Escutar é uma bela arte, saber falar também... Acredito que,
se estamos buscando um crescimento espiritual, precisamos dar passos neste
sentido, porque só conseguimos ouvir a voz de Deus se nossos ouvidos estiverem
treinados em ouvir as pessoas. Você sabe o que se passa com a pessoa que está
ao seu lado, seja no trabalho, em casa ou na escola? Costuma perguntar como foi
o dia daqueles que convivem com você? É fácil perceber que há pouco interesse
em ouvir o outro, talvez porque para fazê-lo é preciso esvaziar-se de si mesmo,
e este é um desafio que, apesar de construtivo, nem sempre é apreciado.
Hoje dizer “faça silêncio”, talvez não seja a solução se
quisermos crescer como pessoa, pois existem vários tipos de silêncio e nem
todos são produtivos. Há silêncios, por exemplo, que são tidos como sábios.
Outros, como necessários e outros ainda como indiferença. Portanto, antes de
“resolver silênciar, precisamos ter a motivação certa. Já que, muitas vezes, a
maior caridade não é simplesmente calar, mas sim ouvir e acolher a quem precisa
falar.
É assustador, mas real, há muitas pessoas morrendo porque
não conseguem ninguém que as escute. Ocupados com aquilo que escolhemos ouvir,
vamos nos deixando embalar pela música que nos toca e não pelas situações que
nos cercam.
Outro dia fiquei admirada com o que presenciei. Estava em um
consultório médico e chegaram dois jovens, um rapaz e uma moça, não sei se eram
irmãos ou amigos, não creio que seriam um casal, apesar de terem chegado
juntos. Já sentados, trocaram algumas palavras e, em alguns minutos, cada um
colocou o fone nos ouvidos e o silêncio reinou. Passei um bom tempo ainda no
lugar e não os ouvi trocar uma palavra sequer. Coisa estranha, não é? Por que
será que o som que sai do fone é mais interessante do que a vida de quem está
ao nosso lado? Por que será que os meios que vêm para comunicar acabam nos
roubando a comunicação? Penso que é hora de darmos mais atenção à forma como
temos lidado com essa realidade e valorizarmos mais o diálogo.
Tanto as palavras como o silêncio têm sua força, negativa ou
positiva; é grande sabedoria saber usá-los, mas é preciso usá-los. As palavras
fazem parte da nossa essência, comunicar é preciso! Com palavras nos
aproximamos ou nos afastamos do outro, apaziguamos ou ferimos. Damos ou tiramos
a vida. Marcamos nossas escolhas com palavras e falar com a vida, com paixão,
com os olhos, com os gestos, com a alma e com amor é transmitir esperança a
quem nos ouve. Porém, na hora de escutar as pessoas, o barulho das palavras não
ajuda nada. E aí entra o importante papel do silêncio.
Escutar significa receber alguém dentro de nós, em nosso
coração e isso quase sempre se dá no silêncio. Por isso, é preciso ouvir a
pessoa ! Não o que dizem da pessoa ou o que imaginamos a seu respeito, mas
escutar a própria pessoa. Dar tempo para a pessoa falar. Parar o que estamos
fazendo e olhar para a pessoa com a atenção que ela merece. É mais do que
simplesmente ouvir palavras, é acolher a pessoa do jeito que ela está, com suas
dores ou alegrias. É exigente, mas benéfico, pois quando escuto o outro,
aprendo com ele, cresço com suas experiências e evito muitos erros.
Já observou que nossos problemas, muitas vezes, tomam
proporções maiores do que as reais, justamente porque não escutamos as pessoas?
Fiquemos atentos e procuremos dar mais atenção àqueles que nos cercam.
Silenciar, sim, o silêncio tem um valor incalculável, mas que nosso silêncio
não seja de indiferença e sim de acolhimento.
Penso que saber ouvir e saber falar é antes uma questão de
respeito e amor à própria vida. Praticar essa arte é um dom.
Se enquanto você estiver lendo este texto, perceber que o
barulho das palavras o tem impedido de ser melhor, tenha a coragem de
recomeçar, silenciando. Por outro lado, se perceber que seu silêncio não tem
produzido vida, saia dele o quanto antes e vá ao encontro do outro, levando uma
palavra de esperança. Em todo caso, viva bem o hoje; apaixone-se pela vida.
Partilhe suas lutas e conquistas. Faça pausas para escutar os outros e, pela
força da comunicação, dê mais qualidade aos seus dias e seja feliz.
Dijanira Silva