segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quem são as Novas Comunidades?



Quem somos nós?

A começar: “Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus ... adquirem uma típica e permanente visibilidade no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele mistério do Reino de Deus...” (Exortação Apostólica Vita Consecrata, João Paulo II). Somos reflexo do mistério do Reino de Deus, pois a vida consagrada que temos nos faz levar ao outro uma esperança de que o céu está próximo de todos. A graça da vivência dos conselhos evangélicos – castidade, pobreza e obediência – proporciona esperança àqueles que caminham cansados por esta vida.

Deus ilumina o seu povo através do seu próprio povo. Ele se fez presente em nosso meio durante toda a história da humanidade. Primeiramente, falando pelos profetas e, hoje, com a presença do Seu Filho Vivo em nosso meio, Deus nos fala através do Seu Espírito em todo aquele que se abre à Sua Voz. Sendo assim, tocados por esse Espírito, muitos homens e mulheres foram conduzidos a expressar uma consagração a Deus diferente daquelas existentes pelas Ordens e Congregações da Igreja. Esses homens e mulheres sentiram-se movidos por um novo carisma, nova forma de vida, nova manifestação da graça divina. Daí surgiu as nossas comunidades, chamadas pelo Beato João Paulo II de novas Fundações ou novas Comunidades.

A denominação ‘novas’ dá destaque ao que ainda está recente, que começou agora. Na Igreja, temos várias Fundações de vida consagrada religiosa, mas, leigos que consagram a sua vida a Deus em compromissos de castidade, pobreza e obediência, em uma vivência fraterna de partilha de bens, ainda inseridos no ambiente secular, mas não submersos a ele, surgiram somente com as novas Fundações. Aliás, essas são características próprias das novas Comunidades, que, imersos em uma humanidade que exclui Deus de seus lares, passam a viver fervorosamente a vida cristã no ambiente familiar, no trabalho e no estudo. Com esse ‘novo’, nasce mais um caminho de santidade.

As novas Comunidades há poucas décadas e perduram pelos dias de hoje com fortaleza e em crescimento de diversificação, quanto a carisma, e quantidade, quanto ao número de membros, comprovando ser manifestação de Deus nos dias atuais. Em 1998, no primeiro encontro de João Paulo II com as novas Comunidades, ele destacou a graça de Deus nessa nova forma de vida e encorajou os homens a seguirem as monções do Espírito Santo:

No nosso mundo, com frequência dominado por uma cultura secularizada que fomenta e difunde modelos de vida sem Deus, a fé de muitos é posta à dura prova e, não raro, é sufocada e extinta. Percebe-se, então, com urgência a necessidade de um anúncio forte e de uma sólida e aprofundada formação cristã. Como é grande, hoje, a necessidade de personalidades cristãs amadurecidas, conscientes da própria identidade batismal, da própria vocação e missão na Igreja e no mundo! E eis, então, os movimentos e as novas comunidades eclesiais: eles são a resposta, suscitada pelo Espírito Santo, a este dramático desafio do final de milênio. Vós sois esta resposta providencial.


Como ‘resposta’ de Deus, ‘providencial’ ao mundo de hoje, somos reconhecidos como forma de vida inspirada por Deus. Cada carisma, então, manifesta essa inspiração de Deus, esse sopro do Espírito Santo à necessidade do mundo de hoje.

Mas, antes desse encontro com as novas Comunidades, em 1996, o então Papa, hoje Beato, João Paulo II, escreveu a Exortação Apostólica Vita Consecrata, que explica de forma tão espetacular a graça de Deus por sobre a vida consagrada. Já nesta Exortação Apostólica, João Paulo II, além de destacar a beleza da vocação dos consagrados e seu importante papel na Igreja, além de escrever acerca de cada uma das formas de vida consagrada, no artigo 62, ele falou sobre nós, as novas Comunidades:

O Espírito, que, ao longo dos tempos, suscitou numerosas formas de vida consagrada, não cessa de assistir a Igreja, quer alimentando nos Institutos já existentes o esforço de renovação na fidelidade ao carisma original, quer distribuindo novos carismas a homens e mulheres do nosso tempo, para que dêem vida a instituições adequadas aos desafios de hoje. Sinal desta intervenção divina são as chamadas novas Fundações, com características de algum modo originais relativamente às tradicionais.

A originalidade destas novas comunidades consiste freqüentemente no fato de se tratar de grupos compostos de homens e mulheres, de clérigos e leigos, de casados e solteiros, que seguem um estilo particular de vida, inspirado às vezes numa ou noutra forma tradicional ou adaptado às exigências da sociedade atual. Também o seu compromisso de vida evangélica se exprime em formas diversas, manifestando-se, como tendência geral, uma intensa aspiração à vida comunitária, à pobreza e à oração. No governo, participam clérigos e leigos, segundo as respectivas competências, e o fim apostólico vai ao encontro das solicitações da nova evangelização.
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Estas novas associações de vida evangélica não são uma alternativa às anteriores instituições, que continuam a ocupar o lugar insigne que a tradição lhes conferiu. Também as novas formas são um dom do Espírito, para que a Igreja siga o seu Senhor, num ímpeto perene de generosidade, atenta aos apelos de Deus que se revelam através dos sinais dos tempos.

