“Jesus e
seus discípulos atravessavam a Galileia, mas ele não queria que ninguém o
soubesse. Ele ensinava seus discípulos” (Mc 9,30-31). Jesus foi reconhecido e
chamado muitas vezes de Rabi, Mestre. Reuniu em torno de si discípulos que dele
aprendiam as lições da vida, aproveitando os encontros e desencontros diários.
Uma das mais incômodas de tais lições, e a mais decisiva, foi o anúncio da
paixão, repetida pelo menos três vezes. “Mas eles não compreendiam o que lhes
dizia e tinham medo de perguntar” (Mc 9,32). Eram como estudantes cujo
interesse não tem coragem de ir ao fundo das questões. No final das contas, na
hora decisiva, a “turma de alunos” se dispersou. Após a Ressurreição, “Jesus
apareceu aos onze discípulos, enquanto estavam comendo. Ele os criticou pela
falta de fé e pela dureza de coração, porque não tinham acreditado naqueles que
o tinham visto ressuscitado” (Mc 16, 14). Com eles e muitas vezes gazeteiros na
Escola do discipulado, aprendamos de novo.
Quando
crianças, nossos pais nos ensinaram lições de civilidade. Quantas vezes ouvimos
recomendações tão concretas e importantes: não “avançar” na comida, esperar os
outros servirem primeiro, dizer “muito obrigado”, pedir a bênção, lavar as
mãos, prestar atenção, não dizer palavrões! E se cristãs as nossas famílias,
tivemos a alegria de ouvir que o que se faz ao próximo, é ao próprio Jesus que
se faz. Quantas e belas lições nos deixaram os gestos de caridade dos que nos
precederam no caminho da vida, imprimindo em nossos corações valores que dão um
timbre diferente ao que fazemos pela vida afora. Como “é de pequeno que se
torce o pepino”, ou aprendemos cedo ou então podemos converter-nos, fazendo-nos
crianças depois de grandes!
Os
discípulos de Jesus entraram continuamente na escola. Quando disputavam os
primeiros lugares ou queriam saber quem era o maior, Jesus convida, numa das
lições mais preciosas, a assumirem o último lugar, o espaço do serviço humilde,
superando as competições, “criar espaço para o irmão, levando os fardos uns dos
outros (Cf. Gl 6,2) e rejeitando as tentações egoístas que sempre nos insidiam
e geram competição, arrivismo, suspeitas, ciúmes” (Novo Millenio ineunte 43).
O mundo
competitivo em que vivemos convida a uma corrida tantas vezes desenfreada e
desrespeitosa à dignidade e aos direitos básicos das pessoas humanas. No
vale-tudo cotidiano, percorre-se um roteiro que vai do troco da mercearia às
grandes fortunas alcançadas a preço de corrupção, lavagem de dinheiro e outras
mazelas hoje postas à vista de todos, inclusive nos julgamentos realizados nas
mais altas esferas da magistratura e que podem ser assistidos pelos meios de
comunicação. Para passar à frente, conquistar e manter o poder, os limites
éticos são ignorados ou desprezados e as cifras, descritas pelo menos em
milhões, causam indignação aos que têm um mínimo de consciência da cidadania. Menos
mal que alguma luz, esperamos consistente, aparece no fundo do túnel.
A disputa
pelo poder legislativo e executivo municipal, corrente nos dias que precedem as
eleições, é legítima numa sociedade democrática, mas cabe aos cidadãos o filtro
da consciência que lhes possibilite decidir bem, alçando aos cargos em jogo
pessoas que sejam dignas, as melhores ou pelo menos as “menos piores”.
Se nos
referimos às raízes familiares das pessoas no processo educativo, vale aqui
recomendar com simplicidade e clareza a todos que os candidatos aos cargos
devem ter uma folha de serviços que possibilite conferir o que fizeram e como
fizeram pelo bem da sociedade. É bom saber com que “companhia” andaram ou
andam, para recordar os antigos e sábios conselhos dos mais velhos. Quem
compartilhou aventuras com as muitas quadrilhas existentes, pode até mudar, mas
é bom verificar com calma. Foram ainda os nossos pais que ensinaram o quanto
são complicadas as pessoas que contam muitas vantagens. O valentão da esquina,
o que pensa ser dono da rua ou do mundo, costuma ter muita coisa a esconder!
Espero que sejamos mais sábios, pois as promessas correntes nas campanhas são
tantas vezes irreais.
Enfim, há
valores para nós cristãos irrenunciáveis: a vida desde a fecundação até seu
ocaso natural, o plano de Deus que criou o homem e a mulher, no maravilhoso
projeto de realização descrito no livro do Gênesis, a dignidade do matrimônio e
da família, a não interferência dos poderes públicos na paternidade e
maternidade responsáveis, a liberdade religiosa, ao lado de outros deles
decorrentes. Dentro de tal horizonte, restam-nos alguns dias para refletir e
decidir conscientemente. O Senhor nos ajude, para que possamos contribuir para
uma sociedade mais digna e justa.
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém