quinta-feira, 16 de junho de 2011

CURSO RÁPIDO SOBRE NOVAS COMUNIDADES



Pequena História da Vida Consagrada - Parte I

"A vida consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espírito. Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus - casto, pobre e obediente - adquirem uma típica e permanente "visibilidade" no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas aguarda a sua plena realização nos céus.

Ao longo dos séculos, nunca faltaram homens e mulheres que, dóceis ao apelo do Pai e à moção do Espírito, escolheram este caminho de especial seguimento de Cristo, para se dedicarem a ele de coração "indiviso". Também eles deixaram tudo, como os Apóstolos, para estar com Cristo e colocar-se, com ele, a serviço de Deus e dos irmãos. Contribuíram assim para manifestar o mistério e a missão da Igreja, graças aos múltiplos carismas de vida espiritual e apostólica que o Espírito Santo lhes distribuía, e deste modo concorreram também para renovar a sociedade.

O papel da vida consagrada na Igreja é tão notável que decidi convocar um Sínodo para aprofundar o seu significado e as perspectivas em ordem ao novo milênio, já iminente.

Cientes, como estamos todos, da riqueza que constitui, para a comunidade eclesial, o dom da vida consagrada na variedade dos seus carismas e das instituições, juntos damos graças a Deus pelas Ordens e Institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado, pelas Sociedades de Vida Apostólica, pelos Institutos Seculares, e pelos outros grupos de consagrados nas novas formas de vida comunitária e evangélica, como também por todos aqueles que, o segredo do seu coração, se dedicam a Deus por uma especial consagração.

No Sínodo, pôde-se constatar a expansão universal da vida consagrada, tornando-se presente nas Igrejas de toda a terra. Ela estimula e acompanha o avanço da evangelização nas diversas regiões do mundo, onde não apenas são acolhidos com gratidão os Institutos vindos de fora, mas constituem-se também novos e com grande variedade de formas e expressões.

E se os Institutos de vida consagrada, em algumas regiões da terra, parecem atravessar momentos de dificuldade, em outros prosperam com vigor surpreendente, demonstrando que a opção de total doação a Deus em Cristo não é de forma alguma incompatível com a cultura e a história de cada povo. E não prospera só dentro da Igreja Católica; na verdade, a vida consagrada acha-se particularmente viva no monarquismo das Igrejas ortodoxas, como rasgo essencial da sua fisionomia, e está começando ou ressurgindo nas Igrejas e Comunidades eclesiais nascidas da Reforma, como sinal de uma graça comum dos discípulos de Cristo.

A presença universal da vida consagrada e o caráter evangélico do seu testemunho provam, com toda a evidência - caso isso fosse ainda necessário -, que ela não é uma realidade isolada e marginal, mas diz respeito a toda Igreja. No Sínodo, os Bispos confirmaram por diversas vezes: "é algo que nos diz respeito". Na verdade, a vida consagrada está colocada mesmo no coração da Igreja, como elemento decisivo para a sua missão, visto que exprime a íntima natureza da vocação cristã "e a tensão da Igreja-Esposa para a união com o Esposo. Diversas vezes se afirmou, no Sínodo, que a função de ajuda e apoio exercida pela vida consagrada à Igreja não se restringe aos tempos passados, mas continua sendo um dom precioso e necessário também no presente e para o futuro do Povo de Deus, porque pertencem à sua vinda, santidade e missão.

Como não recordar, cheios de gratidão ao Espírito, a abundância das formas históricas de vida consagrada, por ele suscitadas e continuamente manifestadas no tecido eclesial? Assemelham-se a uma planta com muitos ramos, que assenta as suas raízes no Evangelho e produz frutos abundantes em cada estação da Igreja. Que riqueza extraordinária! Eu mesmo. No final do Sínodo, senti a necessidade de sublinhar este elemento constante na história da Igreja.

O Sínodo recordou esta obra incessante do Espírito Santo, que vai explanando ao longo dos séculos, as riquezas da prática dos conselhos evangélicos através dos múltiplos carismas, e que, também por este caminho, torna o mistério de Cristo perenemente presente na Igreja e no mundo, no tempo e no espaço (JOÃO PAULO II, Vita Consecrata).

"Desde os começos da Igreja Houve homens e mulheres que, pela prática dos conselhos evangélicos, propuseram-se a seguir a Cristo com mais liberdade e imitá-lo mais estreitamente e, cada um a seu modo, levaram vida consagrada a Deus. Dentre eles, muitos, pela inspiração do Espírito Santo, viveram vida solitária ou fundaram famílias religiosas que a Igreja recebeu e aprovou de bom grado com sua autoridade. Daí nasceu, por divina providência, uma admirável variedade de grupos religiosos, a qual muito contribuiu para que a Igreja não apenas esteja aparelhada para toda boa obra e organizada para as atividades do seu ministério em vista da edificação do Corpo de Cristo, mas apareça também ornamentada com os vários dons de seus filhos, como uma esposa adornada para o seu esposo e por ela se manifeste a multiforme sabedoria de Deus" (Vaticano II,, PC 1).

Pequena História da Vida Consagrada - Parte II

As Virgens Consagradas

Esta constitui a primeira forma de vida feminina especialmente consagrada. Sua Origem data dos tempos apostólicos, onde inúmeras jovens ofertavam-se inteiramente ao Senhor na consagração voluntária e perpétua de sua virgindade.

Através das virgens consagradas o Espírito de Deus testemunha no interior da Igreja Primitiva, o início de um novo tempo, do tempo do Reino dos Céus. Pelo testemunho daquelas mulheres que se consagravam incondicionalmente a Deus, percebia-se que nascia a partir de Cristo, uma nova mentalidade, a mentalidade do Reino de Deus, o voltar-se para as coisas do alto. Tal mentalidade era diferente daquela do judaísmo, fundada na terra e na posteridade.
As virgens consagradas constituem uma imagem escatológica especial da Esposa celeste e da vida futura, quando finalmente, a Igreja viverá em plenitude o seu amor por Cristo Esposo.

O Eremitismo

No Séc. III a vida consagrada tomou a forma eremítica. Esta foi a primeira forma de vida consagrada masculina. Alguns historiadores encontram em data anterior a vida eremítica, uma certa forma de vida organizada, formada pelos ascetas cristãos e denominada "monacato urbano".

A vida eremítica teve expressões de grande generosidade: os eremitas retiravam-se para o deserto, viviam na solidão e no silêncio, na oração e na penitência, não deixando de lado o trabalho manual e a direção espiritual, muitas vezes feita através de cartas que são verdadeiros tratados de teologia ascética e mística.

Além de uma autêntica vida de oração e penitência, oferecida em favor de Igreja, os eremitas ou "padres do deserto" contribuíram em muito com a teologia e filosofia, através de Escritos, que ainda hoje enriqueceram a doutrina cristã. A vida eremítica era ainda forte grito profético no interior da Igreja, quando esta, após os tempos de perseguição se unia às forças e poderes do Império.

Santo Antão (251-356 d.C) é considerado o patriarca da vida eremítica". Filho de família rica, ouviu o apelo do Senhor proclamado na igreja através da leitura da Sagrada Escritura, e resolveu deixar tudo, retirando-se para o deserto do Egito. Sua vida, escrita por Santo Atanásio, no século IV, exerceu grande influência sobre as gerações posteriores.

Os homens e mulheres eremitas testemunham através da separação interior e exterior do mundo o caráter provisório do tempo presente, e pelo jejum e pela penitência atestam que o homem não vive sé de pão, mas da Palavra de Deus. Uma vida Assim "no deserto" é convite aos indivíduos e á própria comunidade eclesial para nunca perderem de vista a vocação suprema, que é estar sempre com o Senhor.

O Cenobitismo ou Monaquismo Organizado

Inicialmente devemos afirmar que a origem do monacato organizado permanece em discreta penumbra. Segundo a maioria dos historiados eclesiais, o cenobitismo tem como berço o eremitismo. Aos poucos a vida eremítica foi cedendo lugar à vida cenobitica (comunitária). O cenobitismo ou monaquismo organizado apresentava suas vantagens: a vida comunitária, com ocasiões freqüentes de se praticar a caridade; a presença de um superior (abade), que governava e controlava a comunidade, suas atitudes e comportamentos; a Regra, que regulamentava a vida dos monges na oração, no trabalho, no vestuário, na alimentação, no estudo.

A vida e a espiritualidade cenobita eram muito semelhantes da eremita (oração, ascese, trabalho manual, direção espiritual), porém, alguns fatores faziam a diferença: a vida comunitária, o abade, a regra e a dedicação aos estudos.

Vale destacar que a "comunidade" para os cenobitas não é simples meio de serviço da perfeição evangélica, mas pertence ao projeto mesmo do "seguimento de Cristo".
São Pacômio (346 d.C) foi o primeiro organizador da vida cenobítica (koinonia). O primeiro mosteiro data de 320 e foi fundado por São Pacômio em Tabenisi, a 575 Km ao sul da moderna cidade do Cairo. O oriente foi o berço do monaquismo, que se difundiu pelos lugares retirados do Egito, da Palestina, da Síria....

São Basílio Magno, foi o grande legislador do monaquismo oriental, dando a este uma ampla motivação teológica. Escreveu duas regras cenobícas, que ficaram famosas na história da espiritualidade. Louvava os mosteiros como lugar em que se pode exercer a caridade fraterna mais que no deserto, e como depositários da plenitude dos carismas do Espírito Santo (comunhão de dons).

Martinho de Tours (+397 d.C) é o primeiro monge documentado no Ocidente. Filho de um soldado romano aos quinze anos já seguia à profissão do pai, mas sua verdadeira vocação sobreviveu à sua vida militar. Aos dezoito anos abandonou a milícia, recebeu o batismo e seguiu Santo Hilário de Poitiers, seu mestre. Após um breve noviciado na vida eremítica, fundou alguns moteiros. Discípulos se reuniram em torno dele e, nas cavernas das margens do rio Loira, desenvolveu-se a primeira col6onia monástica da Igreja do Ocidente. Mas em 375 foi eleito bispo de Tours, e tornou-se o grande evangelizador do centro da França Tinha sido como se disse um soldado sem querer, monge por escolha e bispo por dever. Seu mosteiro progrediu tanto que seus monges eram procurados para exercer o cargo de bispos.

São Bento é conhecido como "patriarca dos monges ocidentais". Nasceu por volta de 480 em Núrsia (Itália), de nobre família rural romana. Começou em Roma seus estudos de artes literárias, mas não satisfeito com essa vida, logo se retirou para os montes Sabinos (Subiaco) onde levou vida eremítica por três anos. Foi precisamente neste período que o demônio travou com ele as mais rude batalhas, obrigando-o por vezes a rolar sobre os espinhos para submeter a carne e guardar a santa castidade.

Sua fama começou a espalhar-se. Os monges de um pequeno mosteiro vizinho (Vicovaro) vieram procurá-lo na sua caverna, para que aceitasse dirigi-los, mas logo vieram a rejeitá-lo, exasperados com os esforços que o jovem abade fazia os reconduzir à disciplina. Bento voltou à sua gruta, e muitas almas se reuniram em torno dele. Fez aí uma experiência de vida semi-eremítica. Na plenitude de sua maturidade humana e monástica, perseguido por inveja, Bento viu mais uma vez, por detrás dos fatos, uma indicação da Providência: abandonou Subiaco e foi procurar fora dali um lugar onde sua obra pudesse lançar raízes. Com um grupo de jovens entre os quais Plácido e Mauro, emigrou para Nápoles, escolhendo sua morada no sopé do Monte Cassino, onde edificou seu primeiro mosteiro (berço da ordem beneditina), fechado dos quatro lados, como uma fortaleza e aberto à luz do alto como uma grande vasilha que recebe do céu a benéfica seiva para depois despejá-la no mundo. Até sua morte Bento fundou doze mosteiros. Em monte Cassino escreveu sua regra, valendo-se da tradição monástica oriental e ocidental e adaptando-a às condições de vida de época. A regra beneditina tornou-se famosa na Igreja por sua psicologia e linguagem jurídica segura. O triunfo da regra beneditina se deu em 817 quando todos os mosteiros do Ocidente adotaram a Regra de São Bento como norma única. De fato, até o século XI os monges do ocidente identificavam-se com os monges beneditinos.

É grande e relevante a contribuição do monaquismo, não só na vida da Igreja, mas na história, de modo especial no início do novo mundo (após a queda do Império Romano). Foram em grande parte os monges que evangelizaram os anglo-saxões e outros povos germânicos (Inglaterra, Bélgica, Holanda, Norte da Alemanha, etc.); ensinaram aos povos bárbaros que vivam nos arredores dos mosteiros, os princípios de cultura; transmitiram às crianças e aos adolescentes os conhecimentos científicos e a formação cristã através das escolas monasteriais, que prepararam o nascimento das universidades. Foram também eles, os copistas, que salvaram da ruína os tesouros da cultura romana, que através dos seus códigos e obras de arte, passaram para as gerações vindouras. Se quiséssemos sublinhar a parte ativa que os mosteiros tomaram no movimento literário, seria necessário escrever um compêndio de toda a história literária da Idade Média. Quer se trate de teologia, exegese, quer de história, poesia, matemáticas, gramáticas, quer ainda de filologia, a maioria dos pertencentes aos séculos VIII ao XII são recrutados entre os monges.

A história é uma parcela que os monges praticamente se reservam. Basta um lance de olhos aos trabalhos modernos relativos às fontes históricas para convencer-se disso. Em resumo, não seria descabido afirmar que toda a alta Idade Média lhes pertence: seria mais cômodo nomear os autores não monges. A teologia dos quatro primeiros séculos da Idade Média terá meta muito precisa: investigar e assentar solidamente a tradição católica, cujo sentido os monges possuem tão enviscerado. Por isso, esforça-se-ão para tornar mais inteligível a leitura da Escritura e dos principais Padres da Igreja. Este esforço teológico tem o mérito inegável de ter fixado a tradição católica sobre um bloco importante de pontos doutrinais. Um monge, Santo Anselmo, foi quem abriu a porta a novas correntes, inaugurando nova época. Ele é o primeiro filósofo que faz teologia. Foi no claustro de um mosteiro que foi impresso o primeiro livro no mundo (mosteiro de Santa Escolástica, Subiaco, Itália). Foram, ainda, os monges que muitas vezes estiveram à frente das fileiras da Igreja no combate as heresias; que contribuíram fortemente com a liturgia, especialmente através da música sacra (o canto gregoriano tem como pai São Gregório Magno, a quem se deve a mais completa biografia de São Bento. Vale lembrar que antes de ser papa ele foi monge) e que deram à Igreja inúmeros santos.

Pequena História da Vida Consagrada - Parte III

As Ordens Mendicantes

Quando a Igreja atingiu o ápice do poder temporal, na Idade Média, Deus quis suscitar no início do século XIII as ordens mendicantes. Nasceu no Papa Inocêncio III, o projeto de suscitar uma nova forma de pregação, mais próxima do povo e mais bem preparada na defesa da fé.

Sonhou com homens de muita fé, inspirados no ideal evangélico, desprendido dos bens deste mundo, capazes de dirigir-se aos humildes com as mãos abertas para lhes dizer outra vez palavras de amor e de verdade. E a Providência iria responder a esse apelo, porque no momento em que Inocêncio escrevia a sua bula profética, começavam a surgir no núcleo mais vivo da comunidade cristã aqueles a quem caberia levedar mais uma vez a massa cristã numa encruzilhada decisiva da história: as Ordens mendicantes. O aparecimento destas Ordens foi o acontecimento mais notável da vida íntima da Igreja da época. O imenso êxito que os mendicantes alcançaram prova que eles corresponderam às expectativas do tempo.

As vocações afluiram torrencialmente:
Vários métodos de organização dos mendicantes foram imitados pelas antigas ordens, e o exemplo dos mendicantes arrastou para as Universidades, Ordens antigas, como os beneditinos de Cluncy e os cistercienses.

O clero secular tornou-se mais fiel às suas obrigações sacerdotais, e toda a vida, monástica, estimulada pelo surto das Ordens Franciscana e Dominicana, enriqueceu-se na primeira metade do século XIII com uma verdadeira floração de novas congregações.

O ideal de pobreza que abraçaram exerceu enorme influência na sociedade e na Igreja pondo freio ao desenvolvimento desmedido da civilização materialista, e a Igreja do Século XIII foi por eles admoestada a não se preocupar com questões temporais a ponto de esquecer a sua missão divina.

