quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Perdoar sempre faz bem: saiba mais sobre essa atitude



Perdão é expressão do amor de Deus e exige espiritualidade, maturidade e fraternidade. Perdoar e aceitar o perdão sempre faz bem. Pode até ser um pouco difícil – dependendo da situação que gerou atritos – mas tenha a certeza de que vale a pena.

A lista de benefícios inclui melhor condição de saúde física e mental, segundo o doutor em psicologia e líder do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre o Perdão (GEPP) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Júlio Rique Neto.

"O perdão é uma atitude voluntária e é mais do que simplesmente desculpar, pois está relacionado ao pensamento de justiça. Devemos perdoar por amor incondicional ao outro, mas esse amor não substitui a obrigação que temos com a justiça. Quem ama verdadeiramente o outro busca ser justo!", salienta.

O mestre em Pedagogia e Bispo de Palmares (PE), Dom Genival Saraiva, recorda que sempre há algo - intencional ou não - que afeta a ordem normal dos relacionamentos.

"O perdão vai além de uma conduta respeitosa entre as pessoas, das 'boas maneiras'. É algo mais profundo, expressão do amor de Deus. Nesse sentido, é importante que cada um se veja sendo perdoado por Deus ao perdoar seu semelhante. Os benefícios dessa atitude são de natureza espiritual, psicológica e social, pois sempre crescemos em maturidade".

Rancor:

Se o perdão traz uma série de benefícios, alimentar o rancor pode levar ao surgimento de doenças psicossomáticas, ao mal estar na presença do outro, à depressão e à alta ansiedade, bem como o evitar de ambientes sociais.

Então, o que explica o fato de tantas pessoas preferirem alimentar o rancor, muitas vezes ao longo de toda uma vida? O primeiro passo para a resposta é lembrar que o rancor e a vingança são respostas naturais às injustiças sofridas, embora a compaixão também seja uma energia que nasce da mesma fonte que a vingança e o rancor.

"É preciso aplacar o rancor e o desejo de vingança pelas razões corretas, que ajudarão a compaixão a surgir e a se unir ao sentimento de justiça, fazendo com que a pessoa possa ser justa em seus julgamentos e ações e, ao mesmo tempo, misericordiosa e cuidadosa com relação ao bem-estar geral (dela própria, do outro a quem ofendeu e dos que são próximos aos relacionamentos)", explica o doutor Júlio.

Como o rancor é resposta natural – cultivada pela raiva que a lembrança de uma injustiça provoca –, as pessoas acreditam serem justas se mantiverem o rancor. Essa "justiça da vingança" – o tão conhecido "olho-por-olho e dente-por-dente" – é primitiva e precisa ser superada. Mas como fazer isso?

"Precisa-se entender que a justiça requer razões adequadas para ser justa e não é a raiva ou o rancor que vão prover essas razões. A compaixão surge e a pessoa passa a compreender o ato de outra forma e pode vir a ser capaz de perdoar, desde que se busquem razões a partir de perguntas como: quem é o outro que ofendeu, o que levou ele(a) a cometer a injustiça, como ele(a) vê a situação", complementa Júlio.


A Igreja defende sempre o perdão, mesmo quando esse parece uma atitude tão difícil de se concretizar. "A Igreja é Mãe e Mestra. Assim, fiel ao ensinamento e à prática de Jesus, vai ao encontro de seus filhos, para nutri-los e alimentá-los com a graça do Sacramento da Reconciliação. Como é Mestra, ensina que o perdão é a via da humanização e da santificação", explica Dom Genival.

Perdoar é difícil porque a tendência é prevalecer a autoafirmação, o egoísmo e o individualismo, ao passo que o perdão supõe e exige espiritualidade, maturidade e fraternidade.

Nessa perspectiva, a Bíblia presta-se como um catálogo de bons exemplos para o perdão: Davi é um exemplo vivo de quem pede perdão, como o vemos na oração dos salmos 31 (32) e 50 (51); José, do Egito, é um exemplo tocante de quem concede perdão (cf. Gn 42, 1-24); Jesus é o modelo de perdão, no momento crucial de sua vida, ao pedir ao Pai por seus algozes: 'Pai, perdoa-lhes: não sabem o que fazem' (Lc 23,34); Estevão, o primeiro mártir da Igreja, nos instantes finais de seu apedrejamento, rezou: “Senhor, não leves em conta este pecado” (At 7,60).  Na história da Igreja, são muitos os santos e santas que encarnam o perdão como experiência de comunhão com Deus e com o próximo.

"Esses exemplos muito contribuem para que a busca humilde do perdão e a concessão generosa do perdão tornem-se uma realidade na vida das pessoas e, particularmente, dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo. A cultura do perdão, mais do que prática humana e social, é, antes de tudo, ação da graça de Deus em nossas vidas", ressalta o Bispo de Palmares.


Você só tem a ganhar:

– Perdoar é um processo e pode levar tempo!

– Baixa ansiedade, menor depressão, pressão sanguínea e batimentos cardíacos regulares;

– Quem perdoa: não evita encontrar com seus ofensores; não sente medo ou vergonha por ter sido ofendido; melhora a auto-estima;

– No plano das relações interpessoais, pedir desculpa ou perdão por algo que atingiu a natureza da convivência humana é uma atitude de educação doméstica e educação social;

– Crescimento na maturidade como ser humano;

– Pessoas que perdoam conseguem manter relações sociais mais próximas com maior comprometimento, ou seja, as relações com a família e os amigos permanecem com maior grau de satisfação;

– É preciso paciência. Perdão dado apressadamente faz mal para a pessoa a quem você magoou. Dê tempo para que ela perceba que você a respeita e mantenha atitudes de cuidado, conforme sugere um recente estudo feito pela Northwestern University e que incluiu pesquisadores da University of Tennessee e da University of London.


Perdoar é um processo e pode levar tempo!E o que fazer quando a pessoa deseja perdoar e receber o perdão, mas tem dificuldades nesse sentido? Eis um passo a passo:

– Aceitação da raiva e da vergonha sofridas com a injustiça;

– Comprometer-se a querer resolver a questão pelo perdão, ou considerar que o perdão pode ser uma saída para o conflito;

– Adotar a perspectiva do outro e, com isso, verificar se surge a empatia com essa condição;

– Ver o evento da injustiça pela perspectiva do outro e, assim, começar a trabalhar a possibilidade de perdoar ou de receber o perdão;

– Comprometer-a esperar que a vítima tem o direito de perdoar no seu próprio tempo.

 Dom Genival Saraiva de França, e o doutor em Psicologia, Júlio Rique Netose