Perdão é expressão do amor de
Deus e exige espiritualidade, maturidade e fraternidade. Perdoar e aceitar o perdão sempre faz bem. Pode até ser um
pouco difícil – dependendo da situação que gerou atritos – mas tenha a certeza
de que vale a pena.
A lista de benefícios inclui melhor condição de saúde física
e mental, segundo o doutor em psicologia e líder do Grupo de Estudo e Pesquisa
sobre o Perdão (GEPP) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Júlio Rique
Neto.
"O perdão é uma atitude voluntária e é mais do que
simplesmente desculpar, pois está relacionado ao pensamento de justiça. Devemos
perdoar por amor incondicional ao outro, mas esse amor não substitui a
obrigação que temos com a justiça. Quem ama verdadeiramente o outro busca ser
justo!", salienta.
O mestre em Pedagogia e Bispo de Palmares (PE), Dom Genival
Saraiva, recorda que sempre há algo - intencional ou não - que afeta a ordem
normal dos relacionamentos.
"O perdão vai além de uma conduta respeitosa entre as
pessoas, das 'boas maneiras'. É algo mais profundo, expressão do amor de Deus.
Nesse sentido, é importante que cada um se veja sendo perdoado por Deus ao
perdoar seu semelhante. Os benefícios dessa atitude são de natureza espiritual,
psicológica e social, pois sempre crescemos em maturidade".
Rancor:
Se o perdão traz uma série de benefícios, alimentar o rancor
pode levar ao surgimento de doenças psicossomáticas, ao mal estar na presença
do outro, à depressão e à alta ansiedade, bem como o evitar de ambientes
sociais.
Então, o que explica o fato de tantas pessoas preferirem
alimentar o rancor, muitas vezes ao longo de toda uma vida? O primeiro passo
para a resposta é lembrar que o rancor e a vingança são respostas naturais às
injustiças sofridas, embora a compaixão também seja uma energia que nasce da
mesma fonte que a vingança e o rancor.
"É preciso aplacar o rancor e o desejo de vingança
pelas razões corretas, que ajudarão a compaixão a surgir e a se unir ao
sentimento de justiça, fazendo com que a pessoa possa ser justa em seus
julgamentos e ações e, ao mesmo tempo, misericordiosa e cuidadosa com relação
ao bem-estar geral (dela própria, do outro a quem ofendeu e dos que são
próximos aos relacionamentos)", explica o doutor Júlio.
Como o rancor é resposta natural – cultivada pela raiva que
a lembrança de uma injustiça provoca –, as pessoas acreditam serem justas se
mantiverem o rancor. Essa "justiça da vingança" – o tão conhecido
"olho-por-olho e dente-por-dente" – é primitiva e precisa ser
superada. Mas como fazer isso?
"Precisa-se entender que a justiça requer razões
adequadas para ser justa e não é a raiva ou o rancor que vão prover essas
razões. A compaixão surge e a pessoa passa a compreender o ato de outra forma e
pode vir a ser capaz de perdoar, desde que se busquem razões a partir de
perguntas como: quem é o outro que ofendeu, o que levou ele(a) a cometer a
injustiça, como ele(a) vê a situação", complementa Júlio.
A Igreja defende sempre o perdão, mesmo quando esse parece
uma atitude tão difícil de se concretizar. "A Igreja é Mãe e Mestra.
Assim, fiel ao ensinamento e à prática de Jesus, vai ao encontro de seus
filhos, para nutri-los e alimentá-los com a graça do Sacramento da
Reconciliação. Como é Mestra, ensina que o perdão é a via da humanização e da
santificação", explica Dom Genival.
Perdoar é difícil porque a tendência é prevalecer a
autoafirmação, o egoísmo e o individualismo, ao passo que o perdão supõe e exige
espiritualidade, maturidade e fraternidade.
Nessa perspectiva, a Bíblia presta-se como um catálogo de
bons exemplos para o perdão: Davi é um exemplo vivo de quem pede perdão, como o
vemos na oração dos salmos 31 (32) e 50 (51); José, do Egito, é um exemplo
tocante de quem concede perdão (cf. Gn 42, 1-24); Jesus é o modelo de perdão,
no momento crucial de sua vida, ao pedir ao Pai por seus algozes: 'Pai,
perdoa-lhes: não sabem o que fazem' (Lc 23,34); Estevão, o primeiro mártir da
Igreja, nos instantes finais de seu apedrejamento, rezou: “Senhor, não leves em
conta este pecado” (At 7,60). Na
história da Igreja, são muitos os santos e santas que encarnam o perdão como
experiência de comunhão com Deus e com o próximo.
"Esses exemplos muito contribuem para que a busca
humilde do perdão e a concessão generosa do perdão tornem-se uma realidade na
vida das pessoas e, particularmente, dos discípulos e discípulas de Jesus
Cristo. A cultura do perdão, mais do que prática humana e social, é, antes de
tudo, ação da graça de Deus em nossas vidas", ressalta o Bispo de
Palmares.
Você só tem a ganhar:
– Perdoar é um processo e pode levar tempo!
– Baixa ansiedade, menor depressão, pressão sanguínea e
batimentos cardíacos regulares;
– Quem perdoa: não evita encontrar com seus ofensores; não
sente medo ou vergonha por ter sido ofendido; melhora a auto-estima;
– No plano das relações interpessoais, pedir desculpa ou
perdão por algo que atingiu a natureza da convivência humana é uma atitude de
educação doméstica e educação social;
– Crescimento na maturidade como ser humano;
– Pessoas que perdoam conseguem manter relações sociais mais
próximas com maior comprometimento, ou seja, as relações com a família e os
amigos permanecem com maior grau de satisfação;
– É preciso paciência. Perdão dado apressadamente faz mal
para a pessoa a quem você magoou. Dê tempo para que ela perceba que você a
respeita e mantenha atitudes de cuidado, conforme sugere um recente estudo
feito pela Northwestern University e que incluiu pesquisadores da University of
Tennessee e da University of London.
Perdoar é um processo e pode levar tempo!E o que
fazer quando a pessoa deseja perdoar e receber o perdão, mas tem dificuldades
nesse sentido? Eis um passo a passo:
– Aceitação da raiva e da vergonha sofridas com a injustiça;
– Comprometer-se a querer resolver a questão pelo perdão, ou
considerar que o perdão pode ser uma saída para o conflito;
– Adotar a perspectiva do outro e, com isso, verificar se
surge a empatia com essa condição;
– Ver o evento da injustiça pela perspectiva do outro e,
assim, começar a trabalhar a possibilidade de perdoar ou de receber o perdão;
– Comprometer-a esperar que a vítima tem o direito de perdoar no seu próprio tempo.
Dom Genival Saraiva de
França, e o doutor em Psicologia, Júlio Rique Netose