A sua ação teve também resultados no domínio da concórdia especialmente quando no ano 1233 os dominicanos e os franciscanos se espalharam por toda a parte num esforço extraordinário, que foi assinalado por espetaculares reconciliações entre famílias, clãs e até entre cidade. Deste movimento resultaram "associações de paz", confundidas muitas vezes com as duas Ordens terceiras, por meio das quais elas mantinham a sua ação a sociedade.

Desenvolveram grande abertura para os leigos e pessoas casadas, lhes proporcionado vida regular de oração, penitência e caridade, através das ordens terceiras.
Não foram poucos os confessores e conselheiros dos reis e de suas famílias. Os seus conventos não se situavam nas regiões clunicense nem nos pântanos solitários de Cister, mas nas cidades, e se tornaram centros de vida intelectual, espiritual e até política.

Foi também a eles que a Igreja recorreu quando teve de defender-se contra as heresias. Serão também os Mendicantes que veremos liderar um grande movimento missionário que se lançará entre os infiéis, procurando ganha-los para Cristo pelo amor.

Há ainda um último ponto em que a ação dos Mendicantes se mostrou decisiva: na ordem intelectual. Num momento em que se produzia uma grande fermentação dos espíritos, elas encontravam-se especialmente preparadas para assumir e orientar as curiosidades dos seus contemporâneos. Assim, em última análise, as ordens mendicantes deram à "reforma" do século XIII uma eficaz originalidade. O retorno ao Evangelho, que eles pregavam foi a sua característica em todos os domínios, tanto canônico, como na vida social e mesmo nas formas de devoção. Graças a eles, as indispensáveis transformações não se realizaram fora da Igreja, nem contra ela, as no seu seio.

Praticamente todo os Papas do século XIII manifestavam a maior simpatia pelas ordem mendicantes, que constituíram uma milícia devotada ao Papa, uma organização de propaganda maravilhosamente ativa em difundir o seu pensamento, e um corpo de diplomata para as missões difíceis ou perigosas.

Não foi apenas no plano da reforma moral e nas suas lutas temporais que os Mendicantes ajudaram. Eles foram também os instrumentos de uma nova concepção da Igreja e do seu papel, mais universalista, mais adaptado a uma sociedade ampliada: a igreja das missões.

As Ordens Religiosas Contra - Reformistas

Após reforma protestante, onde a Igreja e o Papa foram profundamente atacados. Deus suscitou as chamadas ordens contra - reformista, caracterizadas por uma humilde e incondicional obediência ao Papa e fortalecimento da formação do clero, Santo Inácio) e as carmelitas reformadas ( oração em favor da Igreja e busca da perfeição cristã, Santa Tereza).

As Congregações Religiosas

Floresceram ao longo dos séculos muitas outras expressões de vida religiosa, nas quais inúmeras pessoas, renunciando ao mundo, se consagraram a Deus, através do profissão pública dos conselhos evangélicos segundo um carisma específico e numa forma estável de vida comum, para um serviço apostólico pluriforme ao Povo de Deus. Temos assim, as Congregações Religiosas masculinas e femininas, e geral, dedicadas à atividade apostólica e missionária e às múltiplas obras que a caridade cristã suscitou.

É um testemunho esplêndido e variado, onde se reflete s multiplicidade dos dons dispensados por Deus aos fundadores e fundadoras que, abertos à ação do Espirito Santo, souberam interpretar os sinais os tempos e responder de forma esclarecida, às exigências que iam aparecendo.

Podemos citar as irmãs da caridade de São Vicente de Paulo (obra de caridade), Irmãos Maristas e Irmãs Dorotéias (educação), Irmãs Paulinas (comunicação), Salesianos (educação da juventude), Mercedários (penitenciárias) Franciscanas Hospitaleiras (doentes), Missionários do Sagrado Coração (missão), etc.

Pequena História da Vida Consagrada - Parte IV

Sociedade de Vida Apostólica

As Sociedades de vida apostólica, masculinas femininas, nascidas nos últimos séculos buscam com seu estilo próprio, um específico fim apostólico e missionário.
Podemos citar: Eudista (formação) e Missionários de Nossa Senhora da África (missão).

Os Institutos Seculares

O Século atual (Século XX) é testemunho do surgimento de mais uma forma de vida consagrada, que são os institutos de vida seculares.

Os institutos de vida secular respondem as necessidades de transformação das estruturas e instituições próprias da sociedade. Através da síntese de secularidade e consagração, que o caracteriza, eles querem infundir na sociedade as energias nova do Reno de Cristo, procurando transfigurar o mundo a partir de dentro com a força das bem-aventuranças. Desta forma, ao mesmo tempo que a pertença total a Deus os torna plenamente consagrados ao seu serviço, a sua atividade nas condições normais de leigos contribui, sob a ação do Espírito, para a animação evangélica das realidades seculares.

Também realizam uma função preciosa os institutos seculares nos quais os sacerdotes do clero diocesano se consagram a Cristo através da prática dos conselhos evangélicos segundo um específico carisma.

As Comunidades Novas

O Espírito de Deus que sempre orientou e sustentou toda a história da Igreja, suscita nos tempos de hoje novas formas de consagração e vida evangélica. Assim como as diversas formas de vida consagrada e comunitária surgidas no decorrer dos vinte séculos do cristianismo, as "comunidades novas" ou "novas fundações" são, por um desígnio da divina providência uma resposta para as necessidades da Igreja e do mundo de hoje.

As "comunidades novas" respondem a tais necessidades, em primeiro lugar, pela fidelidade ao chamado específico que o Senhor faz a elas e como conseqüência dessa fidelidade através de uma autêntica vida litúrgica; da formação e do engajamento do laicato; de um amor incondicional pela hierarquia, de modo especial pelo Papa; de uma sólida vida espiritual (ascese e mística); de uma fé purificada; de uma vida moral no Espírito; e de modo especial através de uma força evangelizadora e pastoral que penetra nas realidades atuais e no coração do homem contemporâneo.

Tratando da realidade das "comunidades novas" o instrumentum laboris do sínodo dos bispos afirma: "quanto ao estilo de vida evangélica, muitas vezes se destinguem por uma forte austeridade de vida, intensa oração, resgate de formas sãs de devoção tradicional, divisão dos trabalhos domésticos e manuais pela parte de todos os membros. Sob o aspecto apostólico, é forte o impulso missionário, rumo aos distantes e rumo àqueles que nunca receberam o Evangelho; o empenho na nova evangelização, a ecumênica; a aproximação dos pobres e dos marginalizados".

"O Espírito, que ao longo dos tempos suscitou numerosas formas de vida consagrada, não cessa de assumir a Igreja, quer alimentado nos institutos já existentes o esforço de renovação na fidelidade ao carisma original, quer distribuindo novos carismas a homens e mulheres do nosso tempo, para que dêem vida a instituições adequadas aos desafios de hoje. Sinal desta intervenção divina são as chamadas "Novas Fundações". Com características de algum modo originais relativamente às tradicionais.

A originalidade destas novas comunidades consiste freqüentemente no fato de se tratar de grupos compostos de homens e mulheres, de clérigos e leigos, de casados e solteiros, que seguem um estilo particular de vida, inspirado as vezes numa ou noutra forma tradicional ou adaptação às exigências da sociedade atual. Também o seu compromisso de vida evangélica se exprime em formas diversas, manifestando-se como tendência geral, uma intensa aspiração à vida comunitária, à pobreza e à oração. No governo, participam clérigos e leigos, segundo as respetivas competências e o fim vai ao encontro das solicitações da nova evangelização.

As novas formas (de vida evangélica) são um Dom do Espírito, para que a Igreja siga o seu Senhor, num impulso perene de generosidade, atenta aos apelos de Deus que se revelam através dos sinais dos tempos. Assim, ela apresenta-se ao mundo diversificado nas suas formas de santidade e de serviço, como "sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo gênero humano". Os antigos institutos, muitos deles acrisolados por provas duríssimas suportadas com fortaleza ao longo dos séculos, podem enriquecer-se entrando em diálogo e troca de dons com as fundações que surgem no nosso tempo.

Desse modo, o vigor das várias instituições de vida consagrada, desde as mais antigas até as mais recentes, e ainda vivacidade das novas comunidades alimentarão a fidelidade ao Espírito Santo, que é principio de comunhão e de novidade perene de vida" (JOÃO PAULO II, Exortação apostólica Vita Consecrata).

"Na Igreja, tanto hoje como no passado, novas formas de vida comunitária exprimem a fecundidade de Espírito e do Evangelho de Jesus. Como pastor, entrei em contato com várias destas novas formas de consagração. Ainda não disponho de dados precisos acerca da extensão deste fenômeno, mas calcula-se que as "novas" comunidades já se possam contar em centenas no mundo. Este é um sinal dos tempos, que exige uma abertura e um atento discernimento. Parece-me que, embora na diversidade dos caminhos e dos carismas, e dentro dos limites próprios de cada experiência esta novas formas de vida evangélica estejam assinaladas por alguns elementos e algumas características mais ou menos comuns.

As novas comunidades não se identificam com as atuais formas de vida consagrada. Apresentam-se com freqüência como "famílias eclesiais", porque, ao redor de um comum carisma de fundação bem definido, convergem leigos, clérigos, pessoas solteiras e casadas que, no respeito dos diferentes estados de vida, se consagram a um idêntico ideal evangélica, como membros igualitários de um único corpo, com diversos níveis de pertencer.
Normalmente, podem-se verificar as seguintes características:

a) A unidade da obra e da presidência;.
b) Uma certa radicalidade evangélica;
c) A unidade entre a consagração e a missão, compreendida como carisma particular;
d) Um forte sentido comunitário com o evidente primado do ser comunhão sobre o fazer;
e) O exercício da autoridade vivido em conformidade com a comunhão;
f) O desejo de evita a identificação entre a sacerdócio e autoridade, a fim de respeitar e promover a laicidade;
g) Uma clara aceitação da pobreza e do abandono à Providência;
h) Uma vida de oração intensa. Tanto pessoal como comunitária;
i) Um vivo Fervor missionário;

Parece Oportuno:

a) Favorecer a experimentação e aprovação destas "novas comunidades", encorajando os Bispos e os sacerdotes a acompanhá-las no exercício do discernimento dos seus carismas. É importante que o seu enquadramento jurídico não seja rígido, a fim de não sacrificar a novidade do Espírito Santo;

b) Constituir uma Comissão interdicasterial adequada, que estude estas novas formas, aceitando e valorizando, sem inibições, aquilo que é novo e verdadeiro e que reveja os conceitos de vida consagrada, e também a própria estrutura dos votos clássicos que, com efeito, já se têm as novas formulações".

Comunidade: Dom e Graça do Espírito

Deus é:
· Amor
· Trindade, um só Deus, uma só natureza divina em três pessoas, uma comunhão de amor.
Gênesis 1,26 - Façamos o homem a nossa imagem e semelhança. "Não é bom que o homem esteja só."

Deus não pensou no homem como um ser solitário!
O homem foi criado para uma comunhão de amor, para viver em comunidade. A história do povo de Deus! Deus chamou homens para conduzir o povo a imagem e semelhança de Deus comunhão. Viver em comunidade é para todos os homens.

O que é a Igreja?
Deus pensou na Igreja como uma comunidade. Porém... O pecado entrou no mundo para dividir o homem de Deus, de si mesmo e do seu irmão. Quebrou a unidade interior do homem e nos incapacitou para amar desinteressadademente.

No entanto.... Jesus veio nos salvar, nos reconciliar com Deus, com o próximo, consigo mesmo.
Capacitando-nos a amar de novo. Retorno ao projeto original de Deus

Nosso mundo atual não nos estimula para viver em comunidade: individualismo, egoísmo, fechamento. Minha individualidade deformada e absolutizada; torno-me o centro de todas as coisas! Temos medo de comunhão porque temos medo de nos perder. No fundo, não nos temos. Queremos saber do outro quando o outro ou algo nos interessa.

A obra de salvação chega à sua plenitude na comunhão cristã, crescendo em unidade com Deus, consigo próprio e com os irmãos. Ser comunidade não é uma entre muitas formas de ser cristão, mas a única forma de ser cristão. O cristianismo é essencialmente comunitário. Nas comunidades novas, somos chamados a viver em comunidade de maneira mais radical.

Ser comunidade é um chamado para todo cristão (Jo 17,1-21). Porém.... Não conseguimos viver esse ideal contanto apenas com nossas próprias forças. É Deus quem nos sustenta.

Dentro da RCC, Deus tem inspirado Comunidades, extensões mais especificas do grande chamado feito a todos os batizados de viverem em comunidade.

- Surgem da oração e do discernimento.
·- Existem para estar a serviço da Igreja e não em função de si mesmas.
- Devem passar por um processo de discernimento no inicio, não abafa-la, nem enche-la de normas, mas discerní-la e isso leva tempo...
- Não são grupos de oração crescidos; Comunidade não é um produto natural de um grupo de oração de muitos anos, com se fosse natural e obrigatório todo grupo de oração "virar" comunidade. É um chamado especifico de Deus. Não é um invenção humana.
- São diferentes entre si, embora as oriundas da RCC tenham pontos em comum derivados que são da mesma graça.
- Se não nascem do coração de Deus não subsistem. Ex: Arca de Noé (Gn 6,11; 8,19) Babel (Gn 11,1-9).
- Vão se formando gradativamente. A fidelidade presente atrai a benção futura.

É importante entender a Renovação Carismática como uma graça e não como uma estrutura. Graça dada para a Igreja. Na definição de nossa comunidade perdemos pessoas que não se identificam com a proposta. Não tem como uma comunidade crescer em quantidade e qualidade sem vida de oração pessoal e comunitária. Comunidade sem oração não é comunidade, mas uma obra de serviço à Igreja. Essa oração, centrada em Cristo, acontece ao redor do carisma ou da oração normativa da Igreja.

Comunidades na Renovação Carismática Católica

Quais são os elementos principais de nossa identidade como RCC?

  • Batismo no Espírito;
  • Os carismas;
  • Os ministérios carismáticos;
  • Os grupos de oração;
  • Evangelização;
  • As comunidades;

A RCC é uma graça, não apenas um movimento leigo, nem um movimento estruturado nem uma organização. Por isso não tem fundador, nem tem governo central.

As equipes de serviço ajudam a servir a esta graça que tem penetrado também na vida consagrada da Igreja, renovando os antigos e fazendo surgir novas expressões de vida consagrada.

Assim como Pentecostes fez surgir a comunidade da Igreja, este Novo Pentecostes, que é a RCC, tem feito surgir dois tipos básicos tipos de comunidades: Comunidades de Renovação e Comunidades Novas.

Comunidades de Renovação

a) Geralmente se inicia com um só grupo de oração que cresce e se multiplica;
b) Composta por homens e mulheres, crianças, famílias, casados e solteiros;
c) Não possuem um carisma de fundação, por isso não tem um fundador, mas um coordenador e um núcleo; A vida em comum circunscrita ao serviço apostólico com níveis diferentes de compromisso entre seus vários membros.
d) Não tem regras de vida, por não terem ou serem um carisma (as regras exprimem e clareiam o carisma);
e) Atuação apostólica-evangelizadora forte na paróquia ou diocese, mas sem se estender além disso;
f) Método formativo variado, inspirado na vida normal da Igreja ou identificado com alguma linha pastoral, de comunidade ou da RCC;
g) Não possuem Comunidade de Vida nem Comunidade de Aliança;
h) Há uma predominância de leigos;
i) Identifica-se com a graça da RCC;
j) Seus compromissos são feitos ao redor do seguimento de Cristo e do serviço à Igreja.
l) Sua espiritualidade é carismática, sua formação católica;
m) Possuem estruturas pastorais para exercer a missão apostólica;
n) Não possuem residências comunitárias de vida em comum;
o) Possuem uma estrutura pastoral ampla e crescente, acompanhando o crescimento da comunidade;
p) Não é simplesmente a união de todos os grupos de uma paróquia. Uma paróquia ou cidade pode ter vários comunidades de renovação em comunhão entre si e em unidade com a paróquia.

Novas Fundações ou Comunidades Novas

a) Compostas de homens e mulheres, clérigos e leigos, casados e solteiros;
b) Possuem um estilo particular de vida em comum ou com intenso compromisso de vida entre seus membros;
c) Desejam intensamente uma vida comunitária, expressam isso em comunidade de vida ou comunidade de aliança;
d) Forte compromisso com a oração e com uma vida interior comprometida;
e) Aspiram ou vivem dimensões variadas dos conselhos evangélicos;
f) No governo, participam leigos e clérigos;
g) Possuem elementos essenciais, traços, da vida consagrada tradicional na Igreja;
h) Tem um carisma de fundação específico, com espiritualidade própria e missão própria;
i) Possuem fundador ou fundadores;
j) Método formativo próprio inspirado em seu carisma;
l) Modos de entrada ou incorporação na comunidade próprios;
m) Dimensão missionária forte, indo além de sua própria diocese ou até mesmo o país;
n) Regras de vida ou estatutos que exprimem e clareiam o carisma;
o) Carregam certa originalidade. Algo próprio! (o "algo próprio" não se contradiz com a unidade de fundo presente em todas as inspirações de vida consagrada surgidas na história da Igreja);
p) Compromissos ao redor do seguimento de Cristo e do carisma;
q) Identificadas com a graça da RCC, de onde nasceram.

A Geração de uma Comunidade

É preciso maturidade humana e espiritual para receber o dom da comunidade.
Deus gera inquietação interior, que muitas vezes é um apelo divino, no coração do fundador ou dos fundadores. Ex: Moisés se inquietou, se precipitou Deus o conduziu ao deserto. No tempo de Deus, foi enviado para libertar o povo cativo. Moisés amadureceu no deserto.

O Tempo
É preciso deixar que o chamado amadureça, para que venha o desabrochar no tempo certo.
Não colher verde, nem deixar que o fruto caia de maduro, mas perceber o tempo certo- o tempo de Deus.

Os sinais
É como montar de um quebra-cabeça. Não é apenas um sinal, mas sinais que a providência divina emite.

Escuta de Deus
Pela oração, "ruminar" os sinais, as inspirações, etc..

As provações
A oposição maligna; purificações (crises, rupturas, perseguições, "parece que vai acabar"...); críticas (internas, externas que devem ser ouvidas e ponderadas).

Acompanhamento externo
Irmãos com discernimento espiritual, maturidade humana e eclesial, que possam ser consultados neste processo de discernimento.

Crescimento nas 3 dimensões fundamentais na vida da comunidade
Oração (pessoal e comunitária); fraternidade; apostolado.

Carisma de Fundação

A palavra carisma significa graça (I Cor 12,4)
Um carisma é:
· Uma coisa nova para Igreja;
· Um dom de Deus, que traz em si, uma graça particular para quem vive e para quem recebe.
· Manifestação de Jesus Cristo de uma maneira específica na Igreja, em resposta aos desafios de hoje da Igreja e do mundo.
· Ele é transmissível a outros. Deus coloca em outros a identificação com aquele carisma.
· É uma graça de Deus maior do que o fundador. Uma novidade que ultrapassa sua humanidade, seu entendimento e sua capacidade humana.
· Uma nova forma de vida.
· Como um código genético, que não dá apenas a identidade a um instituto, mas a cada um de seus membros. É uma verdadeira identidade daquele que é chamado.

No percurso de toda a história, tem suscitado no interior da Igreja, da qual é a alma, uma infinidade de carismas, em resposta às urgências, necessidades e desafios da humanidade e as suas próprias, mantendo-a sempre jovem e atuante.

Que tipo de resposta e iniciativa o Espírito de Deus prepara para a Igreja no 3º Milênio?
São Francisco de Assis recebeu um carisma original para servir à Igreja de seu tempo. Ele não era o melhor, o mais inteligente, o mais capaz, o mais santo!
- O franciscanismo não existia antes de Francisco. A pobreza sim, mas não a pobreza franciscana.

- A novidade do carisma está no "como".
O segredo não são os meios, nem os métodos, mas sim o próprio carisma que se expressa através dos meios e métodos. Ele vai além dos métodos e meios.

Reconhecemos um carisma quando há um conteúdo experimentado e confirmado por frutos vivenciais concretos. Sua finalidade não é a comunidade em si mesma, mas a Igreja, por isso, a delineação do carisma, contorno e matizes, de sua missão na Igreja, é resultado da escuta de Deus pela oração, estudo, experiências vividas e compartilhadas com a comunidade.
A delineação é obra do Espírito, e é confirmada, com o tempo, pela Igreja!

No início de uma comunidade não existe nada definido. Com o tempo e a resposta do fundador e de sua comunidade se vai descobrindo e conhecendo mais sobre o carisma e a estrutura que lhe deve dar suporte!

O carisma é um dom, uma novidade trazida pelo Espírito Santo para atender a necessidade da Igreja e do mundo num dado momento de sua história. Um carisma de fundação não traz em si todo o mistério de Cristo. Esse mistério não pode ser compreendido por uma só pessoa, uma só comunidade. O mistério de Cristo só pode ser compreendido na Igreja como um todo, na união de todos os seus movimentos. Por isso é que Deus, em Sua infinita sapiência, derrama carismas particulares e únicos em cada comunidade. Assim, não haverá jamais uma comunidade independente. Uma sempre estará precisando do carisma da outra para compreender um pouco o insondável mistério cristão.

“O Espírito Santo, artífice admirável da diversidade de carismas, suscitou no nosso tempo novas expressões de vida consagrada, como que desejando corresponder, segundo um desígnio providencial, às novas necessidades que a Igreja encontra hoje no cumprimento da sua missão no mundo”. (Papa João Paulo II, Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita Consecrata ao Episcopado e ao Clero, às Ordens e Congregações Religiosas, às Sociedades de Vida apostólica, aos Institutos Seculares e a todos os fiéis, sobre a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo,
www.vatican.va – 1996)

Nesse derramamento do Espírito Santo, o carisma torna-se uma novidade. Quando um carisma de fundação é suscitado na Igreja, vem com uma originalidade própria. Isto que dizer que aquele carisma só existe naquela Comunidade, e somente através do Fundador e demais membros o carisma pode ser vivido em sua totalidade.

Com relação ao Fundador, cada Comunidade tem um. Este é escolhido por Deus, é o pastor que vai a busca das ovelhas, é o pescador que lança as redes nas águas mais profundas.

Os Fundadores são verdadeiros profetas, anunciam com sua própria vida e com suas fundações uma profecia de Deus para a Igreja vivente de seu tempo. O Fundador é chamado por Deus a ser plenamente fiel a seu carisma e vocação. Essa é uma qualidade indispensável em um Fundador: a fidelidade.

“O Fundador é um mero, um pobre, um miserável instrumento nas mãos de Deus, que o utiliza como bem quer e bem entende em vista de um desígnio para a Igreja e para o mundo. Deus nos escolheu a partir de nossas fraquezas. Para que os olhos não fiquem nos homens, mas em Deus. Essa é uma das características fundamentais do carisma de fundação”. (Moyses Louro de Azevedo Filho. Comunidade Shalom, em “Comunidades e Relacionamento Eclesial”, Jornal Impresso da Frater. Órgão Oficial da Associação das Comunidades de Vida e Aliança, n. 02, 1999).


O Fundador recebe de Deus a graça do carisma de fundação, o qual é distinto de Comunidade para Comunidade, pois cada uma tem um carisma diferente, uma forma de evangelizar e de expressar o amor de Deus.

Uma tem o carisma de evangelizar através dos meios de comunicação; outra, tem o carisma para amar, ajudar e evangelizar os pobres à luz do Evangelho de Cristo; outra tem um carisma de ser um monge no mundo, outra tem o seu carisma identificado com o carisma de algum santo ou santa da nossa Igreja, etc.

O carisma do Fundador implica em uma resposta livre a algo completamente novo da parte de Deus, onde muitas vezes o fundador estará solitário e incompreendido. O carisma do fundador é persistente, é uma novidade que ultrapassa suas capacidades humanas de compreensão. O carisma, para ser autêntico deve ser transmissível, ou seja, deve atrair outras pessoas, discípulos.

“Carisma é um dom particular de Deus, uma graça única! É a identidade própria que a Comunidade adquire. É um dom particular dado por Deus a um grupo, a uma Comunidade, a um Fundador que repassa isso àqueles que o querem seguir. Distinto de outros já existentes, o carisma de uma fundação não se iguala a nenhum outro. É dado por Deus com exclusividade para uma Comunidade e transmitido pelo Fundador ou pelos primeiros membros. É algo que não se repete”. (Elias Dimas dos Santos. “Novas Comunidades, dom da Trindade”. Edições Loyola, São Paulo, pág. 60, 2003).


Esses discípulos são as primeiras pessoas que Deus coloca junto do Fundador para fazerem parte dessa experiência fundante. São os chamados co-Fundadores, aqueles que, unidos ao Fundador fazem florescer a Comunidade. Eles são criados por Deus para vivenciarem esse carisma de fundação.

Existem aspectos particulares na vida e vocação de cada co-Fundador que vai identificando o carisma de fundação, identificação esta observada pelo Fundador. Os co-Fundadores são importantes para o crescimento e reconhecimento do carisma. Porém, somente o Fundador pode delimitar o carisma, ou seja, só o Fundador possui a percepção total do carisma, dada por Deus. Desta forma, o Fundador, a partir de sua experiência e vivência com Deus, vai definindo a índole própria, a função e a natureza da Comunidade e seu carisma.

A grandiosidade da diversidade de carismas está no fato de que se podem resgatar muito mais pessoas assim do que se existisse apenas um carisma para todas, mas isso não quer dizer que um seja melhor do que a outro. Graças a Deus que o Espírito Santo é criativo, não imitativo.

“O carisma é aquilo que identifica a Comunidade, que fala do “ser”, da sua identidade profunda; a missão é o carisma em ação, é o carisma acontecendo. É do carisma da Comunidade que emana a formação, a vida de oração, a nossa espiritualidade e a nossa missão. O carisma de uma comunidade nunca se repete, Deus é extremamente criativo”. (Pe.Wagner. Comunidade Canção Nova, “Formação, espiritualidade e missão emanam do carisma das nossas comunidades”. (Palestra proferida no Encontro para Comunidades de Vida e Aliança, em Joinville, Santa Catarina. Jornal Impresso da Frater, Órgão Oficial da Associação das Comunidades de Vida e Aliança, n. 09, 2000).

No seio das Comunidades, o Espírito Santo vai preenchendo os corações dos membros, a partir da vivência do carisma pelo Fundador, com o desejo sempre presente de busca pela santidade e conversão, nos deixando totalmente abertos e livres ao amor incondicional a Jesus e ao nosso irmão.

“O Espírito Santo nos torna livres para amar. As novas Comunidades de Vida e Aliança, tendo consciência deste Poder do Alto, propõem-se a ser instrumento da Igreja na sua grande renovação neste tempo onde o Papa nos convida: Duc in altum - mar adentro. É importante que os vossos carismas sejam confirmados na docilidade à Igreja, compreendendo a multiplicidade na unidade. Muito ligado ao carisma é a santidade, que tem sido a grande característica das Novas Comunidades, que não vivem sem a oração e a escuta da palavra de Deus, e a sua leitura orante através da Lectio Divina”. (Dom Marcelo Pinto Carvalheira, Comunidades e o Sopro do Espírito. Jornal Impresso da Frater. Órgão Oficial da Fraternidade das Comunidades Novas de Vida e Aliança, n. 08, 2002).


Permito-me a comparar as comunidades e o carisma de seus Fundadores a um quebra-cabeça, onde cada peça do quebra-cabeça representa uma Comunidade diferente, e onde todas as peças são, ao mesmo tempo, importantes para formar o todo. É isso o que Deus quer: a diversidade na unidade, unidade esta selada pelo sangue de Jesus Cristo derramado na cruz e pelo fogo ardente do Espírito Santo.

O carisma de fundação é enraizado na alma do Fundador, e caracteriza toda a missão da Comunidade. As pessoas que se aproximam de um Fundador têm necessariamente que viver e partilhar com ele a essência do carisma de fundação dado por Deus. Essas pessoas geralmente se aproximam por se identificar com o carisma da Comunidade, que é vivido em intensidade por seu Fundador. O carisma de fundação vem transformando totalmente a vida do Fundador, de onde. a partir dessa transformação, outras pessoas são levadas pelo Espírito Santo a se transformarem também. Isto é fruto do testemunho e da capacidade do Fundador em transmitir e comunicar a experiência fundante através de sua vida e história.

O Fundador é aquele que, mediante inspiração divina, sabe o para quê? por quê? de onde veio? e aonde irá? o carisma de fundação e sua comunidade.

“Desde sempre na Igreja, o Espírito Santo concede a alguns o carisma de Fundadores. Desde sempre faz com que, ao redor do Fundador ou da Fundadora, se reúnam pessoas que compartilham a orientação da sua forma de vida consagrada, o seu ensinamento, o seu ideal, a sua atração de caridade ou de magistério, ou de apostolado pastoral. Desde sempre o Espírito Santo cria e faz crescer a harmonia das pessoas congregadas e as ajuda a desenvolver uma vida em comum, animada pela caridade segundo a orientação particular do carisma do Fundador e dos seus fiéis seguidores”. (L’Osservatore Romano, n. 12 de 25/03/1995).


Todo o direcionamento e a condução do rebanho, que neste caso são os membros da comunidade, são feitos pelo Fundador. É a ele que Deus dá poder e autoridade em Seu nome para conduzir o rebanho. Só e somente só, o Fundador tem o direito de modificar a condução da comunidade.

Todos que dele se aproximarem, devem ter consciência deste fato, o qual não é uma determinação humana, mas determinação de Deus. Com isso, não quero dizer que o Fundador seja intocável, não. Pelo contrário, é sobre ele que o demônio direciona os seus grandes ataques.

Cabe a nós, membros da Comunidade, orar constantemente pela santificação de nosso Fundador. Orar para que ele esteja sempre sensível às determinações de Deus, buscando assim suprimir a vontade humana pela vontade divina.

“Precisamos ter discernimento, precisamos ser perseverantes, para que a obediência paire e sejamos conforme o desejo do Fundador, pois sabemos que a voz do Fundador é a voz de Deus!” (Pe. José Augusto. Comunidade Canção Nova. Homilia proferida em: 26/05/2001 no Encontro de Comunidades).

“A Paternidade é um DOM a ser desabrochado, acolhido e desenvolvido e cultivado na nossa vida, a gente cresce no exercício da paternidade da maternidade na medida que a gente assume. Nosso Santo Padre disse uma frase interessante falando da paternidade espiritual fundamentando na paternidade humana: “CRIAR NÃO É TUDO. GERAR É MAIS DO QUE CRIAR. GERAR É A PLENITUDE DA PATERNIDADE”.

Vamos ver no plano humano o que é criar? Criar é o ato de dar a vida. Gerar é o ato que faz a vida desenvolver, crescer e se plenificar. CRIAR É UM ATO SÓ. Exemplo: Um homem encontra uma mulher = conhecem – unem sexualmente e nasce uma nova vida. Talvez essa criação nunca veja o pai biológico, ou nem sabe quem é seu pai biológico, entretanto ele é o pai que criou por aquele ato – aquela união = criou = foi dado a vida. Então criar foi um ato.

GERAR é uma sucessão de atos de amor. É uma sucessão de atos de amor gratuito. E porque são gratuitos são fecundos. GERAR não é só dar a vida, mas gerar é fazer com que por muitos atos àquela vida se desenvolva, cresça se plenifique chegue a plenitude.

Exemplo: Uma pessoa pode nunca ter criado, mas viva a plenitude da paternidade. Quantas crianças adotadas chegam ao lar e são geradas porque se cria uma vida, mas gera uma pessoa, são gerados, desenvolvido e chegam a plenitude da pessoa, e por isso o Santo Padre insiste que a plenitude da paternidade é gerar não criar.

CRIAR: Dar existência, Dar origem, Dar princípio a; produzir, inventar, imaginar. Para criar é necessário só dar a vida, mas para gerar é necessário doar a sua própria vida por meio de sucessivos atos de amor gratuito. Em cima dessa base podemos refletir: Às vezes nós pensamos que fundar uma comunidade é só criar uma comunidade “vamos criar uma comunidade, nos damos tão bem e hoje se fala tanto em comunidade… vamos montar um esquema e fundamos uma comunidade, eu sou o fundador, fulano é o co-fundador, beltrano é formador geral, coordenador geral”.

