Mc 9, 2-10 - Convido você meu irmão, minha irmã
a louvar e agradecer a Deus; porque foi em 06/08/2000 que das mãos de Dom Óscar Lino
Lopes Fernandes Braga, então Bispo diocesano de Benguela – Angola, recebi a
graça do sacerdócio! Deus me estabeleceu “ponte” entre Ele e o Seu povo! Como
digo sou ainda pequeno e frágil, muitas vezes a tempestade e a água que passa
debaixo de mim me fazem abalar e agitar. Por outras as vezes o peso das pessoas
que passam por cima de mim quase que me quebram ao meio. Mas como dizia são
Paulo: prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas porque quanto me sinto fraco
então é que sou forte. Sou forte porque Cristo me faz ver que por detrás da
cruz está a glorificação, ou seja, a transfiguração.
Diante do escândalo da Cruz, a
Palavra de Deus apresenta-nos o Cristo glorificado através de uma magnífica
teofania, isto é, a manifestação de Deus. Revela-nos sua glória para dar
sentido à morte de Jesus na cruz. Jesus levou seus discípulos escolhidos para
uma alta montanha e se transfigurou diante deles. Suas vestes se tornaram
brancas e brilhantes. Apareceram-lhe Moisés e Elias, símbolos da Lei e dos
Profetas, síntese da antiga Aliança. Jesus condensa em si a Lei e a Profecia.
Ele, em seu sangue sela a nova Aliança (Lc 22,20). Nesse momento entraram na
nuvem que significa a presença de Deus. O Pai apresenta Jesus aos discípulos
como seu Filho amado.
O Evangelho da Transfiguração
liga-se à Paixão, pois tira os discípulos do escândalo da Cruz, dando-lhes a
visão da futura glorificação pascal. Refletindo o tema da Aliança e
Transfiguração participamos desta realidade. A obediência de Jesus deu-lhe a
vitória. A meta do cristão é a transfiguração de sua fragilidade pela
obediência da fé.
Somos transfigurados por Cristo a
partir do Batismo e da presença do Espírito em nós. Somos revestidos de Cristo.
Para chegar a isso somos convidados a subir o monte que é Jesus. Estando na
presença de Deus pelo amor, ouviremos as palavras do Pai: Este é meu Filho
amado, escutai o que Ele diz. O Filho diz as palavras que ouviu do Pai.
Deus prova Abraão pedindo o
sacrifício de Isaac. A Jesus é oferecida a Cruz. Abraão e Jesus deram a
resposta de aceitação da vontade de Deus. Somos instigados a responder com fé,
mesmo tendo que sacrificar nosso Isaac, nossos caprichos. Sem isso jamais
teremos uma fé que seja redenção. Na Eucaristia renovamos a aliança e somos
transfigurados.
O episódio da transfiguração de
Jesus deixa a mensagem que São Paulo em plenitude viveu, tendo podido
assegurar: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim. (Gl 2,20).
Trata-se da mudança radical do cristão no modelo divino. Imitação perfeita do
Filho de Deus, cujo conhecimento não deve ser meramente especulativo e cujo
amor tão pouco não pode ser apenas afetivo. Tanto os estudos sobre a pessoa de
Cristo como a fé no Redentor necessitam estar unidos às obras nas quais se
reflete a personalidade de cada um. Conhecimento prático, amor operativo. Ele é
a causa eficiente da regeneração do batizado e a causa exemplar de sua
santificação, modelo de todos os que se dizem seus discípulos.
Cristo se fez um modelo acessível e
atraente, perfeito e abrangente. Os cristãos podem transfigurar sua vida se
identificando com Ele: pobres, ricos, sábios e ignorantes e isto em qualquer
circunstância dado que Ele a todos resgatou, deu a vida sobrenatural e lhes
comunica seus dons celestiais. Ele manifesta uma ética geral e uma disciplina
universal de conduta para que se proceda como Ele agia, para que se viva como
Ele vivia, para que se sofra como Ele sofria. Ele quer se fazer presente no
mundo através de seus discípulos. O Apóstolo dizia: “Sede meus imitadores como
eu o sou de Cristo” (1 Cor 4,16). Deste modo o fiel se torna a imagem viva do
seu Senhor.
Jesus sempre presente nas palavras,
nas obras, no coração e na mente de cada um. Cristo o ideal da vida do
batizado, o objeto de suas aspirações, o imã de seus corações. Para isto é cada
um se interrogar a cada instante: Que pensaria Jesus neste momento? Como Ele
faria esta tarefa? Que quer Ele de mim aqui e agora? Como o posso agradar neste
momento?
Dá-se então o vir a ser do fiel no
seu Salvador numa total identificação com Ele no gotejar da renúncia de cada
minuto. O próprio Cristo afirmou: “Vós sois a luz do mundo” (Mt 4,14). Não
somos o fogo que deve arder nesta terra, mas devemos ser os propagadores de sua
chama de amor, dado que Ele é a fornalha ardente de caridade e veio para
colocar chama na terra (Lc 12,49).
Grandeza e responsabilidade do
cristão! Depende de cada um fazer da vida uma interrogação, um chamado sempre
susceptível de ser ouvido por todos as testemunhas que o vêem. É a imponderável
ação de uma alma sobre a outra. É se transfigurando em Cristo que o cristão
pode tornar os homens melhores. Com seu exemplo, mesmo sem palavras, o
verdadeiro seguidor de Cristo já torna seu irmão melhor. Onde uma pessoa boa,
submissa a Deus vive, reza, sofre, trabalha há uma lareira de calor sublime que
aquece, arrasta nos eflúvios das mensagens celestes.
Não basta estar cristão, é preciso
ser cristão transfigurado no modelo que é Cristo Jesus!
Padre Bantu Mendonça K. Sayla