A
devoção a São Francisco de Assis tomou conta de toda a Igreja. Do pobre de Assis
se aproximam crentes e ateus. Ele passou a ser ícone para todos. Sua pobreza,
despojamento, doçura, coragem, amor à natureza, ao ser humano e paixão a Cristo
seduziu muitas pessoas para fazer a experiência do seguimento a Jesus Cristo.
A
Igreja, em sua liturgia, comemorando a festa de São Francisco de Assis, aplica
esta frase do Evangelho: "Eu te louvo, Pai, Senhor do Céu e da terra, porque
escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos".
(Mt 11,25.)
São
Francisco era um pequenino perante o mundo, porém Deus lhe havia revelado os
segredos da verdadeira grandeza. Fez-se pobre na terra, para ser rico no céu.
Quis ser desprezado pelo mundo, para conquistar o amor de Deus. Desapegou-se de
tudo... Para possuir o Tudo, Deus. A sua vida é um romance: faz rir, chorar,
orar, amar
Deus.
Não
pensemos que é somente um santo admirável, é também imitável, e seus exemplos
de Apóstolo e de Serafim são um luzeiro para todos os que desejam santificar-se
e fazer o bem.
Tem-se
idealizado muito São Francisco... Ele é um ideal, é certo: mas é também um
modelo. É este modelo que vamos contemplar aqui, percorrendo a sua vida e
destacando dois pontos luminosos.
O apóstolo ardente - Francisco nasceu em
1182; era filho de abastado negociante de Assis. Era rico, mas não se sentia
feliz. Sentia grandes atrativos para o prazer e um vivo desejo de ser mais
rico.
Entretanto,
conservara um coração caridoso, e prometeu nunca recusar a esmola a quem
pedisse. A caridade é um fogo: e este fogo tende sempre a estender-se mais:
Francisco tornou-se o grande amigo dos pobres.
Quando
jovem, encontrou um pobre quase nu; imediatamente despe-se de seus vestidos
novos e elegantes, e os dá ao pobre. Tendo encontrado um leproso, recuou de
horror, mas voltando a si desta primeira impressão, aproxima-se do infeliz,
abraça-o com afeição e lhe dá a esmola.
Numa
peregrinação que fez a Roma encontrou certo número de pobres à porta da Igreja
de São Pedro; inflamado de caridade, despe-se de seus vestidos e troca-os pelos
farrapos dos mais míseros dentre eles, passando ali o dia no meio dos mendigos.
Era a
vitória definitiva de Francisco sobre a sua vaidade nata e a sua inclinação à
elegância: apagou de uma vez estas duas paixões. Daí em diante o sonho de Francisco é ser pobre e humilhado.
O
pai, contrariado pela desonra de ter um filho mendigo, levou-o diante do Bispo
de Assis, queixando-se da liberalidade exagerada do filho, e exigindo a
renunciar a sua parte de bens na herança da família.
Francisco
cede tudo... e chega a entregar ao pai as vestes que trajava, dizendo que agora
podia dizer com toda verdade: "Pai Nosso , que estais no céu", que
não tinha mais outro Pai. O pai expulsou-o de casa como filho pródigo e vergonha
da família.
E lá
se foi o jovem mendigo pelo mundo afora, sem dinheiro, sem recursos, sem
alimentação, sem amigos, trajando veste grosseira, e confiando-se para tudo, à Providência
Divina.
Começou
a vida de pobre mendigo: pediu esmolas para reconstruir a Igreja de São Damião,
em Assis, que ameaçava ruir, e pôr em obras a de São Pedro. Retirou-se depois
para perto de uma antiga igreja dos Beneditinos, chamada Porciúncula, dedicada
a Nossa Senhora dos Anjos, reconstruiu-a e fixou ali sua morada.
Um
dia, assistindo à Santa Missa, ficou fortemente impressionado pelas palavras do
Evangelho: "Não leveis ouro, nem prata, nem dinheiro à cintura; nem sacola
para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, pois o trabalhador
tem direito a seu sustento". (Mt.10,9.)
Francisco
tomou o texto ao pé da letra e fez dele o fundamento da regra que sonhava
escrever. Tirou logo os sapatos, a cinta de couro, não conservando senão uma
grosseira túnica cingida por uma corda.
Nestes
trajes novos do Evangelho, começou a pregar a penitência nas ruas e nas praças
públicas. A novidade excitava a curiosidade, e a curiosidade fez com que todos
escutassem a sua pregação.
A
audição dessa palavra estranha, que parecia o eco daquela de João Batista,
impressionou e converteu os pecadores. Alguns de seus auditores, excitados pela
sua palavra e seu exemplo, quiseram segui-lo e imitá-lo,
O
número destes discípulos chegou a sete e, depois, doze. Francisco resolveu
escrever para eles uma pequena regra, curta e prática, e levá-la a Roma,
pedindo a aprovação do Papa Inocêncio III.