O carisma de fundação é necessário não só criar, mas gerar a comunidade é necessário não só fazer com que a comunidade nasça, não só dar a vida a comunidade, mas é necessário DOAR SUA VIDA PARA GERAR ESSA COMUNIDADE, fazer com que ela se desenvolva, cresça e chegue sua plenitude no carisma, chegue a sua plenitude daquilo que Deus quer para ela por meio de uma vida doada, por meio de uma vida entregue, por meio de uma vida consumida e não há outra forma: fundar uma comunidade não é criá-la é GERÁ-LA com todas as conseqüências que isso implica”.

O Fundador

O(s) fundador (es):

· É uma pessoa que teve a experiência forte de Deus e que sente a inspiração de passar essa sua experiência para os outros, comunicando-a através de sua própria vida e partilhando-a através de seus escritos, regras e estatutos;
· Conduzido pelo Espírito Santo, interpreta "a seu modo" o texto específico da Palavra de Deus, com um ou mais traços de Cristo, tornando-o visível na Igreja. Cada carisma vive Cristo por inteiro, mas é também especializado em um determinado aspecto seu.
· São homens de profecia. São profetas porque anunciam com sua vida suas inspirações, uma profecia de Deus para a Igreja de seu tempo.
· Ele recebe uma graça única do Espírito Santo.
· Sua inspiração vem da sua experiência de Deus. É algo que o "domina" e que ele é arrastado irresistivelmente. Ele não se contém! Embora de maneira misteriosa é sua liberdade que é tocada pela graça.
· Ele recebe também a capacidade de comunicar aos outros a sua inspiração.
· Ele é portador de algo maior do que ele!
· Deve pregar; por para fora o que sente para comunicar o carisma. Deve escrever, falar, comunicar a graça a seus filhos espirituais.

Junto ao fundador ficam aqueles que sentiram a vibração da mesma inspiração e vão formando a comunidade.
Existem fundadores e co-fundadores. Estes auxiliam o fundador a perceber aspectos da vocação fundante, mas só ao fundador cabe a delimitação do carisma.
O carisma de fundador não se pode transmitir aos demais; a graça de fundação, sim!

Cristo e os Conselhos Evangélicos

Os conselhos evangélicos têm sua origem divina, mais exatamente, cristológica, pois estão fundamentados nas palavras e exemplos do Senhor.

Tem sua origem divina na doutrina e nos exemplos de Jesus, isto quer dizer, que se fundam em sua vida, em toda sua vida. A vida e a doutrina de Jesus estão na base de toda forma de vida cristã, e de maneira especial, na base da vida consagrada.

Quando se fala na vida de Jesus, não se refere aos seus aspectos, mas às suas dimensões.

Como foi a vida de Jesus?

Jesus é o Homem inteiramente livre e inteiramente para os outros. Ele viveu inteiramente para o Pai e para os irmãos. Sua vida consiste em desviver-se. Não se pertence a si mesmo. É, existe e vive para Deus e para os homens. E a virgindade- pobreza-obediência, foram a expressão objetiva desta plena e definitiva autodoação. Por isso a vida de Jesus não foi simples existência, mas uma proexistência. Seu existir foi proexistir, existir em favor dos outros, dando tudo e a si mesmo. Então os conselhos evangélicos não podem ser entendidos como aspectos, mas como dimensões constitutivas da vida de Jesus.

Para nós, também os conselhos evangélicos não são aspectos, mas dimensões constitutivas de nossa vida. Porque o consagrado " imita mais estreitamente e re-apresenta perenemente na igreja o gênero de vida que o Filho de Deus assumiu quando veio a este mundo para cumprir a vontade do Pai, e que propôs aos discípulos que o seguiam".(Concílio)

Afirmar a origem divina-cristológica dos conselhos evangélicos é afirmar a sua existência, mas também sua inviólavel perdurabilidade na igreja, já que se trata de "bem irrenunciável, sobre o qual a igreja não tem poder de vida ou morte. A Igreja o recebe como se recebe um dom, e o guarda com fidelidade, porque eles não são de origem eclesiástica, mas cristológica. Os conselhos evangélicos expressam, a doação total e irrevogável de Cristo à Igreja, e a doação total da igreja a Cristo.(nós não podemos extinguir os mesmos).

A hierarquia da igreja tem a missão de interpretá-las, regular sua prática e também de organizar formas estáveis de vivê-los.

Por causa da origem cristológica, o consagrado vive não simplesmente a castidade, mas a castidade de Cristo; não é a pobreza, mas a pobreza de Cristo, tampouco é a obediência, mas a obediência de Cristo. Existem outras formas de pobreza, castidade e obediência, mas nenhuma delas nos interessa, somente a que Cristo viveu. (não é aos nossos moldes).

Se nós nos desviarmos, ou nos descuidarmos da origem e dimensão cristológicas dos conselhos evangélicos, nós os tornaremos ininteligíveis, esvaziados de sentido, perdendo sua maior riqueza teológica. Nós não podemos desvinculá-los da pessoa de Cristo, de sua vida e doutrina. Deste modo e por essa razão, os conselhos evangélicos se converteram em simples meios ascéticos, em vez de ser atitudes e dimensões essencialmente evangélicas e cristológicas.

Portanto, para compreendermos verdadeiramente os conselhos evangélicos é necessário voltar decididamente à pessoa de Jesus virgem-pobre-obediente com sua vida e sua doutrina, com o chamado ao seu seguimento e com seu mistério de Kénosis; em relação com a Igreja, com sua vida, com sua santidade, com sua dimensão carismática e escatológica e com sua missão evangelizadora; em relação com o Reino de Deus, com sua valiosidade absoluta, com suas exigências supremas e com seu estabelecimento neste mundo, como inauguração da vida celeste ( Jesus foi casto-obediente e pobre para isto).

Sentido em Jesus Cristo

A virgindade, a pobreza e obediência, constituem as três dimensões mais profundas do viver humano de Cristo. Não foram alguma coisa de secundário ou marginal em sua existência, mas algo constitutivo de seu modo histórico de ser e de viver para os outros.

O que significaram na vida-missão de Jesus esses três conselhos evangélicos?

Amor total demonstrado - isso significa que os conselhos eram para Jesus um meio, uma forma dele demonstrar o seu amor, provar o seu amor total a Deus e aos homens. Uma prova autêntica profunda de amor. Como provar o meu amor a ti, como tu irás reconhecer que o meu amor é sincero e é tão sincero que vou ser pobre-obediente-casto. E não como meios para conseguir o amor perfeito, mas como expressão desse amor perfeito. Não para tornar possível o amor, mais para tornar visível o amor. Para demonstrar o máximo amor ao Pai e aos irmãos.

Cristo teria amado com o mesmo amor total ao Pai e aos homens, se tivesse vivido de outra maneira, sem o mínimo perigo para sua liberdade ou para deixar-se levar para o egoísmo. Porém não nos teria feito ver com a mesma claridade e evidência esse amor e essa liberdade. Fazer ver com argumentos, dar provas convincentes. A virgindade-pobreza-obediência de Jesus foram grito essencial de amor e testemunho irrefutável de liberdade.

Quanto mais encarnarmos a pobreza-obediência-castidade mais demonstramos nosso amor a Deus e mais somos livres para amá-lo. Nada nos prende, nem nos domina. Quando tomamos posse de algo ou de alguém é porque estamos dominados por esse algo ou alguém. Devemos também através desses conselhos provar o nosso amor a Deus e aos homens, a nossa doação de nós mesmos sem reservas.

Doação total de si mesmo (como Jesus muito amava ao Pai ele doa a si mesmo).

O amor manifesta-se sempre como dom. Não há amor se não há dom.

Amor total - dom total - dom de si mesmo.

Amar é dar-se! Jesus não se pertence e não vive para si. Por isso vive inteiramente para os outros, para Deus e para os homens, isto é, para o Reino. Literalmente ele "desvive-se". Jesus pôs-se a serviço dos outros - do Pai e dos irmãos - tudo o que era e o que tinha: Filiação, experiência com Deus, doutrina, tempo, própria vida. Porque viveu inteiramente como Filho do Pai, pode viver inteiramente como irmão de todos os homens.

