofrer certamente: “uma espada de dor traspassará seu coração”( Lc 2,35). Sendo virgem, ela concebe em seu seio, a Palavra, que primeiro concebeu no coração pela fé. Eis aí Maria, repleta de todas as graças e virtudes: toda de Deus pela obediência, toda dos irmãos e irmãs pela generosidade sem limites.
A fé e a adesão total de Maria ao plano de Deus, fez dela a primeira discípula de Jesus, pois ela foi a primeira a receber a notícia de sua vinda (anunciação) e acreditou, aderiu, confiou totalmente dispondo-se a servir e colaborar com o plano de Deus. Na sua humildade ela se abre ao dom que lhe é proposto. Eis aí o grande amor, a caridade exemplar de Maria: amor total a Deus, amor pleno para com a humanidade. Dispôs-se a assumir a tarefa de ser a mãe do salvador, o que lhe faria sofrer certamente: “uma espada de dor traspassará seu coração”( Lc 2,35). Sendo virgem, ela concebe em seu seio, a Palavra, que primeiro concebeu no coração pela fé. Eis aí Maria, repleta de todas as graças e virtudes: toda de Deus pela obediência, toda dos irmãos e irmãs pela generosidade sem limites.
O Concílio
Vaticano II ressalta a santidade iminente de “Maria que refulge para toda
a comunidade dos eleitos como exemplo de virtudes’( Lumen Gentium n. 65
). Porém, nós podemos nos perguntar qual a maior virtude de Maria? Se nela
brilham de maneira fulgurante todas as virtudes em especial a fé, a
esperança e a caridade, que são virtudes teologias, qual seria a maior? A
maior virtude de Maria sem dúvida foi o desprendimento e a total
disponibilidade a Deus: “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a
tua palavra” (Lc 1, 38). E ainda, quando ela agradece ao Senhor, vai
exclamar: “...olhou para a humilhação de sua escrava”(Lc 1,48).
Este
desprendimento e total disponibilidade a que Maria chama de “humilhação” e que,
em muitos lugares vem traduzido como humildade, é a expressão de quem está como
a terra (húmus), em total disponibilidade para que sobre ela tudo se faca.
Através de seu gesto de entrega total, de esvaziamento total de si, confiando
de maneira absoluta na palavra e no amor do Pai, Maria se converte em
receptáculo dos dons do Espírito Santo. Sem este esvaziamento, este abaixar-se
e colocar-se totalmente disponível a Deus, nada poderia ter sido feito. Na
medida em que saímos de todas as coisas, nesta medida Deus entra em nós, com
tudo o que Ele é e tem. A oração de Maria, portanto, foi sempre esta:
“Senhor, não me dês nada, senão aquilo que Tu queres, faze, Senhor, em minha
vida, em cada momento, o que tu queres e como Tu queres”.
A
maior virtude de Maria foi esta perfeita simplicidade, este desprendimento
total e esta disponibilidade perfeita à graça de Deus. Podemos nos perguntar:
como Maria pode permanecer nesta virtude tão elevada, que constitui a busca dos
maiores místicos, tanto do ocidente como do oriente. E como Maria atingiu tão
grande virtude? Foi sem duvida a graça de Deus que a dotou especialmente para
que pudesse cumprir sua vocação singular. Deus lhe deu uma graça especial: sua
imaculada conceição. A nós todos, o pecado torna difícil nossa entrega
total a Deus, ficamos presos no egoísmo. Maria ao invés, teve a força
necessária para estar totalmente disponível a Deus em um grau elevadíssimo,
total.
Nisto
devemos imitar Maria. Ela é o sinal da fidelidade e da disponibilidade total a
Deus. Nesta imitação de Maria, em nossa caminhada para Deus, podemos estar
unidos, todos, protestantes, ortodoxos e católicos. Ela é um grande sinal (cf.
Ap. 12) que Deus nos dá, para mostrar o seu poder de fazer grandes coisas
nos pequenos e humildes. Quem se humilha será exaltado dirá Jesus. Quem se
esvazia será planificado. Deus estará totalmente disponível por toda a
eternidade aos que foram disponíveis a Ele durante a curta peregrinação
terrena. Que Maria repleta do Espírito Santo, mulher de todas as virtudes nos
ajude a obtermos esta que é a fonte de todas as virtudes: humildade,
desprendimento e total disponibilidade.
Nós
sabemos o quanto o materialismo tomou conta dos corações. A pessoa hoje é
tomada pelo desejo. A sede de prazer embota corações e mentes. A inquietação e
a agitação compõem a música de fundo de nossa sociedade competitiva e violenta.
Não há paz nem alegria. Pois bem, a força do Espírito Santo que envolveu Maria
conferiu-lhe todas as virtudes. E isto foi possível porque ela primeiro
esvaziou-se totalmente, vivenciando a grande virtude do desprendimento, ou
seja, da total disponibilidade a Deus. Assim, ela pode ser
convidada pelo anjo a alegrar-se (Lc 1,28), pois a ela que se esvaziou
completamente foi entregue por primeiro o maior dom: Jesus Cristo.
Dom Pedro Carlos Cipolini
Bispo Diocesano de Amparo (SP)