O sofrimento nos ajuda a escalar
os cumes do amor a Deus. A cruz e o sofrimento nos purificam, pois abrem nosso
olhos para panoramas de vida maiores, mais verdadeiros e belos. O sofrimento
nos ajuda a escalar os cumes do amor a Deus e do amor ao próximo.
São inúmeras as histórias de homens
e mulheres que, sacudidos pelo sofrimento, acordaram, adquiriram uma nova visão
– que antes era impedida pela vaidade, pela cobiça e pelas futilidades – e
perceberam com olhos mais puros: o que vale a pena, de verdade, é Deus que
nunca morre nem trai. Descobriram que n'Ele se encontra o verdadeiro amor pelo
qual todos ansiamos e que nenhuma outra coisa consegue satisfazer. Entenderam
que o importante são os tesouros no céu, pois estes nem a traça rói nem os
ladrões arrebatam (cf. Mt 6,20). Perceberam, enfim, que os outros também
sofrem, por isso decidiram se esquecer de si mesmos e dedicaram-se a aliviá-los
e ajudá-los a bem sofrer.
É uma lição encorajadora verificar
que, na vida de São Paulo, as tribulações se encadeavam umas às outras, sem
parar, mas nunca o abatiam. É que ele não as via como um empecilho, mas como
graça de Deus e garantia de fecundidade, de modo que podia dizer de todo o
coração: "Trazemos sempre em nosso corpo os traços da morte de Jesus, para
que também a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo" (2Cor 4,10). E
ainda: "Sinto alegria nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas
perseguições, no profundo desgosto sofrido por amor de Cristo; porque quando me
sinto fraco, então é que sou forte!" (2Cor 12,10). Até mesmo com
entusiasmo: "Nós nos gloriamos das tribulações, pois sabemos que a
tribulação produz a paciência; a paciência, a virtude comprovada; a virtude
comprovada, a esperança. E a esperança não desilude, porque o amor de Deus foi
derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rom
5,3-5).
É o retrato perfeito da alma que se
agiganta no sofrimento, que se deixa abençoar pela cruz. Outro exemplo muito
significativo. Uma perseguição injusta dos seus próprios confrades arrastou São
João da Cruz a um cárcere imundo. Todos os dias, ele era chicoteado e
insultado. Mal comia. Suportava frios e calores estarrecedores. Para ler um
livro de oração, tinha de erguer-se nas pontas dos pés sobre um banquinho e
apanhar um filete de luz que se filtrava por um buraco do teto. Foi nesses
meses de prisão, num cubículo infecto, que ganhou o perfeito desprendimento,
alcançou um grau indescritível de união com Deus e compôs, inundado de paz, a
'Noite escura da alma' e o 'Cântico espiritual', obras consideradas dois dos
cumes mais altos da mística cristã. E, uma vez acabada a terrível provação,
quando se referia aos seus torturadores, chamava-os, com sincero agradecimento,
“os meus benfeitores”.
As histórias de mulheres e de
homens santos, que se elevaram na dor, poderiam multiplicar-se até o infinito:
mães heroicas, mártires da caridade... Daria para encher uma biblioteca só com
a vida dos mártires do século XX, como São Maximiliano Kolbe, que, na sua cruz
– na injustiça do campo de concentração nazista, nos tormentos, na morte –,
achou e soube dar o amor e a vida com alegria.
Padre Francisco Faus