A presença de Jesus desconcerta as pessoas, pois suas palavras e gestos
superaram as práticas costumeiras e seus critérios são totalmente diferentes
(Mc 1,21-28).
Diante da enfermidade, ele chega com a cura, inclusive tocando com as
próprias mãos pessoas excluídas do convívio social, como os leprosos. Anda por
todas as partes, vai às casas das pessoas, é procurado pelos pecadores e
fracos, não julga, mas acolhe, vence o poder do demônio. Aonde chega, traz um
ensinamento novo, dado com autoridade: “ensinava como quem tem autoridade, não
como os mestres da lei” (Mc 1,22). Sua fama se espalha por toda parte!
De fato, “grandes multidões o seguiram, e ele curou a todos.
Advertiu-os, no entanto, que não dissessem quem ele era. Assim se cumpriu o que
foi dito pelo profeta Isaías: “Eis o meu servo, que escolhi; o meu amado, no
qual está meu agrado; farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará
às nações o julgamento. Ele não discutirá, nem gritará, e ninguém ouvirá a sua
voz nas praças. Não quebrará o caniço rachado, nem apagará a mecha que ainda
fumega, até que faça triunfar o julgamento. Em seu nome as nações depositarão
sua esperança” (Mt 12, 15-21). Até hoje e até o fim dos tempos, seu nome atrai,
converte e transforma radicalmente.
Olhando para Jesus, perguntamo-nos sobre a autoridade exercida nos mais
diversos níveis da convivência humana. Tem-na uma criança! Tanto que a
sociedade aprende a valorizá-la, a ouvir desde o choro dos bebês até o clamor
das crianças de rua, ou a sabedoria de perguntas infantis que desarmam
marmanjos! E o “dono da bola”, nos jogos de futebol de nossa infância! Têm
autoridade os pais e mães em suas casas, aos quais se confia a transmissão de
valores verdadeiros, capazes de sustentar vidas humanas. Quantos são chamados a
exercê-la em repartições públicas e empresas, ou órgãos de governo. Quem nunca
se encantou com uma parada militar, em que garbosos soldados desfilam diante da
população? E pelo menos uma pontinha de justificado orgulho já passou por
tantos corações ao dar notícias a familiares e amigos sobre um cargo de chefia
ou uma promoção que vieram “em boa hora”! Também na Igreja, sacerdotes e outros
ministros são chamados a exercer autoridade, estando à frente de Paróquias,
grupos e setores de atividade pastoral.
Difícil é exercer a autoridade sem autoritarismo, sem cair na tentação
do despotismo ou manipular vidas e consciências. Autoridade tem que vir de
dentro, de convicções purificadas pelo sentido do bem comum. Autoridade se
impõe pelo conteúdo de palavras e pela coerência de vida. Autoridade tem a
criança pela sua transparência e pela imensa liberdade com que se apresenta.
Tem autoridade a pessoa que sabe o que pensa e o que fala, pois pode
estabelecer-se com competência, objetividade e compromisso com a verdade. Revela-a
mais do que outras aquela pessoa que escolheu, como o Senhor em quem
acreditamos, servir e não ser servido.
Não é novidade dizer que existe uma crise de autoridade nos dias que
correm. Para superá-la, há que se trabalhar na formação das pessoas. Os pais e
mães, quando saem de seu fechamento e aprendem a partilhar com outros casais,
dialogam mais e não perdem o pátrio poder. Ao lado de tantas outras
possibilidades, a Igreja põe à disposição Movimentos e Serviços, que são
laboratórios para que as famílias se renovem. As lideranças dos vários setores
de Igreja sabem também o quanto se insiste na formação dos quadros de serviço.
Aos responsáveis pela distribuição de cargos públicos, fazemos um apelo
a que se valorizem as escolas e cursos já existentes e o necessário treinamento
para quem a eles for destinado. Cresce na sociedade o controle da
administração, através da verificação de gastos e acompanhamento dos atos de
governo. São caminhos para a superação da corrupção, sempre existente, mas
dragão a ser vencido um dia depois do outro. E se o sonho não for alto demais,
quem pode pensar em formação para os que vierem a se candidatar nas eleições do
ano em curso?
Que mais pessoas possam ouvir de si mesmas, em muitos níveis da vida
social que é diferente seu comportamento e o exercício de suas funções, com
verdadeira autoridade! Mas sabemos de nossos limites, pelo que, para que seja
nova nossa vida, é necessário pedir: “Concedei-nos, Senhor, nosso Deus,
adorar-vos de todo o coração e amar todas as pessoas com verdadeira caridade”.
Só o amor a Deus e o amor de caridade no relacionamento com as pessoas podem
fazer superar a crise de autoridade do mundo. A receita não mudou!
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará