Quanto mais a noite fica escura, mais perto está a aurora.
Muitas vezes, podemos passar por algum período de aridez espiritual, isto é,
não temos vontade de rezar, torna-se difícil participar da Santa Missa, a reza
do terço fica pesada, entre outros. Até mesmo a Sagrada Comunhão se torna um
sacrifício diante das dúvidas que podem atingir a nossa alma. Parece que o céu
sumiu.
Como
vencer esse estado de espírito no qual parece que Deus está longe e que nos
falta a fé? Primeiro, é preciso verificar se esta situação não é tibieza, ou
seja, causada por nossa culpa em não perseverar no cuidado da vida espiritual,
e, sobretudo, verificar se não há pecados graves em nossa alma, que possam
estar afugentando dela a graça de Deus.
Se
não houver pecados na alma, então, é preciso antes de tudo, calma, paciência e
perseverança nos exercícios espirituais: oração, vida sacramental, caridade,
penitência, entre outros. Mesmo sem vontade ou sem gosto, continuar, sem jamais
parar, os exercícios espirituais.
O
Senhor, às vezes, permite essas provações para que aprendamos a “buscar mais o
Deus das consolações do que as consolações de Deus”, como ensinou um santo. São
João da Cruz, místico que tanto experimentou o que chamou de “noite escura da
fé”, afirmou que “o progresso da pessoa é maior quando ela caminha às escuras e
sem saber.”
Muitas
vezes, nos deleitamos nas orações gostosas, cheias de fervor sensível, como
crianças quando comem doces. Mas quando vem a luta deixamos a oração. Veja o
que nos diz a Palavra de Deus: “Filho meu, não desprezes a correção do Senhor.
Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e
castiga todo aquele que reconhece por seu filho (Pr 3,11s). Estais sendo
provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o
filho a quem seu pai não corrige?… Mas se permanecêsseis sem a correção que é
comum a todos, seríeis bastardos e não filhos legítimos… Aliás, temos na terra
nossos pais que nos corrigem e, no entanto, os olhamos com respeito. Com quanto
mais razão nos havemos de submeter ao Pai de nossas almas, o qual nos dará a
vida? Os primeiros nos educaram para pouco tempo, segundo a sua própria
conveniência, ao passo que este o faz para nosso bem, para nos comunicar sua
santidade” (Hb 12,5-10).
Deus
nos quer santos, e é também algumas vezes pela provação e pela aridez
espiritual que Ele arranca as ervas daninhas do jardim de nossas almas.
Coragem, alma querida de Deus! Jesus disse que Ele é a videira verdadeira, e
Seu Pai o bom agricultor, que podará todo ramo bom que der fruto, para que
produza mais fruto (cf. Jo 15,1-2).
Não
podemos querer apenas o açúcar do pão e renegar o pão do sacrifício. Às vezes,
a meditação é difícil, a oração é penosa, distraída, surgem as noites e as
trevas… Nessas horas é preciso silêncio, abandono, paciência. O Esposo há de
voltar logo… Em breve vai raiar a aurora e os fantasmas vão sumir.
Quanto
mais a noite fica escura, tanto mais perto nos aproximamos da aurora. Deus sabe
pelo que estamos passando, louvado seja o Seu santo Nome! É hora de abandono em
Suas mãos paternas.
Em
meio às trevas alguns sentem o coração como se fosse de gelo, não sentem mais
amor a Jesus, perdem a piedade, se sentem condenados. Que desoladora confusão
espiritual! Nessas horas a única saída é fechar os olhos e dar as mãos a Jesus
para ser guiado por Ele na fé; confiança e abandono, irmão! Só o Senhor sabe o
caminho para sairmos deste matagal fechado e escuro.
Deus
nos prepara para a contemplação pelas provas passivas, ensinam os santos. Ele
as produz e a alma apenas tem que aceitar. É o duro caminho dos que querem a
perfeição. Ele está purificando a alma; o Cirurgião Celeste está nos operando a
alma.
São
João da Cruz fala da famosa “noite dos sentidos” cheia de aridez e de provação,
um verdadeiro martírio para a alma. Segundo o santo doutor, é Jesus que chama a
alma a caminhar com Ele no deserto, mesmo queimando os pés e sendo queimado
pelo sol, para se santificar.
Calma,
alma querida de Deus, Ele faz isso porque o ama muito! O fogo bom não é aquele
“fogo de palha”, alto e bonito, mas rápido, que logo se apaga; mas é o fogo
baixo que pega na lenha grossa e permanece por muito tempo. O fogo de palha é
só para começar…
É
isso que está acontecendo; não se assuste; não se preocupe porque o gosto de
rezar sumiu e se tornou agora um sacrifício penoso… Fé não é sentimento e muito
menos sentimentalismo; fé é adesão, com a mente, a Deus, às Suas verdades e às
Suas determinações. Não se preocupe em estar ou não “sentindo” fé ou devoção;
apenas viva-a; vá à Missa, ao grupo de oração, ao terço, com ou sem vontade, com
ou sem gosto, com ou sem sentimento. Assim, temos mais méritos ainda diante de
Deus.
Nessa
situação talvez você precise de um diretor espiritual, especialmente na
Confissão, para uma boa orientação.
Felipe
Aquino