quarta-feira, 15 de junho de 2011

União harmônica entre vida espiritual e atividades




O Decreto conciliar Presbyterorum Ordinis (n. 14) pergunta-se "como [os presbíteros] poderão harmonizar, numa unidade, a sua vida interior com o ritmo da ação externa", e responde que isso será possível se "os Presbíteros seguirem, no exercício do ministério, o exemplo de Cristo Senhor, cujo alimento era cumprir a Vontade d´Aquele que o enviara para levar a termo a sua obra (cf Jo 4,34)".

Recordemos o que comentávamos no item anterior: a piedade, o amor a Deus, leva ao cumprimento da sua Vontade em tudo. Isto é identificação com Cristo. Só então há uma unidade de vida. Faça o que fizer, o seminarista ou o padre estará sempre pendente de Deus, amando a Deus, dando uma resposta a Deus que "nos espera cada dia [...] nas situações mais comuns" (São Josemaria: Questões atuais do Cristianismo, n. 114). É claro que, sem uma vida interior forte e constante, tudo isso fica sendo apenas uma bela teoria

Por isso, só levando a sério a vida espiritual, com exigência pessoal, é que adquiriremos o "espírito contemplativo" que nos leve a estar perto de Deus, a viver a presença de Deus em todas as circunstâncias, a descobrir esse "algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns" (Questões atuais, ib.), e a dar-lhe a resposta que Deus espera com a nossa conduta, as nossas reações e atitudes.

Então, sim, o trabalho pastoral santifica, a nós e aos fiéis que estão aos nossos cuidados. Como dizia São Josemaria, deve chegar um momento em que todas as atividades – ascéticas (luta espiritual), apostólicas, pastorais, pequenezes da vida cotidiana – se integrem numa "unidade de vida simples e forte, que crie em nós a necessidade e como que o instinto sobrenatural de purificar todas as ações, de elevá-las à ordem da graça, de santificá-las e de convertê-las em instrumento de apostolado".

"Cumprir a vontade de Deus no trabalho – dizia – , contemplar Deus com o trabalho [estudo, trabalho pastoral, etc.], trabalhar por amor a Deus e ao próximo, converter o trabalho [qualquer um, mesmo o trabalho burocrático do expediente paroquial, ou do arquivo] em meio de apostolado, dar às coisas humanas [descanso, esporte, conversas de amigos, passeio, etc.] um valor divino: esta é a unidade de vida, simples e forte, que devemos ter e ensinar" (Carta, 11/03/1940).

E, de maneira sintética, sentenciava: "Ou sabemos encontrar o Senhor na nossa vida de todos os dias, ou não o encontraremos nunca" (Questões atuais do Cristianismo, n. 114).

Naturalmente, esse ideal exige: plano de vida espiritual constante e sério; o cultivo de uma intensa presença de Deus (muitas jaculatórias, atos de amor e desagravo, oferecimentos, pequenas mortificações...), que leve a dirigir para Deus mesmo as coisas mais triviais como oferendas de amor e petições pelo apostolado; exige "fazer oração" – tratar intimamente com Deus – sobre as nossas tarefas, sobre o apostolado, sobre as pessoas que queremos ajudar, sobre as nossas dificuldades, sobre os nossos planos pastorais, etc. Deste modo, a "vida contemplativa" acaba unificando tudo. Como Marta, fazemos "muitas coisas", ao mesmo tempo que estamos, na realidade, fazendo "uma só coisa, a única necessária", como Maria (Lc 10, 41-42).


Pe. Francisco Faus