Após cinquenta anos da abertura do Concílio ecumênico Vaticano II, a
Igreja considera ainda mais importante o evento e a implicação dos seus textos,
que marcaram profundamente a sua vida e a sua relação com o mundo na transição
para o terceiro milênio.
O beato João XXIII tinha atribuído ao Concílio duas finalidades
principais: atualizar a apresentação da doutrina da Igreja e promover a unidade
dos cristãos, dois objetivos que queriam renovar a relação da Igreja com
o mundo moderno e relançar deste modo a sua missão universal.
Para alcançar estes objetivos, os Padres conciliares deram início a uma
reflexão de fundo sobre a eclesiologia com a esperança de definir melhor a
natureza profunda da Igreja, a sua estrutura essencial, o sentido da sua missão
num mundo em fase de emancipação em relação à sua influência e à tradição.
A eclesiologia de comunhão é o resultado desta reflexão, que se
desenvolveu durante a recepção progressiva dos textos conciliares, com
divergências notáveis, segundo se a interpretação teológica ou pastoral
privilegiasse a reforma na continuidade ou a ruptura com a Tradição. Foi
assim que depois de ter favorecido a «explicação» e a «recepção» do
Concílio, pareceu necessário orientar a sua interpretação, o que o Sínodo de
1985 fez, declarando que «a eclesiologia de comunhão é a ideia
central e fundamental dos documentos do Concílio». Bento XVI contribuiu
em grande medida para esta reflexão, reconhecendo a sua necessidade: «Por
que a recepção do Concílio, por uma grande parte da Igreja, foi realizada até
agora de forma tão difícil? Hora bem, tudo depende da justa interpretação do
Concílio ou – como diríamos hoje – da sua justa hermenêutica, da justa chave de
leitura e de aplicação» (Discurso à Cúria Romana por ocasião da apresentação
dos bons votos de Natal, 22 de Dezembro de 2005). É suficiente recordar a
reforma litúrgica, a colegialidade episcopal, a sinodalidade, o ecumenismo,
para alcançar pontos nevrálgicos bem conhecidos pela eclesiologia de comunhão e
da sua interpretação.
Marc
Ouellet