Assim ela apresenta-se ao mundo, diversificada nas suas formas de santidade e de serviços, como « sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o gênero humano » (157). Os antigos Institutos, muitos deles acrisolados por provas duríssimas suportadas com fortaleza ao longo dos séculos, podem enriquecer-se entrando em diálogo e troca de dons com as fundações que surgem no nosso tempo. Desse modo, o vigor das várias instituições de vida consagrada, desde as mais antigas até às mais recentes, e ainda a vivacidade das novas comunidades alimentarão a fidelidade ao Espírito Santo, que é princípio de comunhão e de novidade perene de vida.

Somos ‘sinal da intervenção divina’, ou seja, o próprio Deus moldou cada carisma e Ele mesmo suscitou a sua ação no mundo. Ele formou cada Nova Comunidade como uma obra-prima e quis que seu carisma despertasse e composse o jardim de flores da Igreja. Cada Nova Comunidade com o seu carisma, único e específico, recebeu todo o cuidado e preparação de Deus para ser plantado no mundo, para ser regado de dons e obras do Espírito, para exalar também o perfume de Cristo e da Igreja. Sendo assim, como os Institutos já existentes, também somos frutos do Espírito Santo e, pelo mesmo Espírito, exemplo de vida, serviço e evangelização. Ele, o Espírito, “entrou na história e assim fala-nos de uma maneira nova” (Encontro com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades, Papa Bento XVI). Somos essa nova palavra do Espírito que, assim como conduz as Instituições mais antigas, também nos conduz a um caminho único de santidade, o mesmo trilhado por tantos santos da nossa Igreja. Porém, não somos iguais às Fundações antigas, somos “originais”, ou seja, novas “relativamente às tradicionais”. A nossa diferença não nos diminui em unção ou ação de Deus, apenas nos caracteriza: somos, em grande maioria, leigos que vivem a consagração nos conselhos evangélicos, que se entregam à nova evangelização da Igreja, que também querem uma vida santa. O Espírito que nos suscitou é o mesmo que nos diversifica e nos une. Ele sopra onde quer (Jo 3, 8). Ele “é a vontade da verdade e do bem. Por isso, ... o seu sopro não nos dispersa, mas reúne-nos, porque a verdade une como o amor une” (Encontro com os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades, Papa Bento XVI).

A nova evangelização, citada no artigo 62 pelo Beato João Paulo II, trata-se da coragem e atitude de viver a santidade no mundo de hoje, da audácia de testemunhar a Boa Nova, o Cristo que vive. Está intrinsecamente ligada às novas Comunidades por se tratar do novo inspirado pelo Espírito Santo, onde um surgiu do outro para assim se completarem. O Papa Bento XVI fala que “a nova evangelização não é uma duplicação da primeira, não é uma simples repetição, mas é a coragem de ousar novos caminhos, para atender às mudanças de condições dentro do qual a Igreja é chamada a viver hoje o anúncio do Evangelho” (A nova evangelização para a transmissão da fé cristã, 2011).

A nova evangelização consiste em anunciar e viver o Evangelho com todo fervor de quem quer ser santo, seguir as pegadas de Cristo em seus conselhos evangélicos. É “nova em seu ardor, em seus métodos, em suas expressões” (A nova evangelização para a transmissão da fé cristã, Papa Bento XVI, 2011). A nova evangelização é vivaz, empolgada, que quer cristianizar o que está secularizado, unida a toda e qualquer instituição de vida consagrada, a fim de que, guiados pelo mesmo Espírito, expressem de todas as formas o ser cristão, o Reino de Deus que está para vir, a missão de transformar o mundo em um lugar de paz e amor. Não é uma manifestação utópica, muito pelo contrário, é um ideal que se concretiza em nós, as novas Comunidades, pois somos, ao mesmo tempo, os frutos e os geradores dessa nova evangelização: “Além dos grupos recentemente nascidos, fruto promissor do Espírito Santo, uma grande tarefa na nova evangelização diz respeito à vida consagrada nas suas antigas e novas formas” (A nova evangelização para a transmissão da fé cristã, Papa Bento XVI, 2011).

As novas Comunidades, então, são expressão do Espírito aos sinais dos tempos. Ao cenário da nova evangelização, as novas Comunidades são resposta às necessidades das pessoas de hoje que, em meio a agitação do mundo, procuram o sentido de suas vidas. Deus, que ama tanto os seus filhos, sempre toma o cuidado de reconduzir a humanidade para o Seu caminho, ou seja, para o Cristo, que é “o caminho a verdade e a vida”. As novas Comunidades são esse cuidado de Deus, são luzes que mostram o Cristo em meio à escuridão do egoísmo, à cegueira do ateísmo, à falta de amor. Unidas os antigos Movimentos, as novas Comunidades iluminam novamente o mundo sob a ótica do Evangelho. O Papa Bento XVI, no II Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais e das Novas Comunidades, ressalta a beleza da manifestação de Cristo em meio este mundo perturbado através da vida consagrada nos Movimentos eclesiais e novas Comunidades. Segundo o Papa, somos construtores de um mundo melhor e devemos interferir na ganância que reina na vida do homem de hoje. “Levai a este mundo perturbado o testemunho da liberdade com que Cristo nos libertou (cf. Gl 5, 1). A extraordinária fusão entre o amor de Deus e o amor do próximo torna a vida bela e faz florescer o deserto no qual com frequência vivemos” (II Congresso

Mundial dos Movimentos Eclesiais e das Novas Comunidades, Papa Bento XVI). Ele ainda acrescenta:

Ao longo dos séculos, o cristianismo foi comunicado e difundiu-se graças à novidade de vida de pessoas e de comunidades capazes de dar um testemunho incisivo de amor, de unidade e de alegria. Precisamente esta força pôs tantas pessoas em "movimento" no suceder-se das gerações.

Não foi porventura a beleza que a fé gerou no rosto dos santos a estimular muitos homens e mulheres a seguir as suas pegadas? No fundo, isto é válido também para vós: através dos fundadores e dos iniciadores dos vossos Movimentos e Comunidades individuastes com singular luminosidade o rosto de Cristo e pusestes-vos a caminho. Também hoje Cristo continua a fazer ressoar no coração de muitos aquele "vem e segue-me" que pode decidir o seu destino. Isto acontece normalmente através do testemunho de quem fez uma experiência pessoal da presença de Cristo. No rosto e na palavra destas "criaturas novas" torna-se visível a sua luz e ouve-se o seu convite.

Portanto digo-vos, queridos amigos dos Movimentos: fazei com que eles sejam sempre escolas de comunhão, companheiros a caminho nos quais se aprende a viver na verdade e no amor que Cristo nos revelou e comunicou por meio do testemunho dos Apóstolos, no seio da grande família dos seus discípulos. Ressoe sempre no vosso coração a exortação de Jesus: "Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está no céu" (Mt 5, 16). Levai a luz de Cristo a todos os ambientes sociais e culturais em que viveis. O impulso missionário é comprovação da radicalidade de uma experiência de fidelidade sempre renovada ao próprio carisma, que leva além de qualquer fechamento cansado e egoísta em si. Iluminai a obscuridade de um mundo transtornado pelas mensagens contraditórias das ideologias!

Somos luz que leva a Luz! A nossa vida, em sua forma comum e laical, deve manifestar o Cristo em sua plenitude de graça pelo testemunho do Evangelho. Somos sinal da Igreja em “movimento”, sinal de continuação da graça de Deus derramada ao seu povo desde os primórdios e intensificada após a concretização da Nova Aliança. O Espírito continua a despertar caminhos de santidade por entre a humanidade e os seus mais novos caminhos são suscitados através das novas Comunidades, que ressoam com clareza, coragem e firmeza a entrega ao “vem e segue-me” que Cristo continua a fazer em nossos corações. O Papa Bento XVI confirma a graça de Deus derramada na Igreja nos tempos atuais pelas novas Comunidades e agradece o seu destaque pelo mundo, ou seja, agradece o “sim” dessa nova manifestação de vida consagrada que, como Maria, coloca-se a disposição do chamado de Deus. Pela condução do Espírito, as novas Comunidades despertam a humanidade adormecida para o Cristo e para o Céu. É assim que o Papa Bento XVI conclui sua mensagem a todos nós:

Os Movimentos eclesiais e as novas Comunidades são hoje sinal luminoso da beleza de Cristo e da Igreja, sua Esposa. Vós pertenceis à estrutura viva da Igreja, Ela agradece-vos pelo vosso compromisso missionário, pela ação formativa que desempenhais de modo crescente sobre as famílias cristãs, para a promoção das vocações ao sacerdócio ministerial e à vida consagrada que desenvolveis no vosso âmbito. Agradece-vos também pela disponibilidade que demonstrais ao receber as indicações operativas não só do Sucessor de Pedro, mas também dos Bispos das diversas Igrejas locais, que são, juntamente com o Papa, guardas da verdade e da caridade na unidade. Confio na vossa obediência imediata. Além da afirmação do direito à própria existência, deve prevalecer sempre, com indiscutível prioridade, a edificação do Corpo de Cristo no meio dos homens. Qualquer problema deve ser enfrentado pelos Movimentos com sentimentos de profunda comunhão, em espírito de adesão aos Pastores legítimos. Ampare-vos a participação na oração da Igreja, cuja liturgia é a mais alta expressão da beleza da glória de Deus, e constitui de certa forma um aproximar-se do Céu à terra.

Fonte
Bento XVI. Mensagem do Papa Bento XVI aos Participantes no II Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais e das Novas Comunidades.2006.