Semear a esperança e propor novos caminhos. “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando
para o céu? Esse Jesus que, do meio de vós, foi elevado ao céu, virá assim, do
mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). Os discípulos formados
por Jesus foram acalentados com a presença d'Ele e agora se veem lançados à
missão, encarregados por Ele, quando de Sua partida para o Céu, de levar a Boa
Nova do Evangelho a todos os recantos da Terra: “Ide pelo mundo inteiro e
anunciai a Boa Nova a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem
não crer será condenado” (Mc 16,15-16).
Em todas as etapas de sua caminhada por esta terra os
cristãos são desafiados a buscar o ponto certo para pousar seu olhar e suas
esperanças. Trata-se de encontrar o ponto de referência que lhes possibilite
navegar pelas águas agitadas da vida, sem perder o rumo. Caminhar a esmo, sem
clareza de objetivos, não dá consistência a qualquer trabalho humano. Como da
parte de Deus há sempre a clareza de que deseja a salvação de todos e quer
formar uma única família, que quer o mundo unido e lança, pela ação do Espírito,
as sementes do Verbo em todas as partes, é preciso sempre aprender e seguir os
passos do Salvador. O Evangelho de São Marcos já constatava que “os discípulos
foram anunciar a Boa Nova por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua
palavra pelos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20).
O cristão busca as coisas do Alto, onde Cristo está à
direita do Pai (Cf. Cl 3,1). Sua tarefa não é apenas olhar para a realidade que
o envolve, mas semear a esperança, propondo novos caminhos. O olhar do
pesquisador, que aponta as tendências e constata a opinião pública, é
insuficiente para ele. Antes, cabe-lhe propor um jeito diferente de viver, cuja
origem é “do Alto”. Quando tudo aponta para a ganância e o acúmulo de bens, é
preciso semear a partilha e a comunhão. Quando o olhar do analista do dia a dia
enxerga apenas os crimes e a corrupção, devemos ir ao encontro de novas
práticas de partilha, existentes bem perto da gente, apostando na esperança,
ajudando as pessoas a se levantarem e a recomeçarem.
Alguns fatos me chamaram a atenção recentemente. Em visita
ao “MUPAT”, uma organização na “Cidade Nova”, região de Ananindeua, na
Arquidiocese de Belém, encontrei uma casa, posta à disposição de um grupo de pessoas,
onde trabalhos muito simples, com materiais muito simples, são destinados a
ajudar os membros da organização não governamental e a servir aos mais pobres.
Dois adolescentes, filhos de um catador de lixo, tornam-se “mestres” ao ensinar
sua arte de reaproveitar garrafas “pet”. À costura feita pelas mulheres que ali
se reúnem se ajunta a conversa, na partilha das dificuldades e na descoberta de
soluções para educar os filhos. Uma delas contava a respeito do filho, hoje
consagrado a Deus, saído de situações de risco. Um mundo novo, bem simples, ao
alcance de nosso olhar e de nossa mão!
Outro fato marcante foi a observação de um profissional de
comunicação, em meio à grandiosa procissão das velas, na Festa de Nossa Senhora
de Fátima. Partilhava comigo a alegria de sua escala de serviço, quando,
acostumado a pautas que incluem diariamente crimes e escândalos, era escalado
naquele dia para uma festa de fé! Parece pouco, mas seu coração e o mundo
ficaram diferentes, pois a câmera com que trabalhava colhia imagens diferentes,
era purificada pelo bem que gravava. Não menos significativo foi o fato de,
nesta semana, ter assinado a escritura, com a qual a “Obra Social Nossa Senhora
da Glória” recebeu a área localizada em Mosqueiro e na qual será implantada, na
Arquidiocese de Belém, a “Fazenda da Esperança”, para a recuperação de pessoas
envolvidas com drogas. Há tudo para fazer, mas já começamos!
A realidade que nos cerca é muito pequena para o tamanho do
sonho plantado por Deus. Fomos feitos por Ele para o que é melhor! Daí a
positiva inquietação do cristão que pretende viver sua fé. Onde quer que se
encontre, planta novas ideias, descobre soluções simples, acredita nos pequenos
gestos, aposta no bem que pode ser feito.
A Solenidade da Ascensão do Senhor, celebrada pela Igreja,
tornou-se o Dia Mundial das Comunicações Sociais. É que, entre a subida do
Senhor aos Céus e sua prometida volta no final dos tempos, cabe-nos encontrar
os meios adequados para levar a Boa Nova a todos os recantos da Terra. A
inteligência humana tem encontrado, desde os mais simples sinais, quais sejam
os olhares, sorrisos, lágrimas ou abraços, até chegar aos mais recentes e
trabalhados meios de comunicação, vias que possibilitam a comunicação entre as
pessoas. Estas vias podem servir ao bem ou ao mal, pois dependem dos que as
utilizam! Por isso, o Dia das Comunicações Sociais seja o dia em que, como
Igreja, desejamos entrar no coração das pessoas que realizam as comunicações,
para agradecer-lhes e pedir a Deus por elas.
E como os cristãos acabam propondo coisas que parecem
simples, mas que são importantes, chegue a todos, especialmente às pessoas que
trabalham nas comunicações, a conclusão da mensagem de Bento XVI para o Dia
Mundial das Comunicações Sociais de 2012, sobre “Silêncio e Palavra, caminho de
comunicação”: “Palavra e silêncio. Educar-se em comunicação quer dizer aprender
a escutar, a contemplar, para além de falar; e isto é particularmente
importante paras os agentes da evangelização: silêncio e palavra são ambos
elementos essenciais e integrantes da ação comunicativa da Igreja para um
renovado anúncio de Jesus Cristo no mundo contemporâneo. A Maria, cujo silêncio
“escuta e faz florescer a Palavra” (Oração pela Ágora dos Jovens Italianos em
Loreto, 1-2 de setembro de 2007), confio toda a obra de evangelização que a
Igreja realiza através dos meios de comunicação social”.
Dom Alberto Taveira Corrêa