Multidões se extasiavam, há poucos dias, diante do espetáculo de luz e
som que marcavam a passagem do ano. Ao brilho da luz que irrompia na
explosão dos fogos, no jogo dos canhões de luz que, dançando, se perdiam
no espaço até se extinguirem. Os corações vibravam numa alegria que
depois se esvaia, perdida no cansaço e na escuridão que se seguia,
agravada pela densidade da fumaça da queima dos fogos.
Os magos
seguiram a estrela. Para todos nós, com certeza nunca faltará uma luz em
nosso caminho para nos guiar para Cristo. Os jovens que para cá virão
no próximo mês de julho, vêm também em busca dessa luz que é Cristo.
Faltam 200 dias para a JMJ Rio 2013. Os passos dados, as preparações
feitas já despertam a curiosidade dos noticiários, e reflexões são
elaboradas para, sob vários olhares, tentarem compreender a Igreja que
vive a sua missão evangelizadora.
Cristo se manifestou como luz para todos os homens! A salvação foi
dirigida também aos “gentios”, que recebem a mesma possibilidade de
encontrar, em Cristo, a salvação. Cristo é a luz verdadeira que deveria
vir a este mundo; Ele ilumina as trevas da humanidade.
A Luz. A humanidade busca a Luz, mas a sobra do pecado, qual nuvem
escura e negra, tenta obstruir este anseio do mais profundo do nosso
coração. E as luzes deste mundo são fugazes, perdem-se como os canhões
de luz que rodopiam na escuridão e, depois, se apagam. Não preenchem o
vazio do íntimo do nosso ser, como escreve Santo Agostinho: “Estáveis
dentre de mim e eu te procurava fora. Inquieto está nosso coração
enquanto não repousa em Vós”.
A Luz verdadeira veio ao mundo, e mesmo aquele povo que tinha sido
preparado pelos seus patriarcas e profetas para acolhê-la, não a
receberam. Apenas os de coração aberto, que a buscavam na sinceridade de
suas vidas, sentiam sua presença, conduzidos pela Estrela. E puseram-se
a caminho.
A fé dava-lhes força para prosseguir a jornada, apesar das
distâncias, da aspereza do caminho. Como a Samaritana junto ao poço de
Jacó, também a eles foi revelado que a salvação viria dos judeus.
Bateram às portas de Jerusalém, que tinha ciência de que a Luz estava
por vir, inclusive, de que surgiria da raiz de Jessé, na pequenina
Belém.
Mas, a ambição e a ânsia do poder ofuscavam-lhes a mente e maquinaram
abafar aquela pequena chama que luzia numa manjedoura. E despediram os
Magos. E eles partiram à luz da Estrela que pousou onde estava o Menino e
sua Mãe, e O adoraram.
A humanidade, hoje, numa cultura globalizada, está confusa e perdida,
como profetizou Isaias: “Um povo que vivia nas trevas...” Precisa que
se lhe aponte uma grande Luz, capaz de dar sentido ao desenvolvimento
técnico que alcançou, mas incapaz de lhe dar a paz.
O apóstolo Paulo, na sua carta aos Efésios, nos fala da misericórdia
de Deus que se abre pela pregação apostólica, no anúncio da manifestação
da salvação para todos os povos. Um povo que vivia nas trevas viu uma
grande Luz. Escrevendo aos Romanos (cap.10), como que lamenta a falta de
arautos a apontar essa Luz a todos os corações: “Como
poderão invocar aquele em que não creram? E, como poderiam crer naquele
que não ouviram? E como poderão ouvir sem pregador?” E conclui, com Isaias: “Quão maravilhosos os pés dos que anunciam boas notícias.”.
Ao olharmos, como Jesus, a Jerusalém, a cidade de hoje, o mundo
contemporâneo, o nosso lamento é desesperador ante a cultura da
degradação moral e da morte. Debatemo-nos, inutilmente, à procura das
causas imediatas e concluímos por soluções contaminadas pela mesma
cultura, como guerras, opressões, prisões e mortes, incapazes de nos dar
a Paz.Como Herodes e sua turma, não nos abrimos ao brilho da Estrela de
Belém.
Não há salvação senãoem Jesus. Aide mim, se não evangelizar, exclama a
Igreja com o apóstolo. O “Ano da Fé”, em seguimento ao Concílio
Vaticano II, nos concita a uma nova evangelização. A não fecharmos em
nós mesmos o dom que recebemos. Não que a mensagem de Cristo tenha
envelhecido. Sua luz é perene e eterna. A nossa pregação é que tem de se
tornar atual, capaz de iluminar, pelo Evangelho, as mentes e corações, a
evolução técnica e social da humanidade, incentivando-a e reconhecendo
seus valores, mas indicando-lhes que os ponteiros deste desenvolvimento
têm de apontar para o Infinito.
Nós, cristãos, não podemos aceitar que o sal da terra se torne
insípido e a luz fique escondida. A nova cidade dos homens somente
encontrará a paz se brilhar sobre ela a Luz. Então veremos a realização
da visão profética de Isaias: ”A luz nasceu para os que habitavam a região da sombra da morte. Multiplicaste o povo e fizeste nascer a alegria”.
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