Encontrou
oposições, mas Deus quis a obra e manifestou sua vontade por meio de uma visão
do próprio Papa que, depois, aprovou o gênero de vida dos novos apóstolos.
Francisco, antes de deixar Roma, recebeu a tonsura das mãos do Cardeal de
Colonna... e depois, provavelmente, o Diaconato, em 1209.
Eis
Francisco com seus primeiros discípulos a percorrer as cidades e os campos,
pregando a penitência e a pobreza, à sociedade da época que fervia de cobiças e
de ódios. O zelo de Francisco era o fogo, como o seu coração: o seu lema era
ganhar almas e, se possível, sofrer o martírio.
Resolveu
pregar o Evangelho aos maometanos. Embarcou para o Egito, onde foi preso e
levado perante o Sultão. Começou a sua evangelização, porém o terreno não era
propício e, embora recebido com veneração pela sua coragem, nada pôde
conseguir.
Daí,
Francisco foi para a Terra Santa e voltou para a Itália, onde graves dificuldades
exigiam a sua presença.
O
número dos Irmãos aumentara consideravelmente e as suas ermidas se
multiplicavam na Itália. Em menos de três anos contava já 60 casas.
O serafim de amor - Francisco sentiu
que estava no termo da sua vida apostólica. O seu zelo havia percorrido a
Itália e comovido a Europa.
Além
dos milhares de almas fervorosas que abraçaram a Regra dos Frades Menores, e
das Clarissas, fundada por ele, centenas de milhares haviam entrado para a
Ordem de penitência, para os leigos. Hoje denominada Ordem Franciscana Secular.
Sem
se desinteressar da Ordem, Francisco havia deixado o governo desde 1219, para
aplicar-se à contemplação que o atraía irresistivelmente. Retirou-se primeiro
ao Vale de Rieto e, no ano seguinte (1224), refugiou-se numa choupana do Monte
Alverne, no meio de rochedos cercados de espessas florestas.
Certo
dia, meditando com ardor sobre a Paixão do divino Mestre, viu descer do céu um
Anjo luminoso com seis asas: duas elevadas acima da cabeça, duas estendidas
para o voo e duas cobrindo o corpo.
A
aparição tinha os braços estendidos, os pés juntos e parecia pregada na cruz. No
rosto do Serafim, Francisco contemplava a beleza dos traços do Crucificado, e
ouviu uma voz a lhe dizer que o fogo do amor o transformara na imagem de Jesus
crucificado.
Ao
mesmo tempo, uma viva dor trespassa-lhe os membros: cravos pretos atravessam-lhe
as mãos e os pés, e de uma ferida aberta em seu lado, o sangue começa a jorrar.
Acaba de receber os estigmas da Paixão.
Após
a festa de São Miguel, disse adeus ao Monte Alverne e, sentindo que seus pés
não mais suportavam o andar, voltou para a Porciúncula montado num jumentinho,
semeando milagres por onde passava.
Dores
atrozes o atormentaram. Extenuando pelos jejuns e privações, alquebrado por
frequentes hemorragias e quase cego, consentiu em descansar numa choupana que
Santa Clara lhe fez preparar no jardim de São Damião, onde residiam as
religiosas.
É aí,
nas trevas da cegueira' que este serafim de luz compôs o célebre "Cântico
do Sol". Sentindo aproximar-se o fim, Francisco pediu que o levassem para Assis.
De
Assis, a seu pedido, foi levado para a igreja de Nossa Senhora dos Anjos, onde
desejava morrer. Na Porciúncula, deu as suas últimas instruções e morreu como
havia vivido, em 4 de outubro de 1226.
Conclusão - Cada santo tem uma
fisionomia própria; não há dois santos semelhantes. São Francisco de Assis é o
modelo perfeito de desapego de tudo... e o pobre por amor de Jesus Cristo,
porém é mais do que isso.
O traço
distintivo do Santo é o zelo as pessoas, provindo diretamente de seu amor a
Deus! A sua força, a sua grandeza, o segredo da ação admirável está em sua
união íntima com Deus, na contemplação sobrenatural.
É o
segredo desta atividade fecunda que o Santo exerceu sobre as multidões e sobre
os seus filhos espirituais.
É um
exemplo de apóstolo que se dedica à conversão das
pessoas. Deus, em primeiro lugar! Deus,
amado em si mesmo... e Deus amado no próximo: é a fórmula do apostolado.
Queiramos,
pois, imitar o zelo de São Francisco, procuremos imitar-lhe o espírito de união
com Deus. Ninguém pode tornar-se apóstolo ardente sem ser serafim de amor!
D. José Edson - Bispo Diocesano de Eunápolis/BA.
D. José Edson - Bispo Diocesano de Eunápolis/BA.