''Na concepção católica, a caridade é uma forma de
amar a Deus e ao próximo, que supera ao gesto de doação de bens, chegando à
doação de si mesmo''
Desde sua nomeação como Pontífice, o Papa Francisco tem
comovido o mundo com sua simplicidade e seus gestos espontâneos de atenção com
as pessoas, e de maneira especial, com os enfermos e os mais necessitados.
Atitudes que faziam parte de sua vivência desde antes de sua
nomeação como Papa, e que dizem respeito à vivência que todos os cristãos são
chamados a seguir, no exemplo deixado por Cristo.
A caridade tem uma importância relevante para os católicos.
Fato é que Bento XVI, no início de seu pontificado, em 2005, escreveu aos fiéis
sobre ela, na Encíclica "Deus caritas est". No documento, ele afirmou:
"O amor do próximo, radicado no amor de Deus, é um dever antes de mais
para cada um dos fiéis, mas é-o também para a comunidade eclesial inteira. A
Igreja também enquanto comunidade deve praticar o amor".
Conforme registram os dados bíblicos, a caridade está
presente no Cristianismo desde seu início. E na Quaresma, ela é intensificada
como uma prática orientada pela Igreja, unida à oração e ao jejum. Na concepção
católica, a caridade é uma forma de amar a Deus e ao próximo, que supera ao
gesto de doação de bens, chegando à doação de si mesmo.
De acordo com o Arcebispo de Belém (PA) e membro do
Pontifício Conselho Cor Unum, Dom Alberto Taveira Corrêa, a caridade está além
do fazer filantropia. Muitos podem fazê-la, explica o arcebispo, mas a Igreja
quer externar os gestos sociais com espírito de caridade, ou seja, "amar o
próximo com o amor de Deus."
Para o arcebispo, os cristãos são a porção consciente do
Reino de Deus que deve procurar viver o amor de forma especial, visto que Seu
Pastor, Jesus Cristo, foi quem o ensinou. No entanto, com relação à caridade
católica e à caridade exercida por outras religiões, Dom Alberto ressalta não
haver nenhuma divisão ou diferença. Segundo ele, o Espírito Santo é o
inspirador de todo o bem que existe na humanidade.
"Não existe nenhum bem que é feito no mundo sem a ação
do Espírito Santo. Qualquer um que faça o bem, católico ou não católico, tem o
Espírito Santo que o inspira. Há pessoas que vão fazer o bem simplesmente para
desafogar uma necessidade do próprio coração, outras fazem filantropia, outros
fazem serviço social. Nós [Igreja] queremos fazer tudo isso que as pessoas
fazem e muito mais, conduzidos pelo Espírito de Deus. E gostaríamos que todas
as outras pessoas chegassem a essa raiz do bem que realizam.”
No Concílio Vaticano II, realizado entre os anos de 1962 e
1965, a caridade na Igreja ficou ainda mais enraizada. Segundo Dom Alberto, o
Concílio buscou as fontes da própria vida da Igreja, redobrando a preocupação
com o social e a opção preferencial pelos pobres. “Cada época isso se
concretiza segundo a realidade. Hoje, nós temos problemas que são globais,
porém, de uma forma diferente. Nós temos que responder dessa forma”.
Como dito, na Quaresma o exercício da caridade é
intensificado e, neste ano, a Igreja propôs um amor voltado para o cuidado com
os jovens. A temática da Campanha da Fraternidade, vivida especialmente neste
período quaresmal, reflete sobre os jovens e a fraternidade. Dom Alberto
explica que além do gesto concreto da coleta feita pela Igreja no Domingo de
Ramos, a atenção e a abertura devem estar voltadas para a juventude, a fim de
ajudá-la a se sentir acolhida e enviada por Jesus Cristo.
Sobre o Cor Unum
O Pontifício Conselho Cor Unum é responsável por fazer
acontecer a caridade no mundo, em nome do Papa e da Igreja. Sob a presidência
do Cardeal Robert Sarah, o conselho reuni-se uma vez por ano para discutir as
questões que envolvem a concretização do bem no mundo. Ele responde a uma média
de 60 situações de urgência e emergência por ano, como terremotos, guerras,
etc. Ligado a esse conselho, existem várias fundações para o exercício da
caridade.
Uma das funções do Cor Unum é administrar a coleta do óbulo
de São Pedro, realizada durante a memória litúrgica de São Pedro e São Paulo,
data considerada como dia do Papa.
Dom Alberto diz que Bento XVI, enquanto Pontífice, teve um
olhar especial voltado para a caridade no mundo, inclusive para o Brasil.
"Todas as vezes que me encontrei com Bento XVI sempre me impressionaram as
frases curtas e densas. Quando eu disse que era arcebispo de Belém, na
Amazônia, ele olhou para mim e disse: 'Amazônia... Vocês precisam muito da
caridade de Cristo'", recordou o arcebispo.
O Arcebispo de Belém foi nomeado por Bento XVI como membro
do Pontifício Conselhor Cor Unum em 27 de outubro de 2012. À frente da
Arquidiocese de Belém, Dom Alberto está desde 30 de dezembro de 2009.