Vivência antecipada do sacrifício da sua morte

Os conselhos eram para Jesus, parte integrante de sua Kénosis, do mistério de seu aniquilamento que culminou na morte de cruz. A Kénosis que Jesus vive não era mera renúncia, nem puro esvaziamento, mas auto-doação por amor. Cristo ofereceu-se a si mesmo e não sangue de animais. E esse sacrifício durou toda a sua vida.

A morte é a total oferta do nosso ser a Deus: o grão de trigo precisa morrer para nascer de novo.

Através dos conselhos evangélicos vivenciamos antecipadamente a cada dia a nossa morte, o nosso aniquilamento, que culminará em nossa morte (humildade - viver a nossa verdade).

Cristo não pode deixar de ser Deus, não pode renunciar ao seu ser divino, porém renunciou a sua condição divina gloriosa, isto é, renunciou a manifestar de modo habitual em sua humanidade a glória que lhe correspondia em virtude de sua divindade. Não fez valer seus direitos. Despojou-se de sua nobreza. Sendo Senhor e Rei, apresentou-se como servo e escravo.

Inauguração de "modo celeste de vida"

A vida da graça nos faz viver desde esta vida a glória do céu. A vida da graça é a vida eterna.

Também foram, os conselhos evangélicos, em Cristo, antecipação de sua ressurreição gloriosa, prefiguração da nossa e inauguração neste mundo da vida celeste. Através dos conselhos evangélicos, Cristo tornou já presente, nesta etapa terrena do Reino os bens definitivos e as atitudes essenciais do Reino consumado.

Pela pobreza-obediência e castidade, Cristo adiantou, aqui e agora, a condição essencial da vida celeste, estabelecendo um tipo de relações, divinas e humanas, válidas para outra vida.

Viveremos aqui o que viveremos no céu. A vida na terra deve ser uma preparação e antecipação da vida que vamos viver no céu. Os conselhos nos fazem viver e ser aqui na terra o que viveremos e seremos no céu.

O que são e o que devem significar em nós os conselhos evangélicos?

Aquilo mesmo que eles foram em Cristo e ter a mesma significação que tiveram nele. Do contrário seria necessário a condição evangélica da vida consagrada. Se a vida consagrada é em sua própria essência seguimento e imitação radical de Jesus Cristo virgem-pobre-obediente.

Os conselhos evangélicos na vida consagrada são afirmação clara da primazia absoluta do Reino, presença no mundo dos bens definitivos, prefiguração e experiência da vida eterna e da ressurreição gloriosa.

Devemos então, viver os conselhos evangélicos com o mesmo sentido que Cristo viveu, porém para nós, homens pecadores, precisamos acrescentar uma afirmação complementar: os conselhos evangélicos devem se tornar meios removedores de obstáculos, em mortificação das raízes de pecado-de cobiça, de egoísmo, de soberba (as concupiscências) que existem em nós, inclusive depois do batismo, e que um dia podem se transformar em frutos de pecado. São pedagogia para o amor, além de ser constitutivamente amor. Porque a amar se aprende amando. E esta é uma significação que em Cristo não tiveram.

Para nós assume também o caráter ascético, mas não para aí, porque seria privá-las de todo o seu sentido cristológico e, consequentemente esvaziá-los de seu conteúdo melhor. Deixariam então, de ser realidades e atitudes evangélicas, para ser simplesmente costumes ascéticos ou meios humanos de purificação.

A Castidade:

Prometer viver a castidade, significa imediatamente amar ao Pai e a todos os homens com o mesmo amor total, divino e humano de Cristo, que cria uma fraternidade universal com um tipo de relaçao interpessoal que continuará sendo válidas na outra vida, a fim de transcender toda mediação fundada nos sentidos (prazer pelo prazer).

A castidade vem de encontro a concupiscência do prazer, vem dar ao prazer o seu verdadeiro significado.

Celibatário (virgindade consagrada) - vive essa dimensão acrescida da renúncia ao matrimônio e ao exercício da sexualidade como conseqüência lógica desse amor imediato, total para viver inteiramente para o Reino. Evitando toda polarização e toda imediação no amor.

A castidade esponsal da Igreja na vida consagrada

A igreja por si é realmente virgem como Cristo, porque é esposa de Cristo: "Desposei-vos a um único Esposo para vos apresentar a Cristo como virgem pura. (2 Cor. 11,2s)

Quando Jesus comunica seu Espírito à Igreja, comunica-lhe a sua virgindade. Virgindade cristã não significa, então, renúncia ao matrimônio, mas acolhida total do Espírito de Cristo; a renúncia ao matrimônio pode ser um modo significativo de manifestar esta acolhida do Espírito.

Santo Agostinho diz: "Criou a Igreja virgem e por isso é virgem. Na carne há somente virgens consagradas; na fé todos devem ser virgens, homens e mulheres... Virgem é, pois, a Igreja: é virgem, seja virgem!"

Portanto, precisamos cada vez mais entregar nossos sentidos a Deus: o nosso olhar, o nosso gosto, o nosso cheiro, o nosso ouvir, o nosso falar, o nosso tocar, o nosso sentir.

A pobreza: O Pai é a nossa única riqueza

A pobreza de Cristo foi, em face ao Pai, confiança absoluta, que ele expressou numa renúncia explícita a todo outro apoio, para afirmar decididamente que se apoiava somente nele, e proclamar a relatividade de todo o criado diante do valor absoluto do Reino.

Em face aos homens foi disponibilidade de tudo o que era e de tudo o que tinha. Em face a si mesmo, a pobreza foi parte integrante de seu ministério de aniquilamento. Em face dos bens desse mundo liberdade soberana.

Prometer viver na pobreza (fraternidade, unidade), pobreza quer dizer, empenhar-se em confiar infinitamente em Deus, apoiando-se unicamente nele, viver decididamente, para os outros, compartilhando tudo o que se é e tudo o que se tem com os irmãos, não pertencer-se para pertencer a todos, e manter diante de todas as coisas plena liberdade e independência ativa. É portanto, um meio de se vencer a concupiscência do possuir, que atinge uma dimensão muito maior do que somente ajuntar tesouros na terra.

A Obediência: O desafio da liberdade na obediência

A obediência em Cristo foi submissão filial plena e amorosa ao querer do Pai. Foi estado e atitude de perfeita docilidade, ativa e responsável à vontade do Pai. Foi saber-se centro do plano salvífico de Deus, aceitá-lo incondicionalmente com todas as suas consequências.

Fazer voto de obediência significa comprometer-se diante de Deus e diante dos irmãos a viver em atitude de total docilidade à vontade amorosa do Pai e a acolhê-la filialmente como critério único de vida, sejam quais forem as mediações humanas ou sinais que manifestam essa vontade.

Se estivermos atentos a vontade de Deus não esperaremos que as nossas autoridades a revele para nós e nem resistiremos aos absurdos ou mesmo aquilo que para nós é muito difícil. Nós mesmos exporemos a vontade de Deus para elas e as ajudaremos a descobrir conosco o que Deus tem para nós. Contribuiremos positivamente no caminho de Deus para as nossas vidas.

Para vivermos a obediência não podemos assumir uma atitude passiva ou muito menos uma atitude de nos esconder da vontade de Deus e nos colocarmos indispostos, resistentes, a ela, mas uma atitude de descoberta, uma disposição interior, uma determinação de descoberta para vivê-la. Como nós não queremos vivê-la nem queremos descobrí-la. O conhecimento da vontade de Deus nos leva a responsabilidade e não temos como nos abster de cumprí-la.

Os grandes desafios da vida consagrada

A missão profética da vida consagrada vê-se provocada por três desafios principais, lançados à própria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, estimulando a Igreja, e de modo particular as pessoas consagradas, a pôr em evidência e testemunhar o seu significado antropológico profundo. Na verdade, a opção por esses conselhos, longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas, revela-se antes como uma transfiguração dos mesmos. Os conselhos evangélicos não devem ser considerados como uma negação dos valores inerentes à sexualidade, ao legítimo desejo de usufruir de bens materiais, e de decidir autonomamente sobre si próprio. Essas inclinações, enquanto fundadas na natureza, são boas em si mesmas, mas a criatura humana, enfraquecida como está pelo pecado original, corre o risco da as exercitar de modo transgressivo. A profissão de castidade, pobreza e obediência, torna-se uma admoestação a que não se subestimem as feridas causadas pelo pecado original, e, embora afirmando o valor dos bens criados, relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto.