A família está, no coração da Igreja, como uma de
A família verdadeiramente cristã busca viver intensamente os
preceitos evangélicos e a doutrina da Igreja. Por isso, quando a Igreja propõe
a paternidade e maternidade responsável não está impondo uma nova lei, ou algo
arbitrário. Está na linha do que lhe é próprio e devido, como ideal inerente à
vocação familiar.
É o plano de Deus e está na ordem natural a realização
humana. Mas, o que se vê nos dias de hoje é uma espécie de inversão dessa ordem
e um afastamento desse desejo de Deus. Parece que existe, especialmente nos
jovens, um temor em assumir as responsabilidades do matrimônio, um medo ou uma
insegurança quanto ao futuro. O matrimônio parece assustar.
Logicamente há causas fáceis a serem determinadas: a
instabilidade econômica, a dificuldade em se conseguir emprego estável,
desarmonia familiar e tantas outras. Chega-se a duvidar do amor, a questionar a
vida, a desacreditar da liberdade. De onde vem esse estado de coisas?
De uns tempos para cá, o número de separações tem aumentado
e cada vez mais os jovens preferem experiências sexuais temporárias,
provisórias a relacionamentos efetivos. Nem mesmo ao namoro estão dispostos,
preferindo “ficar”, o que é pior. Por não se ter perspectiva de futuro, nem o
presente é valorizado. Como conseqüência muitas vezes ainda mais terrível,
sobrevém uma gravidez indesejada que acaba sendo interrompida por abortamento.
Onde estaria a solução? Qual o caminho certo?
Em primeiro lugar, é preciso ter em mente, que a vida
familiar faz parte do Plano de Deus.
O Papa nos exorta a construir a base da Humanidade e da
Igreja sobre a família (João Paulo II, Familiaris Consortio – conclusão). Por
isso, é preciso lutar pela família não apenas enquanto realidade social, mas
como Plano de Deus e considerar suas conseqüências, como: visão clara de
Igreja, aceitação de suas exigências morais e espirituais. Isto se realiza com
séria preparação para a vida familiar, visão exata da sexualidade, fecundidade,
aceitação livre e consciente dos filhos como “o dom mais excelente do
Matrimônio” (Gaudium et Spes, nº 50; Humanae Vitae, nº9), a educação dos mesmos
e o acompanhamento nas diversas etapas da vida.
A busca de uma paternidade e maternidade responsável, é um
processo lento e gradativo e deve acompanhar os jovens mediante catequese
adequada que favoreça o crescimento em idade e conhecimento do mundo e da
realidade. No momento decisivo de preparação imediata para o Matrimônio, essa
responsabilidade receberá grande impulso. Aos jovens que buscam, com
sinceridade, essa preparação, a Igreja está sempre pronta a oferecer ajuda. A
paternidade e maternidade responsável liberta decidida e definitivamente o
jovem casal de toda insegurança, perplexidade, medo, permissividade, amor
livre. Liberta para o amor, pois revela todo o valor, o preço da pessoa humana
em si mesma e no seu relacionamento “familiar”.
Com essa visão de fé, será bem mais fácil superar as
dificuldades, as limitações, enfrentar corajosamente as pressões sociais. Uma
vida a dois e a bênção dos filhos é sinal da grande responsabilidade, dada por
Deus. Porém, Ele mesmo fortalece o casal cristão com as virtudes necessárias
para viver o dever de estado. Isto, mediante o Sacramento do Matrimônio.
Não cabe, portanto, num lar cristão – antes de tudo –
pensamentos de “controle de natalidade”, “programa de planejamento familiar” e
outros pseudovalores e contravalores. Para enfrentar esse tipo de mentalidade,
a Igreja propõe a valorização da pessoa humana em todas as suas possibilidades,
através da paternidade e maternidade responsáveis.
Diz a Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira (citação de nosso
livro: “Preparação para o Casamento e para a Vida Familiar”, já em sua oitava
edição): “Não podemos falar de paternidade responsável, no sentido restrito e
amplo da palavra, tomando por base valores transitórios. O valor da criatura
gerada não pode estar subordinado a restrições e distorções do ambiente social
ou submetido a uma lei contingente. A única analise possível é pela Fé. De nada
servem outros raciocínios. O homem deve ser homem em absoluto e basta”. (cf. p.
68).
O Papa Paulo VI, em sua Encíclica Humanae Vitae, falava aos
casais cristãos nestes termos: “Foi a eles (aos casais cristãos) que o Senhor
confiou a missão de tornarem visível aos homens a santidade e a suavidade da
lei que une o amor mútuo dos esposos com a sua cooperação com o amor de Deus,
autor da vida humana. Não pretendemos, evidentemente, esconder as dificuldades,
por vezes graves, inerentes à vida dos cônjuges cristãos: para eles, como para
todos, de resto, “é estreita a porta e apertado o caminho que conduz à vida”
(Mt 7,14; Hb 12,11). Mas, a esperança dessa vida, precisamente, deve iluminar o
seu caminho, enquanto eles corajosamente se esforçam por “viver com sabedoria,
justiça e piedade no tempo presente” (Tt 2,12), sabendo que “a figura desse
mundo passa” (1 Cor 7,31).
Que Deus nos conceda, cada vez mais, famílias bem
estruturadas, jovens ardorosos e cheios de grandes ideais e sonhos, jovens que
se entusiasmem pelo Evangelho da vida, pelos valores da “Comunidade de amor e
vida”, qual exemplo do amor de Cristo pela sua santa Igreja! A Pastoral
Familiar entrará em cena como grande auxiliar para jovens nubentes, jovens
neo-casados e para casais adentrados em sua vida e experiência familiar.
D Eusébio Oscar Scheid-Arcebispo do Rio de Janeiro