Este é um tema polêmico que causa em todo ambiente
cristão um desconfortável questionamento, pois, os cristãos católicos acreditam
e veneram Maria mãe de Jesus sempre virgem. Já os cristãos protestantes acreditam
que Maria teve outros filhos, fundamentando nos Evangelhos que trazem
claramente este termo: os irmãos de Jesus (cf: Mt 13,55 e Mc 6,3).
Para podermos responder este questionamento é
preciso ter com base a figura da família para o judaísmo no tempo de Jesus.
Toda a estrutura familiar era patriarcal, ou seja, o chefe da família era
sempre o pai. Na sua falta, quem tomava o seu lugar era o filho mais velho.
Sabendo que este deveria ter mais de doze anos, pois, menor que esta idade,
juntamente com a mulher (mãe), a sociedade judaica os classificavam como uma
categoria inferior como os surdos, os cegos, os pagãos, etc…
Tendo em vista esta compreensão familiar judaica,
partimos agora para o termo propriamente dito: irmão, irmãos. O termo irmão na
cultura hebraica e aramaica transmite grau de parentesco e não somente os
filhos de mesmos pais. Tomemos como exemplo Ló e Abrão, que era tio e sobrinho.
Conforme Gênesis 11,27; 13,8 e 14, 12, conclui-se no primeiro texto, Ló como
sobrinho de Abrão. No segundo é o próprio Abrão que diz ser irmão de Ló. Já no
terceiro é confirmado que Ló é sobrinho de Abrão.
Podemos pensar assim: o Antigo Testamento foi
escrito em hebraico e o Novo Testamento foi escrito em grego. Como fica o termo
“irmãos de Jesus”, se esta explicação é da língua hebraica, mas o texto foi
escrito em língua grega?
O termo grego usado é adeufos que significa
grau de pertença, como no hebraico, mas também exprimem o termo irmão, irmãos,
filhos dos mesmos pais. A situação fica ainda mais confusa. Afinal, Jesus teve
outros irmãos ou não?
Os católicos têm o Dogma da Virgindade de Maria, ou
seja: virgem antes, durante e depois o parto. Os protestantes afirmam que Maria
após o nascimento de Jesus viveu sua relação conjugal, normalmente com José.
Sabendo que para a cultura hebraica, a descendência era sinal da benção de
Deus.
Recentemente um estudo feito por um arqueólogo
americano constatou que José era viúvo e tinha outros filhos quando se casou
com Maria. Estes que supostamente cresceram juntos com Jesus. Mas também outros
que nasceram do casamento com Maria, mais novos que Jesus. É a ciência e a fé,
que como dizem por aí, “devem andar juntas para a mesma direção”. E a fé
católica, onde fica? E este dogma tão antigo e creditado pelos católicos?
A resposta, a própria Sagrada Escritura nos dá.
Tendo-a como inspiração divina para os religiosos e como um testamento
creditado, por ser da época, para os cientistas. No Evangelho de Lucas 2,41-53,
é relatado que, indo para a Páscoa em Jerusalém, na volta Maria e Jose se dão
conta que Jesus não estava com eles. Encontrando-o no Templo, é Maria que
conversa com Jesus, enquanto José fica em silencio. Primeira coisa, Jesus tinha
doze anos, portanto não deveria ser Maria a questioná-lo, e sim José, tendo
como base a estrutura familiar judaica. Um outro fato importante é justamente
sobre os supostos filhos de José. Mesmo não sendo filhos de Maria, ela deveria
tê-los como vossos, pois seriam da mesma família. Justamente por isso, Maria
deveria ter ficado com os outros “irmãos de Jesus”, e não ir a sua procura,
pois ele com doze anos, já seria cuidado diretamente pelo pai e não mais pela
mãe. Assim, podemos concluir que Jesus era o filho mais velho daquele casal.
E os mais novos? Aqueles que vieram depois de
Jesus? No Evangelho de João 19,25-27,
Jesus no alto da cruz, entrega João à sua mãe. Fez também a entrega de sua mãe
para o discípulo João. Se Jesus tivesse outros irmãos mais novos, não seria
João quem cuidaria de Maria, e sim o mais velho depois de Jesus. Com isso
pode-se concluir que Jesus não tinha outros “irmãos” a não ser os discípulos.
Podemos questionar ainda sobre os nomes dos
supostos “irmãos de Jesus” em Mc 6,3 e em Mt 13,55.
Para responder a isso, vamos ao Evangelho de Marcos
15,40 e 47. Tiago Menor, Joset e Salomé eram filhos de uma Maria. Em Mateus
27,56 aparece, Maria, Maria Madalena, e a mãe dos filhos de Zebedeu, que eram:
Tiago Maior e João, o discípulo amado. Mas é no Evangelho de João 19,25-27, que
se diferencia a Maria mãe de Jesus e a Maria mulher de Cléofas, que a Tradição
diz ser irmão de José pai de Jesus. Ou seja, os nomes dos irmãos, na verdade
são dos primos de Jesus.
Com isso, conclui-se que os verdadeiros irmãos de
Jesus são todos aqueles que “ouvem a Palavra e a põe em pratica” (Mc 3,35).
Sendo o discípulo amado entregue a Maria, mãe de
Jesus pode-se concluir que ali estava a primeira e verdadeira família de Jesus,
que ultrapassando os laços sanguíneos, abre para nós a participação na sua
família. Maria foi a única criatura que participou da família de Jesus no
sangue e no espírito, pois, aceitou desde o Anuncio do Anjo a proposta de
seguimento. Com isso, rejeitar Maria é rejeitar aquele que quis precisar dela
para entrar na humanidade e assim, tornar cada um de nós humanos, participantes
da sua divindade.
Pe. Anderson Marçal - Blog Canção Nova